Conheça belezas naturais da província argentina de Misiones, que divide as Cataratas do Iguaçu com o Brasil

No Dia Mundial do Turismo, que tal explorar a natureza exuberante de Misiones, na vizinha Argentina? Há muito para conhecer na região de florestas em que ainda vivem indígenas guaranis.

Por Sarah Marshall
Publicado 26 de set. de 2024, 07:00 BRT
As Cataratas do Iguaçu são formadas por 150 a 300 cachoeiras, dependendo da estação do ano ...

As Cataratas do Iguaçu são formadas por 150 a 300 cachoeiras, dependendo da estação do ano e dos níveis de água e suas quedas estão na fronteira entre a Argentina, o Brasil e o Paraguai.

Foto de Getty Images

O dia 27 de setembro é celebrado o Dia Mundial do Turismo desde 1980. A data criada pela Organização Mundial do Turismo busca incentivar e valorizar o universo das viagens que conecta lugares e pessoas em todo o mundo. Para comemorar a data, a nossa sugestão é conhecer uma parte da Argentina não tão explorada pelos brasileiros como Buenos AiresMendoza ou Bariloche… Que tal viajar para Misiones?

província argentina que faz divisa com o Brasil e o Paraguai possui sua parte nas Cataratas do Iguaçu, mas suas belezas naturais contam com muito mais nesta região de origem indígena guarani.

Navegando silenciosamente pelas águas terracota do rio Yacu-I, deixo que a correnteza me leve rio abaixo. Esse é um dos centenas de rios, córregos e riachos que acabam chegando às poderosas Cataratas do Iguaçu, a pouco mais de 100 Km de distância de onde estou andando de caiaque. 

Em 2022, quase 3 milhões de pessoas visitaram as Cataratas - um Patrimônio Mundial da Unesco que faz fronteira com o Brasil na ponta nordeste da Argentina e é dividido entre os dois países. Muitos turistas chegam de avião como parte de um circuito mais amplo pela América do Sul e ficam aqui por apenas alguns dias, perdendo a beleza da província de Misiones que fica além das Cataratas no lado argentino.

As florestas vastas do Brasil cobrem quase 60% do país, mas na província argentina de Misiones – que tem uma área aproximadamente do tamanho da Bélgica – restam apenas cerca de 6% da Mata Atlântica original que cobria a região. A Awasi, que opera um lodge de 14 vilas na borda do Parque Nacional do Iguaçu, acredita que uma das melhores maneiras de proteger esse precioso bolsão de biodiversidade é mostrar às pessoas o que existe lá

(Sobre Viagem, leia também: Viaje para a Patagônia: conheça 3 destinos para fazer trekking e curtir a natureza)

As belezas da floresta argentina


Quando o lodge foi inaugurado em 2017, ele fez um acordo com um fazendeiro local para comprar a Reserva Yacu-I, um terreno de floresta subtropical intocada com acesso ao rio.

Meus guias e eu deixamos o lodge cedo naquela manhã para dirigir por 90 minutos pela Rota 101, uma trilha de terra batida com solo vermelho ardente coberto por galhos de árvores de jacarandá, que já foram a espécie dominante antes da chegada dos conquistadores espanhóis, ávidos por madeira, a partir da década de 1540. 

Enquanto eu andava de caiaque, meus companheiros Chito Victor Dos Santos e Nona Silveira de Assis haviam preparado um churrasco de carnes fumegantes com mbeju – um tipo de panqueca feita com farinha de mandioca, recheada com queijo.

Saber como navegar na selva é fundamental para a sobrevivência. Ninguém entende melhor essa floresta do que os indígenas guaranis, que há centenas de anos se deslocam por vastas áreas que abrangem o Brasil, o Paraguai, a Bolívia e a Argentina. Eles foram uma das primeiras tribos a serem contatadas pelos europeus quando chegaram a essas terras e cerca de 11 mil ainda vivem em Misiones, com quatro comunidades vizinhas ao lodge Awasi.

Por meio de um acordo especial, fui convidado a entrar em uma das aldeias e fui levado a um passeio pelo guia local Karaí José. Parado em uma motocicleta, vestido com jeans e camiseta, ele se parece com qualquer outro argentino, mas a paixão por sua cultura é mais profunda do que qualquer uma das raízes que sustentam essa antiga floresta.

Buscando uma sombra do sol, várias crianças brincam do lado de fora das casas de tijolos de barro, enquanto seus pais cuidam das plantações de milho, batata-doce e mandioca. As plantas ainda são usadas como remédio nas comunidades guaranis e as armadilhas são colocadas para capturar animais para alimentação.

“Mas nunca tocamos em pau-rosa e não caçamos certos animais durante a época de acasalamento”, insiste Karaí, demonstrando um respeito pela sustentabilidade que sempre fez parte do DNA dos guarani. De acordo com uma lenda, o duende da floresta Pombero aterroriza qualquer pessoa que corte árvores desnecessárias.

Compartilhar histórias com as gerações mais jovens é a chave para a preservação da cultura guarani. O conto mais conhecido descreve as origens das Cataratas do Iguaçu, criadas quando dois amantes de tribos rivais incorreram na ira de uma deusa demoníaca do rio e foram transformados em uma poderosa cascata chamada Garganta do Diabo e em uma árvore próxima.

A guia do Awasi, Josefina Stocca, conta essa lenda na manhã seguinte, quando me leva ao parque nacional às 8 horas, antes da chegada de qualquer multidão. Os abutres planam nas térmicas e as andorinhas dão saltos mortais por entre espirais de névoa que caem da cortina de cataratas como as madeixas sedosas de uma donzela.

 No alto, um arco-íris se forma, unindo a água e a floresta. Os Guarani interpretam esse fenômeno como o poder do amor vencendo todo o mal. Em um momento, ele aparece e em um instante, ele desaparece. Mas é um lembrete das conexões naturais que fazem o Iguaçu e Misiones prosperarem.

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