As 4 mulheres que mudaram a história do futebol feminino

O futebol feminino nem sempre foi bem visto socialmente e chegou a ser proibido em alguns países. Mas essas mulheres ajudaram a marcar um antes e um depois na história do esporte.

Marta, atacante brasileira da seleção brasileira, é a mulher mais premiada no esporte de todos os tempos. 

Foto de FERNANDO FRAZÃO Agência Brasil
Por Redação National Geographic Brasil
Publicado 21 de fev. de 2024, 09:00 BRT

O futebol feminino tem uma longa história, mas seu crescimento e visibilidade mais notáveis ocorreram nos últimos anos. Na verdade, apenas nove Copas do Mundo femininas oficiais foram disputadas até 2023 – uma grande diferença em comparação com as 22 Copas do Mundo masculinas já disputadas, de acordo com o site oficial da FIFA (Fédération Internationale de Football Association).

Mas esse cenário envolvendo o futebol feminino foi mudando graças ao trabalho de diversas atletas mundo afora. Entre todas elas, quatro mulheres se destacam por terem deixado sua marca no esporte, seja no passado ou ainda agora, no presente, enquanto o esporte se fortalece para elas. 

1. Nettie Honeyball, a fundadora do primeiro time de futebol feminino

primeira partida oficial de futebol feminino foi disputada em 23 de março de 1895 em Londres, na Inglaterra. O jogo, praticamente inédito, como conta a FIFA, atraiu uma multidão de cerca de 10 mil espectadores e foi disputado entre as equipes do norte e do sul do país.

Uma figura de destaque no evento foi Nettie Honeyball, a capitã do Norte, o time vencedor daquela partida. Além de jogadora, ela foi a fundadora do British Ladies Football Club, a entidade organizadora da partida e o primeiro clube de futebol feminino conhecido.

Embora Nettie Honeyball seja o nome pelo qual ela se tornou popular, ele não era sua identidade verdadeira. Na verdade, seu nome real é desconhecido; suspeita-se que Nettie era, na verdade, Mary Hutson. Como ela usava um pseudônimo para jogar futebol, não se sabe mais nada sobre ela ou sobre o que aconteceu depois de 1895, reconhece o Museu Nacional do Futebol da Inglaterra.

No entanto, continua o órgão inglês, Nettie é historicamente reconhecida por seu importante legado, pois ela e o time que fundou continuaram a jogar mesmo quando vaiadas e vistas como uma “mera” novidade.

"A existência de Nettie criou uma oportunidade para que as mulheres que gostassem de assistir ao futebol também pudessem jogar, além de ter provocado conversas sobre o movimento pelos Direitos das mulheres", diz o Museu Nacional do Futebol da Inglaterra.

Além de Nettie, outras jogadoras da partida naquela época e que entraram para a história foram Daisy Allen, uma adolescente com idade entre 11 e 14 anos; Lady Florence Dixie, presidente do clube; e Helen Graham Matthews, uma sufragista que jogou no gol e mais tarde foi capitã de seu próprio time, diz o The National Archives, um departamento não-ministerial e o arquivo oficial do governo do Reino Unido.

Cada vez mais meninas estão se tornando ativas no futebol, desafiando os estereótipos de gênero e contribuindo para o crescimento e o desenvolvimento do esporte.

Foto de Stéphanie Sinclair

2. Lily Parr, um dos primeiros ícones dos campos femininos

Lilian Parr (1905-1978), mais conhecida como Lily Parr, é outra jogadora de futebol inglesa de destaque na história do esporte. Conforme relatado no livro “Yo también quiero jugar a la pelota” (“Eu também quero jogar bola”, em tradução livre), de Mayca Jiménez, publicado em 2022, ela é considerada pela maioria dos historiadores como o primeiro grande ícone do esporte no âmbito feminino.

Parr era conhecida por sua grande força física, como Jiménez destaca em seu livro. Ela começou a jogar pelo Saint Helens Ladies aos 14 anos de idade e seu talento foi reconhecido pela mídia na época, de acordo com o museu inglês.

A carreira no futebol se desenvolveu entre 1919 e 1951, apesar de a Associação Inglesa de Futebol ter proibido o futebol feminino na Inglaterra em 1921 (e não ter suspendido completamente a medida até 1971), acrescenta o livro. As fontes concordam que a esportista marcou cerca de 1 mil gols durante sua carreira.

Seu desempenho como jogadora de futebol e seu questionamento dos estereótipos sobre o papel da mulher na sociedade inspiraram muitas outras esportistas. Em 2002, ela se tornou a primeira mulher a ser introduzida no Hall da Fama do Museu Nacional do Futebol da Inglaterra.

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    Foto de FIFA Museum

    3. Megan Rapinoe, uma craque atual que também é ativista  

    Essa jogadora é atualmente uma das principais figuras do futebol feminino mundial. Nascida em 1985 na Califórnia, Estados Unidos, Rapinoe começou a jogar futebol ainda jovem e aprimorou suas habilidades durante a adolescência, como observa a Encyclopedia Britannica.

    Na faculdade (onde estudou sociologia), ela continuou a jogar e entrou para o time da faculdade, tornando-se uma das maiores artilheiras do futebol universitário feminino em seu país.

    Como membro da Seleção Feminina de Futebol dos Estados Unidos, ela jogou em quatro Copas do Mundo (2011, 2015, 2019 e 2023) e ganhou duas (no Canadá, em 2015, e na França, em 2019), além de ter também uma medalha de ouro conquistada nos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012,  e uma medalha de bronze vinda  dos Jogos de Tóquio de 2020.

    Rapinoe fez três aparições no Campeonato Mundial da CONCACAF de 2022, ajudando os Estados Unidos a se classificarem para a Copa do Mundo Feminina da FIFA de 2023 e para os Jogos Olímpicos de Verão de 2024.

    Em 2019, a norte-americana já considerada uma lenda do futebol recebeu a Bola de Ouro e a Chuteira de Ouro na Copa do Mundo daquele ano, bem como foi nomeada Jogadora do Ano da FIFA em 2019. Além disso, em 2022, ela recebeu a Medalha Presidencial da Liberdade, a maior honraria civil de seu país.

    Além de seu desempenho como atleta, Rapinoe é uma ativista social dos direitos LGBTQ+ e da igualdade de gênero. Durante seu discurso como vencedora da Copa do Mundo de 2019, a americana disse: "É nossa responsabilidade tornar o mundo um lugar melhor. Praticamos esporte, somos jogadores de futebol, mas somos mais do que tudo isso".

    4. Marta Vieira da Silva, a maior artilheira de todas as Copas e “rainha do futebol”

    Marta Vieira da Silva, ou simplesmente Marta, a “rainha do futebol”, nasceu em 1986, em Dois Riachos, um município localizado no estado de Alagoas, no nordeste do Brasil. De acordo com a ONU Mulheres, ela começou a jogar futebol ainda criança, correndo descalça pelas ruas atrás da bola e, muitas vezes, sendo rejeitada pelos meninos que conseguia ultrapassar nas partidas.

    Apesar desses preconceitos, Marta se tornou  um ícone mundial e uma atleta vencedora de vários prêmios. De fato, ela é reconhecida como uma das jogadoras mais talentosas da história do futebol feminino não só na América do Sul como no mundo, de acordo com a FIFA.

    Como membro da seleção de seu país, nas seis edições da Copa do Mundo Feminina que disputou, Marta marcou 17 gols em 23 partidas e é a maior artilheira da história dos torneios masculino e feminino. Entre os jogadores que ainda estão em atividade, os que mais se aproximam dessa marca são o argentino Lionel Messi (com 13 gols) e o francês Kylian Mbappe (com 12), de acordo com dados da FIFA.

    A "rainha", como é popularmente conhecida, foi eleita a melhor jogadora da FIFA seis vezes (em 2006, 2007, 2008, 2009, 2010 e 2018). Durante a cerimônia de premiação de 2023, as autoridades da federação internacional anunciaram que, a partir de agora, a brasileira será lembrada para sempre com o Prêmio FIFA Marta, que é concedido anualmente ao gol mais espetacular da temporada de futebol feminino.

    Conforme informado pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Marta se despediu da Copa do Mundo em 2023. No entanto, ela continua a brilhar nos gramados do Orlando Pride, nos Estados Unidos, e está pronta para competir nos Jogos Olímpicos de 2024, em Paris.

    A jogadora de futebol Marta (Marta Vieira da Silva), seis vezes eleita Jogadora do Ano da Copa do Mundo Feminina da FIFA, é a primeira mulher a entrar para o Hall da Fama no estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, Brasil.

    Foto de Fernando Frazão Agência Brasil

    Durante muitos anos, Marta foi a dona camisa 10 da seleção brasileira (número destinado aos craques dos times), e é uma inspiração para milhares de mulheres e meninas em todo o mundo que esperam seguir uma carreira no esporte. Além de seu papel como jogadora de futebol, ela é embaixadora da ONU Mulheres e está ativamente envolvida em projetos voltados para várias questões sociais.

    "A possibilidade de não ver Marta ganhar uma Copa do Mundo ou um título olímpico com a seleção brasileira talvez beira à injustiça, mas isso seria um mero detalhe comparado ao enorme impacto que ela teve nas últimas décadas e a influência que continua a projetar no futebol", reconhece a FIFA sobre a atleta.

    Embora existam registros antigos de mulheres futebolistas, a realidade é que o mundo do esporte muitas vezes fechou as portas para elas. De fato, alguns países restringiram suas oportunidades de jogar. No Brasil e no Paraguai, por exemplo, o futebol chegou a ser proibido por lei para as mulheres, de acordo com um documento de 2022 da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol). 

    No entanto, cada vez mais mulheres estão calçando suas chuteiras e demonstrando seu talento para o mundo. Marta, por exemplo, vê a situação da seguinte forma: "Se falarmos de 20 anos atrás, na época em que comecei a praticar esse esporte tão querido, ele era baseado no mundo masculino. Isso porque as pessoas achavam que era um esporte para homens", disse ele em um artigo da FIFA em janeiro de 2024.

    "Com o passar do tempo, conseguimos mudar a perspectiva e acho que muito disso se deve às ações tomadas, ao investimento no futebol feminino e ao terreno que ele ganhou. Portanto, é um exemplo a ser seguido, para que possamos tentar chegar a um ponto em que estejamos realmente próximos de alcançar a igualdade social", concluiu a brasileira.

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