Adorado pelos turistas, famoso gorila é morto por caçadores em Uganda

A morte de Rafiki, um macho de 25 anos, ocorreu após aumento das atividades ilegais em consequência do declínio do turismo no país.

Por Jack Losh
Publicado 15 de jun. de 2020, 17:24 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 01:56 BRT
Mostrado na imagem com uma fêmea, Rafiki era líder de seu bando de 17 gorilas desde ...

Mostrado na imagem com uma fêmea, Rafiki era líder de seu bando de 17 gorilas desde 2008.

Foto de Allan Carlson, WWF

Caçadores ilegais mataram um famoso gorila-das-montanhas, causando um retrocesso nas iniciativas de conservação que já duram décadas e que buscam afastar a subespécie da beira da extinção. As autoridades de Uganda prenderam quatro suspeitos de caça ilegal após a morte de Rafiki, um dorso prateado de 25 anos que desde 2008 era o líder de um bando de 17 gorilas no oeste de Uganda, no Parque Nacional da Floresta Impenetrável de Bwindi, segundo declaração da Autoridade de Animais Silvestres, em 12 de junho.

O grande símio, xodó dos turistas, morreu após um caçador ilegal enfiar uma lança em sua barriga, que penetrou em seus órgãos internos, de acordo com o relatório da autópsia. A última vez que um gorila-das-montanhas foi morto por humanos foi em 2011.

A família de Rafiki frequentemente buscava alimentos fora dos limites do parque, tornando-se “um símbolo de convívio harmônico” com as pessoas, conta Anna Behm Masozera, diretora do Programa Internacional de Conservação de Gorilas, uma coalizão regional de grupos ambientais. “A morte de Rafiki e as circunstâncias que a envolvem são devastadoras. Ele era o único macho maduro desse bando emblemático”.

Rafiki desapareceu em 1o de junho e, no dia seguinte, um grupo de busca encontrou seu corpo mutilado. Em um vilarejo próximo, os guardas florestais localizaram um suspeito que teria sido encontrado com carne de caça, além de armadilhas, uma lança e sinos para prender nas coleiras dos cães de caça. Ele admitiu que ele e outros três estavam caçando antílopes no parque e que matou Rafiki em legítima defesa depois que o animal atacou.

De acordo com as rigorosas leis de Uganda, os quatro homens estão sujeitos à prisão perpétua ou multa de US$ 5,4 milhões se considerados culpados de matar uma espécie em extinção.

Embora Rafiki não tenha sido morto para uso de sua carne, o incidente ocorre após advertências de conservacionistas e oficiais do governo de que a pandemia de coronavírus e o confinamento poderiam forçar as pessoas a recorrer à caça ilegal por desespero. O toque de recolher em todo o país fechou parques nacionais e suspendeu expedições de ecoturismo para observar gorilas em seu habitat natural, a principal fonte de renda para a conservação dos gorilas.

“Os gerentes do parque de toda a área de ocorrência dos gorilas-das-montanhas estão alertando para atividades humanas acima do normal, muitas delas ilegais”, conta Behm Masozera.

Essas atividades, por sua vez, provocam ainda mais riscos. A caça ilegal pode colocar as pessoas em contato com os gorilas-das-montanhas, como foi o caso de Rafiki, aumentando o risco de transmissão do coronavírus a esses primatas, que podem contrair doenças respiratórias dos seres humanos, devido à nossa semelhança genética.

Ainda resta esperança

Os gorilas-das-montanhas se recuperaram de forma surpreendente nos últimos anos, após décadas da arrasadora guerra civil e da desenfreada caça ilegal, que reduziram sua população para cerca de 350 animais na década de 1980. Os grandes símios, que agora somam mais de mil indivíduos, estão divididos em duas populações principais em Bwindi e uma rede de parques na área de vulcões extintos de Virunga. Em 2018, a União Internacional para a Conservação da Natureza atualizou o status da espécie de criticamente ameaçada para ameaçada.

Parte da estratégia bem-sucedida para a recuperação de espécies é trabalhar em conjunto com as comunidades locais e apoiar suas iniciativas de ecoturismo, afirma Behm Masozera. Contudo a ausência de ocidentais ricos nos últimos meses destruiu os meios de subsistência de carregadores de malas, lojistas, funcionários de hotéis locais e outros trabalhadores de comunidades que viviam às margens do parque nacional. Os turistas pagam mais de US$ 600 por pessoa por uma licença para observar os gorilas por uma hora.

Embora alguns possam recorrer à agricultura de subsistência, a estação seca, que está próxima, reduzirá a produção agrícola e agravará a situação econômica.

Além da caça ilegal, os conservacionistas temem que a morte de Rafiki possa fragmentar sua família, conhecida como bando Nkuringo.

“Os dorsos prateados, como Rafiki, desempenham um papel muito importante na estabilidade e coesão do bando, de modo que essa perda surtirá um grande impacto sobre o bando”, afirma Cath Lawson, primatologista e gerente regional especializada na África Oriental da organização não governamental WWF do Reino Unido. “Sua morte é trágica.”

É possível que outro gorila de dorso prateado não tão habituado às pessoas possa dominar o grupo, afastando os animais dos turistas e prejudicando ainda mais a economia da região.

Como observado no passado, quando líderes de dorso prateado morrem, os membros restantes geralmente se dispersam em outros bandos e os filhotes podem ser mortos por outros líderes de dorso prateado nos novos bandos.

Apesar dos desafios, os conservacionistas estão determinados a não perder as conquistas obtidas durante décadas de trabalho na proteção de gorilas-das-montanhas.

“É uma perda”, afirmou Behm Masozera. “Mas o convívio pacífico é uma empreitada incessante que não é alcançada da noite para o dia.”

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