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Como Nelson Mandela lutou contra o apartheid na África do Sul e mudou a história – em seu país e no mundo

No Dia Internacional de Nelson Mandela, relembre como o líder político dedicou a vida a desmantelar o racismo e as desigualdades, e passou de prisioneiro político a primeiro presidente negro sul-africano.

O ex-presidente sul-africano e defensor dos direitos civis Nelson Mandela dedicou sua vida à luta pela igualdade e, por fim, ajudou a derrubar o sistema racista de apartheid da África do Sul. Suas realizações são agora comemoradas todos os anos em 18 de julho, o Dia Internacional de Nelson Mandela.

Foto de Pool-Theana Calitz-Bilt, AP
Por Erin Blakemore
Publicado 17 de jul. de 2025, 06:01 BRT

Em novembro de 2009, a Organização das Nações Unidas criou o Dia Internacional de Nelson Mandela, uma data para reconhecer e relembrar a incrível jornada do maior líder político da África do Sul – e um dos maiores nomes pela paz no mundo. A efeméride é celebrada anualmente em 18 de julho, data de nascimento de Mandela. 

Mandela em julho de 1918, no que era então conhecido como a União da África do Sul, um território sob o domínio do Império Britânico. Embora a maioria de seus habitantes fosse negra, eles eram dominados por uma minoria branca que controlava tudo: a terra, a riqueza e o governo. Uma estrutura social discriminatória que mais tarde seria codificada no sistema jurídico do país e chamada de apartheid.

Nos 95 anos seguintes, Mandela lutaria e ajudaria a derrubar a brutal ordem social da África do Sul. Durante uma vida inteira de resistência, prisão e liderança, Nelson Mandela levou a África do Sul a sair do regime de apartheid e a entrar em uma era de reconciliação e governo da maioria da população negra.

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O início da vida de Nelson Mandela

Nelson Mandela começou sua vida com outro nome: Rolihlahla Dalibhunga Mandela. Seu pai era um chefe do povo Thembu, um subgrupo do povo Xhosa, que constitui o segundo maior grupo cultural da África do Sul. Depois de desafiar um magistrado britânico, o pai de Mandela foi destituído de sua posição de chefe, título e terras. 

Em seu primeiro dia em uma escola primária segregada, Rolihlahla também foi destituído de sua identidade quando sua professora deu a todas as crianças um nome em inglês – uma prática comum em uma sociedade na qual os brancos “não conseguiam ou não queriam pronunciar um nome africano e consideravam incivilizado ter um”, escreveu ele em sua autobiografia, “Long Walk to Freedom, no Brasil intitulada “Nelson Mandela: Longa Caminhada Até a Liberdade”.

Embora a pele de Mandela o tenha relegado à ordem social mais baixa na então África do Sul segregada, seu sangue real – e suas conexões – lhe deram acesso à única universidade do país voltada para negros, a Universidade de Fort Hare. Lá, ele se tornou um ativista e foi expulso por protestar contra a falta de poder do governo estudantil. 

Voltou para casa, em seu pequeno vilarejo no Cabo Oriental, mas descobriu que sua família queria que ele se casasse em um casamento arranjado para puni-lo por ter abandonado a escola. Assim, ele fugiu para o norte, para Soweto, a maior cidade negra da África do Sul em 1941 – hoje é uma cidade independente nos arredores de Joanesburgo. 

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Apartheid e ativismo marcam a trajetória de Nelson Mandela


Em Soweto, Mandela tornou-se estudante de Direito em tempo parcial na Wits Universitycomeçou a exercer a advocacia, abrindo o primeiro escritório de advocacia negro do país. Ele ingressou no Congresso Nacional Africano, um grupo que lutava pelos direitos civis dos sul-africanos negros

Em 1948, a segregação racial que já era desenfreada na África do Sul tornou-se lei estadual quando o partido no poder adotou formalmente apartheid. Essa política exigia que os sul-africanos negros carregassem sempre consigo uma identificação, necessária para entrar em áreas destinadas aos brancos

Os negros sul-africanos foram forçados a viver em zonas exclusivamente negras e totalmente proibidos de estabelecer relacionamentos inter-raciais. Os negros foram até mesmo retirados das listas de eleitores e, por fim, totalmente privados de seus direitos.

No início, Mandela e seus colegas membros do ANC usaram táticas não violentas, como greves e manifestações, para protestar contra o apartheid. Em 1952Mandela ajudou a intensificar a luta como líder da Defiance Campaign, que incentivava os participantes negros a violar ativamente as leis. Mais de 8 mil pessoas, inclusive Nelson Mandela, foram presas por violarem o toque de recolher, recusarem-se a portar carteiras de identidade e outros delitos.

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Manifestantes se reúnem em frente a um tribunal em Joanesburgo, África do Sul, durante o julgamento por traição de ativistas antiapartheid em 1956, entre eles Nelson Mandela. Os réus foram considerados inocentes, mas alguns – incluindo Mandela – foram posteriormente condenados por uma outra acusação em 1964.

Foto de AFP via Getty

Defiance Campaign (“campanha desafiadora”) catapultou a agenda do ANC, e Mandela, para os olhos do público, pois eles continuaram a lutar pelos direitos dos negros. Depois de cumprir sua sentença inicial e ser solto, Mandela continuou a liderar protestos contra o governo e, em 1956, ele, juntamente com 155 outros, foi julgado por traição. Ele foi absolvido em 1961 e viveu escondido por 17 meses após o julgamento.

Com o tempo, Mandela passou a acreditar que a resistência armada era a única maneira de acabar com o apartheid. Em 1962, ele deixou a África do Sul por um breve período para receber treinamento militar e obter apoio para a causa, mas foi preso e condenado logo após seu retorno por deixar o país sem permissão. Depois, enquanto estava na prisão, a polícia descobriu documentos relacionados ao plano de Mandela para a guerrilha. Eles acusaram ele e seus aliados de sabotagem.

Mandela e os outros réus no julgamento de Rivonia que se seguiu sabiam que certamente seriam condenados e executados. Assim, transformaram seu julgamento em uma declaração, divulgando sua luta contra o apartheid e desafiando o sistema jurídico que oprimia os negros sul-africanos. Quando chegou a vez de Mandela falar em nome da defesa, ele fez um discurso de quatro horas de duração.

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    “É uma luta do povo africano, inspirada em nosso próprio sofrimento e em nossa própria experiência. É uma luta pelo direito de viver.”

    por Nelson Mandela

    “A falta de dignidade humana vivida pelos sul-africanos é o resultado direto da política de supremacia branca”, disse ele. "Nossa luta é verdadeiramente nacional. É uma luta do povo africano, inspirada em nosso próprio sofrimento e em nossa própria experiência. É uma luta pelo direito de viver." 

    Mandela estava comprometido com o ideal de uma sociedade livre, disse ele, e “se for necessário, é um ideal pelo qual estou preparado para morrer”.

    Anos de prisão de Mandela


    Mandela não foi condenado à morte, mas, em 1964, foi condenado à prisão perpétua. Ele tinha direito a apenas uma visita de 30 minutos de uma única pessoa por ano e podia enviar e receber duas cartas por ano

    Confinado em condições austeras, ele trabalhou em uma pedreira de calcário e, com o tempo, conquistou o respeito de seus captores e também de seus companheiros de prisão. Ele teve a chance de deixar a prisão em troca da garantia de que o ANC desistiria da violência, mas recusou.

    Durante seus 27 anos de prisãoMandela se tornou o prisioneiro político mais conhecido do mundo. Suas palavras foram proibidas na África do Sul, mas ele já era o homem mais famoso do país. Seus apoiadores agitavam-se por sua libertação e a notícia de sua prisão galvanizou os ativistas antiapartheid em todo o mundo.

    Na década de 1960, alguns membros das Nações Unidas começaram a pedir sanções contra a África do Sul – pedidos que se tornaram mais altos nas décadas seguintes. Por fim, a África do Sul tornou-se um pária internacional

    Em 1990, em resposta à pressão internacional e à ameaça de guerra civil, o novo presidente branco da África do Sul, F.W. de Klerk, finalmente prometeu acabar com o apartheid libertou Mandela da prisão.

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    Nelson Mandela e sua esposa, Winnie, erguem os punhos ao serem libertados da prisão de Victor Verster, na África do Sul. Mandela ficou preso por 27 anos por sua luta contra o apartheid. Ao ser libertado, ele negociou o fim da política racista e foi eleito presidente da África do Sul.

    Foto de Allan Tannenbaum, The LIFE Images Collection, Getty

    apartheid não terminou imediatamente com a libertação de Mandela. Com já 71 anos de idade, Mandela negociou com de Klerk uma nova constituição que permitiria o governo da maioria negra. O apartheid foi revogado em 1991 e, em 1994, o ANC, agora um partido político, obteve mais de 62% do voto popular em uma eleição pacífica e democrática

    Nelson Mandela – que compartilhou o Prêmio Nobel da Paz com de Klerk – tornou-se o primeiro presidente negro dessa nova nação, a África do Sul.

    (Conteúdo relacionado: Como surgiu o Dia da Consciência Negra no Brasil?

    Liderança pós-apartheid


    Mandela foi presidente por cinco anos. Entre suas realizações estava a Comissão da Verdade e Reconciliação da África do Sul, criada para documentar as violações dos direitos humanos e ajudar as vítimas e os infratores a se reconciliarem com seu passado. Embora seus resultados sejam contestados, a comissão ofereceu os primórdios da justiça restaurativa – um processo que se concentra na reparação e não na retribuição – a uma nação que ainda sofre com séculos de cicatrizes.

    legado de Mandela não era inatacável: ele foi considerado por alguns analistas como um presidente ineficaz e foi criticado por sua maneira de lidar com a violência e com a economia enquanto estava no cargo. 

    Depois de deixar o cargo em 1999Mandela passou o restante de sua vida trabalhando para acabar com a pobreza e aumentar a conscientização sobre o HIV/AIDS. Ele morreu em 2013, quando já tinha 95 anos.

    “Ser livre não é apenas se livrar das correntes, mas viver de uma forma que respeite e aumente a liberdade dos outros”

    por Nelson Mandela

    Todos os anos, em 18 de julho, ele é lembrado e homenageado no Dia Internacional de Nelson Mandela, uma efeméride criada pelas Nações Unidas que celebra seu serviço e sacrifício. É um lembrete de que o trabalho de Mandela ainda não terminou, ainda há muita desigualdade no mundo – uma opinião compartilhada pelo próprio Mandela.

    “Ser livre não é apenas se livrar das correntes, mas viver de uma forma que respeite e aumente a liberdade dos outros”, escreveu ele em sua autobiografia. “O verdadeiro teste de nossa devoção à liberdade está apenas começando.”

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