Os pesquisadores descobriram que os efeitos do envelhecimento relacionados ao calor persistiam independentemente da renda, saúde ...

O calor extremo pode fazer você envelhecer mais rápido do que deveria, alerta um novo estudo

Cientistas investigam como a exposição crônica ao calor acelera o envelhecimento biológico, tal como acontece com quem fuma ou consome álcool em excesso. Mas será que há maneiras de se proteger?

Os pesquisadores descobriram que os efeitos do envelhecimento relacionados ao calor persistiam independentemente da renda, saúde ou hábitos — apontando a temperatura em si como um fator-chave para o declínio celular.

Foto de Bryan Tarnowski, The New York Times, Redux
Por Daryl Austin
Publicado 11 de nov. de 2025, 07:01 BRT

Quem mora em cidades onde as temperaturas costumam ir acima dos 32°C, não está apenas suando por conta do calor: a pessoa provavelmente também está envelhecendo mais rápido do que aquelas que vivem em climas mais frios. Essa é a conclusão de um número crescente de pesquisas que sugerem que a exposição prolongada ao calor intenso pode acelerar o envelhecimento biológico em nível celular, às vezes de maneiras comparáveis ao tabagismo ou ao consumo excessivo de álcool.

“Nosso estudo descobriu que pessoas que vivem em áreas de calor extremo tinham idades biológicas até 14 meses mais avançadas do que aquelas que vivem em regiões muito mais frias”, diz Eun Young Choi, gerontologista da USC Leonard Davis School of Gerontology, em Los Angeles, na Califórnia, e coautora de um dos estudos mais recentes sobre o tema. Ainda mais impressionante é que esse efeito se manteve mesmo levando-se em conta renda, estilo de vida e condições de saúde.

Mas o calor extremo não é apenas uma ameaça à longevidade. Ele também pode prejudicar a qualidade de vidaaumentar o risco de doenças crônicas, pois o corpo se esforça para se manter fresco. 

A exposição frequente ao calor extremo pode envelhecer o corpo quase tanto quanto fumar, mostra uma ...

A exposição frequente ao calor extremo pode envelhecer o corpo quase tanto quanto fumar, mostra uma nova pesquisa — provocando estresse interno que desgasta os órgãos e altera os genes.

Foto de Elliot Ross, Nat Geo Image Collection

“A exposição prolongada ao calor extremo pode afetar vários sistemas orgânicos”, explica Amit Shah, geriatra da Mayo Clinic (organização de saúde sem fins lucrativos dos Estados Unidos que é referência mundial em prática clínica, educação e pesquisa). O sistema cardiovascular, por exemplo, precisa trabalhar mais para desviar o sangue para a pele para liberar calorforçando o coração a bater mais rápido

Já o sistema nervoso, por sua vez, pode ficar superestimulado, provocando sintomas como tonturas, confusão e lapsos de memória. Os rins se esforçam para conservar água, aumentando o risco de desidratação e danos renais. E o sistema imunológico pode inundar o corpo com substâncias químicas inflamatórias, imitando uma resposta infecciosa.

Embora essas reações tenham como objetivo nos proteger em curtos períodos, elas se tornam prejudiciais quando a exposição é constante. “É como ter um motor de carro que está sempre superaquecendo”, diz Adedapo Iluyomade, cardiologista preventivo do Miami Cardiac & Vascular Institute (maior centro de cuidados cardiovasculares e vasculares da Flórida, nos Estados Unidos). “Eventualmente, o estresse constante faz com que as peças se desgastem mais rápido do que deveriam.”

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Como o calor envelhece prematuramente

Mas os danos causados pelo calor não se limitam aos órgãos principais. Os cientistas estão agora descobrindo como as altas temperaturas podem alterar até o funcionamento dos nossos genes. O calor crônico atua como um fator de estresse biológico, provocando inflamação, danos oxidativos e distúrbios hormonais. “Com o tempo, essas respostas repetidas ao estresse térmico podem alterar o comportamento dos seus genes”, diz Iluyomade. “Portanto, em vez de apenas ajudar o corpo a se adaptar conforme necessário, o calor crônico pode desgastar sistemas importantes e acelerar o declínio relacionado à idade.”

Isso acontece, em parte, por meio de um processo conhecido como envelhecimento epigenético — uma forma de envelhecimento interno que pode ultrapassar sua idade cronológica.

O estudo publicado no jornal científico estadunidense “Science Advances”, em 2025, que tem Choi como co-autora, examina como o calor extremo afeta os idosos usando uma ferramenta chamada relógio epigenético, que estima a idade biológica com base na metilação do DNA — “marcas” químicas que regulam a atividade dos genes. 

Essas mudanças epigenéticas podem persistir muito tempo depois que um fator de estresse ambiental, como o calor extremo, tiver terminado”, explica Choi. “Em alguns casos, o corpo ‘lembra’ do estresse de uma forma que não é útil — ou até mesmo prejudicial — mais tarde na vida.”

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    Viver em áreas que estão sendo impactadas por calor extremo pode fazer a pessoa envelhecer mais rápido do que deveria, principalmente se comparado com alguém que habita zonas mais frias do planeta. 

    Foto de Joyce Lee, The New York Times, Redux

    Em outras palavras, “quando seu corpo passa por pequenas doses de estresse, ele geralmente se adapta e desenvolve resiliência”, diz Tochi Iroku-Malize, presidente de medicina familiar e especialista em cuidados paliativos e hospitais da Northwell Health, em Nova York. “Mas com estresse crônico ou extremo, como o causado pela exposição repetida ao calor, essa memória pode se tornar desadaptativa.

    E essa memória epigenética inadequada não é apenas teórica. “Encontramos alterações generalizadas e duradouras na metilação do DNA, particularmente em genes relacionados à inflamação, metabolismofunção imunológica e reparo celular”, diz Choi. “Com o tempo, isso pode atrapalhar a forma como o corpo responde a desafios futuros, como infecções, tensão cardiovascular ou processos normais de envelhecimento.”

    Um estudo publicado na “Environment International” chegou a conclusões semelhantes após analisar o sangue de mais de 900 adultos. “Pessoas expostas a temperaturas médias mais altas ao longo de meses e anos tinham células sanguíneas que pareciam biologicamente mais velhas”, diz Wenli Ni, coautora do estudo e epidemiologista ambiental da Harvard T.H. Chan School of Public Health. “Isso indica aos médicos em áreas mais quentes que eles podem precisar olhar além da insolação e da desidratação, pois viver no calor pode aumentar gradualmente os riscos de problemas relacionados à idade.”

    Ainda assim, permanecem importantes ressalvas. “Embora esses estudos sejam convincentes, eles são observacionais”, observa Iluyomade. “Não podemos provar definitivamente que o calor causa essas mudanças — apenas que há uma forte associação.” Medir a exposição individual também é um desafio, pois pessoas que passam a maior parte do tempo em ambientes com ar condicionado em climas quentes podem enfrentar menos riscos do que aquelas que passam mais tempo ao ar livre em áreas menos quentes. “Também ainda não sabemos com que rapidez esses efeitos adversos se acumulam — ou se podem ser revertidos”, acrescenta Choi.

    Nem todos são igualmente vulneráveis. “Pessoas que vivem em regiões quentes e secas há gerações geralmente desenvolvem adaptações fisiológicas — como transpiração mais eficiente e melhor regulação do fluxo sanguíneo”, diz Choi. Mas mesmo em comunidades bem adaptadas, as taxas de demência e mortes cardiovasculares aumentam durante ondas de calor, sugerindo que a adaptação tem limites.

    “Os cientistas estão agora descobrindo como as altas temperaturas podem alterar até o funcionamento dos nossos genes.”

    É possível evitar o envelhecimento precoce causado pelo calor?

    A boa notícia é que os efeitos nocivos do calor são evitáveis. Embora seja impossível evitar alguma exposição ao calor se você mora em climas especialmente quentes, muitos dos impactos biológicos adversos do calor podem ser reduzidos por meio de estratégias comportamentais e ambientais. “O ar condicionado não é um luxo em climas extremamente quentes, é uma necessidade para a saúde, especialmente para adultos com mais de 50 anos”, diz Iluyomade. “Mesmo resfriar um cômodo pode oferecer proteção significativa.”

    O momento da exposição também é fundamental. “Evite ficar ao ar livre entre 10h e 16h”, aconselha Ni. “Procure sombra, use chapéu e dê ao seu corpo uma pausa do calor intenso ao ar livre.” Manter-se hidratado é igualmente importante. “Quando você sente sede durante a exposição ao calor, já é tarde demais”, alerta Iluyomade.

    Para os mais vulneráveis — idosos, crianças e pessoas com doenças crônicas —, o apoio da comunidade desempenha um papel fundamental. “Os vizinhos ficam de olho nas pessoas vulneráveis e garantem que seus entes queridos tenham os recursos necessários para se protegerem da exposição ao calor”, afirma Amruta Nori-Sarma, vice-diretora do Centro para o Clima, Saúde e Meio Ambiente Global da Faculdade de Medicina de Harvard..”

    O planejamento urbano também é essencial. “Mesmo pequenas mudanças — como adicionar assentos com sombra nos pontos de ônibus ou plantar mais árvores — podem ter um grande impacto”, diz Choi. “Cada pedaço de verde resfria o ambiente e ajuda todos a se manterem mais saudáveis”, concorda Ni.

    Em última análise, não se trata apenas de manter o conforto, mas de proteger a saúde a longo prazo em um mundo em aquecimento. “Embora estejamos aprendendo que o calor pode acelerar silenciosamente o envelhecimento em nível molecular, isso não significa que o resultado seja definitivo”, enfatiza Choi. “Com um planejamento mais inteligente, uma comunidade mais forte e hábitos diários que priorizam o resfriamento e a hidratação, podemos ajudar todos a permanecerem resilientes, mesmo com o aumento contínuo das temperaturas globais.”

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