Como ver a aurora boreal – e por que ela tem aparecido com mais frequência recentemente?
A aurora boreal e a aurora austral nos encantam no céu noturno há séculos. Veja o que as causa e quais são os melhores lugares para observá-las.

A aurora boreal paira sobre a vila piscatória de Reine, no arquipélago de Lofoten, na Noruega. Os melhores locais para observar este espetáculo etéreo são as “zonas aurorais” próximas dos pólos da Terra, mas, por vezes, é possível vê-la mesmo em locais mais ao norte e ao sul.
Não importa quantas vezes você as veja, as luzes do norte, mais conhecidas como aurora boreal — e sua equivalente no Hemisfério Sul, a aurora austral — são uma visão etérea e de tirar o fôlego. Dançando silenciosamente na atmosfera superior da Terra, elas formam camadas iridescentes de luz verde e vermelha (ou às vezes até azul e roxa).
E nos últimos anos visualizar uma aurora tem sido mais comum, com espetáculos nos céus até em vários lugares que comumente não observavam as belas luzes celestes — como ocorreu no último dia 12 de novembro em vários locais do Hemisfério Norte. Isso por conta de ejeções de massa coronal (CMEs) que chegam à Terra; e como resultado, quando suas partículas eletricamente carregadas atingem a atmosfera da Terra.
No entanto, esta não foi a última oportunidade para os observadores nessas áreas verem a aurora boreal nos próximos meses, já que o Sol está no meio de um “máximo solar”, o pico de um ciclo de 11 anos em que a atividade de suas tempestades solares em sua superfície aumenta e diminui.
Comuns nas regiões polares e subpolares, as auroras às vezes podem ser vistas em latitudes mais baixas. Assim, se você mora em latitudes ao Norte ou ao Sul mas não tão próximo aos extremos está tendo a impressão de estar conseguindo ver auroras com muito mais frequência do que o normal, bem, você está certo. Descubra, a seguir, o motivo.
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O que são auroras, conhecidas também como luzes do norte e luzes do sul?
O astrônomo italiano Galileu Galilei cunhou o termo aurora em 1619, em homenagem à deusa romana do amanhecer, acreditando erroneamente que se tratava do reflexo da luz solar na atmosfera.
Na verdade, tanto a aurora boreal quanto a aurora austral são causadas pela interação dos gases da atmosfera terrestre com o vento solar: um fluxo de partículas eletricamente carregadas, chamadas íons, que são ejetadas do Sol em todas as direções.
Quando o vento solar atinge a Terra, ele colide com o campo magnético do planeta, produzindo correntes de partículas carregadas que fluem em direção aos pólos. Alguns dos íons ficam presos em uma camada da atmosfera chamada ionosfera, onde colidem com átomos de gás — principalmente oxigênio e nitrogênio — e os “excitam” com energia extra. Essa energia é então liberada na forma de partículas de luz, ou fótons.
Por que as auroras têm cores diferentes?
As cores de uma aurora indicam em que parte da atmosfera e com quais gases tudo isso está acontecendo.Por exemplo, um átomo de oxigênio excitado leva quase dois minutos para emitir um fóton vermelho e, se um átomo colidir com outro durante esse tempo, o processo pode ser interrompido ou encerrado.
Portanto, quando vemos auroras vermelhas, elas provavelmente estão nos níveis mais altos da ionosfera, a aproximadamente 240 quilômetros de altitude, onde há menos átomos de oxigênio para interferir uns nos outros.

A aurora boreal ilumina o céu noturno atrás do icônico vulcão Kirkjufell, na Islândia. As auroras são causadas quando partículas carregadas do sol colidem com gases na atmosfera da Terra. A cor indica a camada da atmosfera terrestre onde essas interações estão ocorrendo.
Em contrapartida, os fótons verdes são descarregados em menos de um segundo, por isso são mais comuns em partes moderadamente densas da atmosfera, que ficam entre 100 e 240 Kms acima da superfície da Terra.
Na atmosfera inferior muito densa, a menos de 100 Km acima da superfície do planeta, vemos uma mistura roxa de luzes vermelhas e azuis — as cores características do nitrogênio molecular.
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Onde é possível ver auroras?
As auroras foram observadas em todos os planetas do Sistema Solar, exceto Mercúrio — mesmo em Vênus e Marte, onde o campo magnético é muito fraco ou inexistente. Elas foram detectadas até mesmo em um enorme “planeta errante” a 20 anos-luz de distância. E os astronautas tiraram fotos e gravaram vídeos espetaculares das auroras da Terra a partir da Estação Espacial Internacional.
Para os mais ligados à Terra, os melhores lugares para ver auroras são na “zona auroral”, entre cerca de 60 e 75 graus de latitude, tanto ao Norte quanto ao Sul. É ainda mais provável que você veja uma aurora se estiver em uma faixa menor da Terra, entre 65 e 70 graus de latitude. A faixa mais ampla inclui locais como Anchorage, no Alasca (Estados Unidos) e Yellowknife, no Canadá, enquanto a zona menor inclui Fairbanks, no Alasca, e Tromso, na Noruega.
Você também precisa de um lugar onde o céu esteja escuro e claro, longe da poluição luminosa. No Hemisfério Sul, isso geralmente significa a Antártida, a Tasmânia ou o sul da Nova Zelândia no outono ou inverno. Ao norte do Equador, inclui locais como as áreas ao redor de Fairbanks, no Alasca; Churchill, em Manitoba; e a região da Lapônia, no norte da Suécia e Finlândia, entre muitos outros.
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Quando ocorrem as auroras? Elas estão acontecendo com mais frequência?
Uma boa maneira de prever uma noite com auroras intensas é contar 27 dias a partir da mais recente; as auroras estão fortemente associadas à atividade das manchas e tempestades solares e, como o Sol leva 27 dias para girar em seu eixo, esse é o tempo que leva para uma mancha solar produtora de auroras aparecer novamente.
Alguns anos têm mais auroras do que outros. A atividade das manchas solares flutua em um ciclo de 11 anos; a tendência ascendente mais recente começou em 2019 e está atingindo seu pico este ano.

Uma barraca é montada sob a aurora boreal em Gates of the Arctic, o parque nacional mais setentrional dos Estados Unidos. Esta é uma região no Alasca que está entre os melhores lugares do mundo para observar auroras.
A maior atividade das manchas solares também é a razão pela qual, às vezes, há auroras em partes do mundo onde elas raramente são vistas. Esse aumento na atividade cria uma maior probabilidade de grandes tempestades solares, que podem lançar radiação eletromagnética e partículas em direção à Terra; quando atingem nossa atmosfera, elas a inundam com tantas partículas que a zona auroral se expande muito além de seus limites habituais.
Esse efeito foi observado mais recentemente no início de 2023, quando tempestades solares resultaram em auroras visíveis em locais tão ao sul quanto o Arizona e a Inglaterra. Além de causar espetáculos deslumbrantes, porém, essas tempestades solares também podem afetar redes elétricas e sistemas de GPS.
Mesmo os ciclos de manchas solares mais ativos, no entanto, terão dificuldade em igualar a maior tempestade solar já registrada. Em 1º de setembro de 1859, os astrônomos observavam um número crescente de manchas solares se desenvolvendo na superfície do nosso astro quando uma erupção solar se dirigiu em alta velocidade em direção à Terra, criando auroras brilhantes que puderam ser vistas desde Cuba, no sul, até Santiago, no Chile, no norte.
Como nunca tinham visto isso antes, alguns observadores da época acreditavam que as luzes brilhantes prenunciavam o fim do mundo, ou que “parecia que havia um incêndio colossal na Terra que refletia suas chamas nos céus”.