Bioglitter, copo caução e um bloco da reciclagem – como pular o carnaval sem plástico

É possível deixar um impacto positivo durante a folia – veja como.

Por Paulina Chamorro
Publicado 28 de fev. de 2019, 19:35 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
O glitter tradicional é um microplástico – ele vai direto para os nossos rios e mares. ...
O glitter tradicional é um microplástico – ele vai direto para os nossos rios e mares. Por isso, prefira usar o bioglitter, isento de plástico, como o da foto.
Foto de Ramon Modenesi, National Geographic

Período de Carnaval no Brasil tem uma coisa certa: chuva. E com ela, uma enxurrada de resíduos deixados pelos foliões nas passagens dos carros alegóricos, trios elétricos e bloquinhos.

O Carnaval se espalhou pelas ruas do Brasil trazendo consigo o problema da coleta seletiva nas cidades e da gestão de resíduos. O enorme volume de pessoas nas ruas, consumindo produtos, em sua grande parte com embalagens plásticas, trouxe uma preocupação que vai além do glitter e do canudinho.

Para se ter uma ideia do tamanho do problema, foram recolhidas 950 toneladas de resíduos durante o Carnaval de 2018 de São Paulo, de acordo com a Autoridade Municipal de Limpeza Urbana (Amlurb). Apenas parte do material foi direcionado para centrais de triagem, de acordo com a prefeitura. Mas aqui existe uma outra conta e uma realidade que se mantem em 2019: o lixo varrido das ruas, na sua grande maioria, vai direto para o aterro sanitário. Sem triagem, nem separação. São oportunidades perdidas de contribuir com a destinação correta dos resíduos e de gerar mais renda.

As imagens de ruas pelo Brasil depois da passagem de blocos no pré-Carnaval já demonstram que o desafio é enorme. Em 2018, o Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR) organizou o Bloco da Reciclagem. Com saída na terça-feira de Carnaval e participação de 13 cooperativas e mais de 60 catadores e catadoras, o bloco é uma mistura de protesto, ação de conscientização e mutirão de limpeza.

A contagem do material coletado em 2018 detectou 90% de resíduos recicláveis, ou seja, vidro, metal (alumínio), papelão e plástico, o lixo mais comum, compondo 60% do total.

Este ano, o MNCR está promovendo um crownfunding para cobrir os custos da saída do bloco. Você pode contribuir pelo site.

Bangladesh é aqui

Recentemente, imagens do rio Tietê na cidade de Salto feitas depois de fortes chuvas, chocaram pela força da mensagem: não era um rio da distante Ásia, mas o rio mais emblemático da maior cidade do país tomado por embalagens, na sua maioria, plásticas. Com o aumento das chuvas, o rio vazou e uma camada de resíduos provenientes da capital e de outras cidades invadiu Salto.

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    A relação entre água e resíduos é íntima. Quando não se encaminha corretamente o material, o destino é certo: córregos, rios, mangues e finalmente o mar.

    Responsabilidade de todos

    Se o poder público não dá conta do volume de material que está nas ruas, e os catadores e catadoras ainda não estão totalmente incorporados ao sistema, pelo menos 20 dos 570 blocos programados para sair em São Paulo farão a gestão do próprio lixo.

    A jornalista Cris Naumovs fundou o Bloco do Apego há 3 anos e em 2019 resolveu cuidar também dos resíduos deixados pelos foliões no trajeto. Com ajuda da Casa Causa, uma consultoria de gestão de resíduos, e em parceria com o Pimp My Carroça, um coletivo de catadores, o bloco contará, em todo seu trajeto, com profissionais identificados com camisetas, para que os que acompanham o bloco possam entregar seus resíduos. Os materiais serão coletados, separados e reciclados, gerando assim também renda. 

    “Há 15 anos vejo o carnaval de São Paulo crescendo muito, mas, junto com a alegria, vem um rastro de sujeira que leva semanas pra ser limpo. Latas, garrafas, camisinhas, glitter, tem de tudo. Comecei a me sentir muito incomodada com a minha própria sujeira quando olho de cima do trio elétrico. O poder público tem obrigação? Acho que sim, mas eu também. Então a ideia é incluir todo mundo que vem ao bloco nessa conversa, ela é nossa.”

    Outra iniciativa lixo zero no Carnaval são as festas que adotam o “copo-caução”. Isso mesmo. O sistema, criado na Alemanha há 30 anos, ganhou força em grandes eventos esportivos e se consolidou como uma solução ecológica, inclusive exigida em alguns países europeus para a realização de eventos. Larissa Kroeff criou o Meu Copo Eco há 7 anos usando a mesma lógica: ao participar de uma festa, o consumidor paga um valor que varia de 5 a 10 reais e ganha um copo para usar durante o divertimento. No final, se quiser ficar com o copo e usar em outros ambientes, é só levar. Já se quiser o dinheiro de volta, basta devolver o copo. Neste ano, 200 promotores de festas e blocos pelo país entraram nessa onda. Larissa calculou o potencial resultado da ação: pelo menos um milhão de pessoas Carnaval serão impactadas pela ação do copo reutilizável neste Carnaval, evitando que 1 bilhão de copos plásticos descartáveis sejam utilizados no período. Em um dia comum no Brasil usamos 720 milhões de copos descartáveis. Imagina no Carnaval.

    Se não tiver ações específicas, temos uma simples: leve uma caneca ou copo que possa ser usado durante a folia, amarrado na fantasia ou pendurado com uma corda.

    101 | Plástico
    Da prospecção ao descarte, entenda como o material é produzido a partir de combustíveis fósseis.

    Outras soluções ecológicas também ganharam o país. Depois de polêmicas ano passado sobre o uso do glitter, muitas marcas surgiram utilizando materiais orgânicos, biodegradáveis e com muito brilho, sim! O glitter convencional já nasce como um microplástico. Simples assim. Na hora do banho, ele vai pelo ralo e não passa por nenhum sistema de filtragem, ou seja, cai direto nos rios, mangues e logo depois no oceano. Os peixes não são os únicos afetados pelo microplástico – quase todo o início da cadeia alimentar marinha, como os plânctons, está sujeito ao contato com ele.

    E se existe alternativa, por que continuar poluindo, não é mesmo? Algumas marcas que vendem glitter isento de plástico são a Pura Bioglitter, a Loja Dona Flo e a Brilhow.

    Pequeno mas cruel

    Outro vilão do planeta que, infelizmente, deve marcar presença no carnaval de São Paulo é o canudinho. No entanto, esse pedaço de plástico que tem vida útil menor que 15 minutos está com os dias contados na cidade. A Câmara dos Vereadores de São Paulo trouxe uma boa notícia às vésperas do Carnaval. Na ultima quarta-feira, 27, foi aprovado em primeira votação o projeto de lei que proíbe a distribuição de canudos plásticos na cidade. A pauta recebeu 41 votos a favor e 2 contra. A segunda votação ocorre depois da folia e, se aprovado, o texto segue para sanção ou veto do prefeito Bruno Covas. O Projeto de Lei estabelece a proibição no município no fornecimento de canudos de material plástico em hotéis, restaurantes, bares, padarias, clubes noturnos, salões de danças, eventos musicais entre outros.

    A National Geographic Brasil participou da audiência publica de apresentação do texto do PL, apresentando os dados sobre poluição plástica da edição de junho 2018, a convite  do vereador Reginaldo Tripoli (PV), autor do Projeto de Lei.

    Por último, é sempre bom lembrar: hidrate-se. Mas evite comprar garrafas pet, uma das embalagens mais comuns encontradas nas varrições pós-folia. Uma dica valiosa é levar uma garrafinha de água para complementar a fantasia de Carnaval.

    Muitas das alternativas que listamos ou que estão ressurgindo para a substituição do plástico descartável parecem coisas do tempo da avó. E são mesmo. Voltar às origens e pensar no nosso consumo evitando o descartável, reaproveitando materiais, reutilizando, dando uma sobrevida e usando a criatividade, é mais do que ser “legal” com o meio ambiente. É estar conectado com a realidade do planeta. E para isso não tem época.

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