Na foto, uma imagem da exposição "Ecoa Malês" que foi realizada em 2025 na Casa de ...

Revolta dos Malês: descubra como foi a maior rebelião escrava do Brasil

Ocorrida há 190 anos, a Revolta dos Malês foi um importante levante urbano contra a escravidão que aconteceu na Bahia.

Na foto, uma imagem da exposição "Ecoa Malês" que foi realizada em 2025 na Casa de Histórias de Salvador, na Bahia, em homenagem à memória da Revolta dos Malês.

Foto de Divulgação
Por Redação National Geographic Brasil
Publicado 2 de out. de 2025, 15:45 BRT

Na madrugada de 25 de janeiro de 1835 – um domingo – aconteceu em Salvador, na Bahiauma rebelião realizada por cerca de 600 negros escravizados africanos que ficou conhecida como “Revolta dos Malês”. A revolta foi um marco de resistência e busca por liberdade por parte da população escravizada, como informa um artigo da Agência Brasil – órgão federal de comunicação pública. 

O levante foi muito importante pois se configou na maior rebelião de escravizados urbanos que ocorreu no país ainda no auge da escravidão, entrando para a história brasileira. Até hoje, o evento é lembrado por meio de livrosexposições e, agora, também por um filme. “Malês”, dirigido pelo cineasta e ator Antônio Pitanga, leva essa luta dos escravizados para as telas de cinema. 

Aproveitando o lançamento do longa-metragem, National Geographic apresenta como foi a Revolta dos Malêsem que contexto se deu o grande levante baiano contra a escravidão que celebra 190 anos em 2025.


historiador baiano João José Reis – um dos maiores pesquisadores sobre a escravidão no Brasil ao longo do século 19 – conta em seu livro “Rebelião Escrava no Brasil: a História do Levante dos Malês (1835)” exatamente como se deu a revoltaquais eram os objetivos dos escravizados e suas consequências .

O livro "Rebelião Escrava no Brasil" do historiador João José Reis, que traz os detalhes da ...

O livro "Rebelião Escrava no Brasil" do historiador João José Reis, que traz os detalhes da Revolta dos Malês.

Foto de Divulgação

movimento de 1835 ficou conhecido como Revolta dos Malês, porque “malês” era o nome dado aos negros africanos de origem mulçumana, sendo eles os organizadores o levante

A revolta que teve ainda a presença de outros grupos de escravizados, em menor escala, explica o historiador em um artigo no site da prefeitura de Salvador. A expressão malê vem da palavra “imalê”, que na língua iorubá significa muçulmano. Portanto, os malês eram os negros muçulmanos de língua iorubá, conhecidos popularmente como “nagôs” na Bahia. 

Revolta dos Malês envolveu cerca de 600 homens que tinham planejado um levante para acontecer nas primeiras horas da manhã do dia 25, mas foram denunciadosUma patrulha chegou à casa na ladeira da Praça, onde o grupo de rebeldes estava reunido e uma batalha aconteceu ali, com os rebeldes (vestidos com trajes típicos mulçumanos) se dirigindo posteriormente à câmara municipal da cidade, no mesmo local onde ela funciona até hoje. 

câmara foi atacada pelo grupo porque no subsolo existia uma prisão onde estava um dos principais líderes malês, um homem idoso conhecido como Pacifico Licutan. Como é contado no livro de Reis, o ataque à prisão não foi bem sucedido

A partir deste ato, os rebeldes saíram pelas ruas de Salvador aos gritos, tentando chamar os demais escravos da cidade para se unirem a eles na revolta, indica o livro.

Outros escravizados até se uniram ao levante nas imediações da praça do Campo Grande; eles, então, atravessaram em frente ao Forte de São Pedro sob fogo cerrado dos soldados e daí retornaram para o centro da cidade. “Lá, eles atacaram um posto policial ao lado do Mosteiro de São Bento. Em seguida desceram o Pelourinho e foram dar na Cidade Baixa”, conta o historiador. 

A revolta deixou a cidade de Salvador em polvorosa durante algumas horas, tendo sido vencida com a morte de mais de 70 rebeldes e cerca de dez oponentes. Vencidos, os demais africanos que participaram da rebelião foram condenados a penas de açoiteprisão e até morte.

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    Foto de André Lima Olivieri, Sua Foto

    Os objetivos e as consequências da Revolta dos Malês


    Chamada também de “Grande Insurreição”, o episódio é parte de diversas revoltas que ocorreram na Bahia entre 1807 e 1844, sendo a dos Malês a mais importante delas, segundo relata o historiador e sociólogo Clóvis Moura em um artigo da Agência Brasil sobre o tema.

    De acordo com Clóvis Moura, “a revolta de 1835 não foi uma eclosão violenta e desorganizada, surgida por um incidente qualquer. Eles eram um grupo alfabetizado e organizado. Até mesmo um fundo com recursos foi criado para financiar as atividades dos escravizados rebeldes”, afirma. Em seu livro “Os Quilombos e a Revolução Negra”, Moura explica que o plano dos malês era, após a rebelião em Salvador, seguir para os engenhos de açúcar, onde estava o epicentro da escravidão na Bahia.

     A intenção dos rebeldes, conforme Reis, não era só lutar pela liberdade da escravidão e o fim das punições físicas a que eles eram submetidos, como o açoitamento – mas também pleiteava que pudessem manifestar livremente sua religião e cultura no país. 

    Uma das consequências diretas logo após a Revolta dos Malês foi a maior repressão aos movimentos negrosO medo de que um novo levante pudesse acontecer se instalou durante muitos anos em Salvador. Um medo que se difundiu pelas demais províncias do Império, principalmente na capital, o Rio de Janeiro, onde os jornais publicaram notícias sobre a revolta na Bahia. 

    A partir de então, as autoridades submeteram os escravizados a uma maior vigilância e a uma repressão abusiva.

    Acima, uma ilustração que representa a Revolta dos Malês, ocorrida em Salvador, na Bahia, em 1835.

    Acima, uma ilustração que representa a Revolta dos Malês, ocorrida em Salvador, na Bahia, em 1835.

    Foto de Agência Brasil

    O legado da Revolta dos Malês para a sociedade brasileira


    Até hoje a Revolta dos Malês é um grande símbolo de luta e resistência para o povo negro. Ela ecoa nos dias atuais ao ser resgatada por estudos, livros, filmes, blocos de carnaval e obras de arte. Em 1979, a revolta deu nome ao bloco afro Malê Debalê, em Itapuã, Salvador, que homenageia os que lutaram contra a escravidão em 1835.

    Considerado um clássico da literatura brasileira do século 21, o livro “Um Defeito de Cor”, de Ana Maria Gonçalves (que se tornou a primeira mulher negra a integrarAcademia Brasileira de Letras), conta a história da personagem Kehinde, trazida sequestrada à Bahia no século 19, e que tem como pano de fundo fatos históricos ligados à Revolta dos Malês. Kehinde, rebatizada Luísa Mahinparticipou da revolta e foi mãe do líder abolicionista Luiz Gama.

    Já em 2025, aconteceu em Salvador uma grande exposição chamada “Eco Malês”, que reuniu obras de 48 artistas os quais refletiram as influências contemporâneas da Revolta dos Malês, segundo a Agência Brasil. E agora em outubro deste ano, chega aos cinemas o filme “Malês”, que conta a história do importante levante de 1835.

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