Com mais de 90 anos, Jane Goodall continua trabalhando e dando palestras informativas. Na foto, um ...

A história de Jane Goodall, a mulher que se tornou pioneira no estudo dos chimpanzés

No mês dedicado ao Dia Internacional da Mulher, acompanhe a trajetória da britânica que moldou para sempre a compreensão dos primatas com suas observações – e se tornou uma das mais reconhecidas etólogas.

Com mais de 90 anos, Jane Goodall continua trabalhando e dando palestras informativas. Na foto, um retrato da naturalista tirado no estúdio fotográfico da National Geographic Society em Washington, EUA.

Foto de Mark Thiessen
Por Redação National Geographic Brasil
Publicado 6 de mar. de 2024, 15:58 BRT

Uma mulher que desafiou as probabilidades, mudou a forma como a ciência é feita e continua a deixar uma marca positiva no planeta. Essa é Jane Goodall, etóloga e ativista britânica conhecida por ser pioneira no estudo dos chimpanzés e que completa 90 anos de idade no próximo dia 3 de abril. 

No mês dedicado ao Dia Internacional da Mulher, nada melhor do que conhecer a trajetória desta exploradora incansável da natureza

Quem é Jane Goodall?

Valerie Jane Morris-Goodall é uma etóloga e ativista de renome mundial, conhecida principalmente por sua pesquisa com chimpanzés, fundadora do Jane Goodall Institute (JGI) e Mensageira da Paz das Nações Unidas, de acordo com uma biografia publicada pelo instituto que leva seu nome.

Ela é mais conhecida por seus estudos inovadores sobre chimpanzés selvagens no Parque Nacional Gombe Stream, na Tanzânia, que mudaram a forma como pensamos sobre esses animais.

O amor de Jane Goodall pelos animais vêm desde a infância

Jane Goodall nasceu em 3 de abril de 1934 em Londres, Inglaterra, filha de Mortimer Herbert Morris Goodall e Margaret Myfanwe Joseph (carinhosamente conhecida como Vanne). Quando criança, Jane já demonstrava interesse pela natureza e pelos animais, e sua curiosidade a levou a aprender mais sobre eles.

Como observa sua biografia oficial online, seu bicho de pelúcia favorito era um chimpanzé chamado Jubilee, dado a ela por seu pai. Além de passar tempo na natureza, quando criança Jane também gostava de ler histórias como “Tarzan” e “The Tale of Doctor Dolittle”, ambas relacionadas ao mundo natural.

Sobre esse período de vida, a ativista costuma lembrar uma anedota que ilustra seu interesse: quando era criança, sua mãe a encontrou na cama mexendo em um punhado de minhocas na tentativa de entender como elas se moviam apesar de não terem pernas. Longe de repreendê-la, Vanne explicou à filha que os pequenos invertebrados precisavam viver no solo e chamou isso de "o primeiro programa de pesquisa animal de Jane". 

Suas habilidades exploratórias e de leitura inspiraram um desejo de ir à África para viver entre animais selvagens, conta o site oficial da exploradora.

Jane Goodall se diferenciou dos pesquisadores da época. Como mostra esta fotografia, em que um chimpanzé ...
Jane Goodall, com binóculos na mão, sobe em uma árvore para ver melhor os chimpanzés no ...
À esquerda: No alto:

Jane Goodall se diferenciou dos pesquisadores da época. Como mostra esta fotografia, em que um chimpanzé selvagem aceita algumas bananas, ela conviveu de perto com esses primatas, o que lhe permitiu entender melhor sua natureza.

À direita: Acima:

Jane Goodall, com binóculos na mão, sobe em uma árvore para ver melhor os chimpanzés no Parque Nacional Gombe Stream, na Tanzânia.

fotos de Hugo Van Lawick

Como Jane Goodall passou a estudar os chimpanzés

Quando se tornou adulta, Goodall não foi para a universidade, observa um artigo de National Geographic. Em vez disso, ela se matriculou em uma escola de secretariado durante a Segunda Guerra Mundial e se formou em 1952.

No entanto, seu desejo de viver na África persistiu. Ela trabalhou como garçonete e secretária e, com o dinheiro que juntou, conseguiu comprar uma passagem para o Quêniaem 1957, para a fazenda da família de um colega de classe que a havia convidado para conhecer o local.

Uma vez no Quênia, Goodall conheceu Louis Leakey, um paleoantropólogo que estava procurando alguém para estudar os chimpanzés. O objetivo era entender melhor esses primatas e obter informações sobre o passado evolutivo dos seres humanos.

O cientista percebeu a curiosidade da britânica e convidou Jane para a aventura. Nessa época, ela foi acompanhada pela mãe na expedição e as duas mulheres chegaram à reserva do Parque Nacional do Gombe, na Tanzâniaem 14 de julho de 1960, equipadas com uma barraca militar usada e alguns pratos e copos de lata, relembra a National Geographic.

O que Jane Goodall descobriu sobre os sobre chimpanzés

Durante seu tempo na selva, Goodall passou meses tentando se aproximar dos chimpanzés para ganhar a confiança deles e, ao mesmo tempo, ia anotando o que via. A espera valeu a pena, pois aos poucos os animais foram se confiando em sua presença, o que possibilitou que Jane documentasse  verdadeiras descobertas. Ela deu nome aos indivíduos do grupo que estava estudando, detectou suas personalidades, e registrou como funcionavam seu raciocínio, emoções e vínculos de longo prazo .

Em 1960, ela testemunhou a capacidade de um chimpanzé – a quem deu o nome de David Greybeard – de usar talos de grama para fazer ferramentaspescar cupins de seus ninhos. A observação foi revolucionária para a época, pois até então se considerava que aquilo que distinguia os seres humanos diferenciando-os de outras espécies era sua capacidade de criar ferramentas.

Jane também observou que esses animais "podem ser compassivos e altruístas”, descreve a biografia publicada pelo JGI. Coube a ela retratar que os chimpanzés também caçam e comem carne (embora isso represente menos de 3% de sua dieta), participam de guerras e mantêm laços duradouros com os membros da família (todas as espécies têm fortes laços entre mãe e filho), conta o site da etnóloga sobre seu trabalho.

O primeiro artigo de Jane Goodall foi publicado em 1963 e apareceu na capa da National Geographic de dezembro de 1965.

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    Capa da revista National Geographic de 1965 mostrando Jane Goodall e seus chimpanzés.

    Capa da revista National Geographic de 1965 mostrando Jane Goodall e seus chimpanzés.

    Foto de NGS LABS

    Com seu trabalho, Goodall se tornou uma das biólogas de campo mais importantes da Terra em poucos meses. Como resultado, Leakey a incentivou a participar do programa de doutorado em etologia de Cambridge. Foi assim que a pesquisadora se tornou a oitava pessoa na história da universidade a entrar em um programa de doutorado sem diploma, observa o artigo da National Geographic. Ela obteve seu doutorado em etologia em 1966.

    Jane Goodall em pé perto de uma grande árvore durante uma chuva em Goualougo, Congo.

    Jane Goodall em pé perto de uma grande árvore durante uma chuva em Goualougo, Congo.

    Foto de Michael Nichols

    Jane Goodall se tornou uma protetora dos grandes primatas

    A cientista fez experimentos e aprendeu muito sobre os chimpanzés na África. Mas seu interesse só aumentou com o tempo e ela se tornou uma porta-voz sobre o tema no mundo todo.

    Em 1965, fundou o Gombe Stream Research Centre, um local de treinamento para estudantes interessados em estudar primatas, ecologia e muito mais, conforme consta em sua biografia.

    Em 1977, ela também criou o Jane Goodall Institute, uma agência que promove a compreensão e a proteção dos grandes primatas e de seus habitats. Seu programa global, Roots & Shoots, tem apoiado dezenas de milhares de jovens em quase 100 países desde 1991 por meio de projetos que ajudam as pessoas, os animais e o meio ambiente, de acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas).

    Na década de 1980, ela participou do primeiro simpósio “Chimpanzees in Context”, onde observou a taxa acelerada de desmatamento e o declínio das populações de chimpanzés para além da reserva de Gombe. Isso a levou a deixar o lugar para atuar salvando chimpanzés da extinção em outras partes do mundo. Hoje, ela continua esse trabalho por meio de santuários, locais de pesquisa em Uganda e o local do JGI no Senegal.

    A Mensageira da Paz da ONU, Jane Goodall, discursa em um evento especial intitulado Student Observance ...

    A Mensageira da Paz da ONU, Jane Goodall, discursa em um evento especial intitulado Student Observance for the 2016 International Day of Peace (Observação estudantil do Dia Internacional da Paz de 2016) com seu famoso animal de pelúcia Jubilee.

    Foto de AMANDA VOISARD UN PHOTO

    Perto dos 90 anos, como a etóloga trabalha atualmente?

    De acordo com o JGI, até 2020 (antes da pandemia da Covid-19), Goodall viajava uma média de 300 dias por ano. Recentemente, o instituto lançou a ação Virtual Jane, que permite que a etóloga se conecte com pessoas de todo o mundo por meio de palestras remotas, gravações e até mesmo um podcast próprio.

    Com seu renome mundial, Jane também escreveu vários livros, entre eles estão “In the Shadow of Man” (1971), “Through a Window” (1990) e “The Book of Hope: A Survival Guide for Trying Times” (2021). Muitos podem ser encontrados em português e em edições brasileiras. 

    A  versão ativista (e premiada) de Jane Goodall  

    Além dos livros e da vasta carreira científica, Jane é reconhecida como um ícone global. Ela recebeu inúmeras honrarias, incluindo a Medalha da Tanzânia, a Medalha Hubbard da National Geographic Society, a Medalha do 60º Aniversário da Unesco e o Prêmio Gandhi/King de Não Violência. Em abril de 2002, foi nomeada Mensageira da Paz das Nações Unidas e, em 2004, foi investida como Dama do Império Britânico.

    Conforme relata sua biografia, sua incansável defesa de um futuro melhor para as pessoasos animais e o planeta que compartilhamos inspira em todo o mundo com sua mensagem de esperança por meio da ação. "Cada indivíduo tem um papel a desempenhar. Cada indivíduo faz a diferença”, diz a bióloga sobre seu trabalho.

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