Puerto Rican crested toad

Dia Mundial dos Sapos: espécies ameaçadas de extinção em Porto Rico receberam uma "ajudinha" do cantor Bad Bunny

Em seu recente álbum, o cantor Bad Bunny amplifica as vozes da rã coquí e do sapo-de-crista de Porto Rico, em perigo de extinção na natureza – e destaca a necessidade urgente de proteger os frágeis ecossistemas da ilha.

O sapo-de-crista porto-riquenho é a única espécie de sapo nativa da ilha. Antes considerada extinta, a espécie criticamente ameaçada simboliza a luta contínua da ilha para proteger seus frágeis ecossistemas.

Foto de Joël Sartore, National Geographic, Photo Ark
Por Coral Murphy Marcos
Publicado 19 de mar. de 2025, 07:00 BRT

Comemorado anualmente no dia 20 de março, o Dia Mundial dos Sapos visa celebrar a diversidade desses anfíbios no mundo e também alertar a importância de proteger suas espécies com perigo de extinção

Algumas dessas espécies de sapos e rãs ameaçadas ganharam notoriedade por meio da música e alcançaram os olhares de milhares pessoas em todo mundo: a rã coquí e o sapo-de-crista porto-riquenho – isso graças ao sucesso de um cantor latino-americano. 

Entre as exuberantes e verdes montanhas de Porto Rico, a pequena rã coquí canta uma serenata noturna que é tão icônica quanto as batidas de salsa e os coquetéis de rum da ilha localizada no Caribe. Mas agora, o chamado agudo e rítmico desse pequeno anfíbio, “ko-kee! ko-kee!”, ecoa um apelo mais profundoproteger os frágeis ecossistemas e o patrimônio cultural de Porto Rico, que enfrentam mudanças radicais.

Em seu último álbum, DeBÍ TiRAR MáS FOToS, o famoso cantor de reggaeton Bad Bunny (Benito Antonio Martínez Ocasio), nascido em Porto Rico, transforma a canção da rã coquí e o sapo-de-crista porto-riquenho, que está criticamente ameaçado de extinção e é apresentado como mascote do álbum – em símbolos de resiliência, pedindo ação para proteger os tesouros naturais e culturais da ilha.

Para Bad Bunny, cuja música muitas vezes serve como uma carta de amor a Porto Rico, esses anfíbios representam o espírito duradouro de sua terra natal. Por meio de suas letras e visuais evocativos, ele chama a atenção para seus habitats cada vez menores, ao mesmo tempo em que celebra a identidade cultural que eles incorporam.

“Bad Bunny nos deu uma oportunidade única, e espero que nosso povo saiba como aproveitá-la”, diz Rafael Joglar, professor de biologia da Universidade de Porto Rico, campus de Rio Piedras, e fundador do grupo de conservação sem fins lucrativos The Coquí Project. “Essa é a melhor coisa que nos aconteceu em muito tempo em termos de conservação.”

(Sobre Animais, leia também: O megalodonte talvez não tenha sido tão robusto, segundo novas descobertas)

Músicas que amplificam as vozes da natureza


Há gerações, a rã coquí é um emblema cultural de Porto Rico, celebrado em cerâmicas, pinturas e poesias indígenas Taíno. De acordo com a lenda Taíno, uma deusa criou o coquí para chamar o nome de seu amor perdido para sempre. O significado do anfíbio está tão profundamente enraizado que muitos porto-riquenhos costumam proclamar: “Soy de aquí como el coquí” (“Sou daqui, como o coquí”), como uma expressão orgulhosa de pertencimento.

sapo-de-crista porto-riquenho (também conhecido como sapo concho, mas cujo nome científico é Peltophryne lemur), embora menos celebrado, tem sua própria importância cultural e ecológica

Ele é uma das duas únicas espécies de anfíbios nativos de Porto Rico que não é um coquí, que compõem 14 das 16 espécies nativas. Considerado extinto por mais de quatro décadas, o sapo-de-crista foi redescoberto na década de 1970, recuperando seu lugar como o único sapo nativo de Porto Rico.

aumento das temperaturas e as mudanças climáticas perturbaram os habitats desses anfíbios, ameaçando as florestas que ressoam com seu canto. Furacões como o María, que devastou Porto Rico em 2017, causaram danos significativos a esses ecossistemas, prejudicando ainda mais as populações de coquí.

Embora algumas espécies, como o coquí da montanha (Eleutherodactylus portoricensis), estejam se adaptando, mudando-se para altitudes mais elevadas em florestas de nuvens como a Floresta Nacional El Yunque, suas opções são limitadas. Esses habitats estão restritos aos picos mais altos de Porto Rico e, quando os sapos atingem essas elevações, não há mais para onde ir – criando um fenômeno que os cientistas chamam de “extinção no topo da montanha”.

"Os anfíbios são o grupo de animais vertebrados mais ameaçado da Terra. Costumávamos ter 17 espécies de coquis e já perdemos três delas", disse Joglar. “O sapo concho, assim como outras espécies de anfíbios em Porto Rico, foi negligenciado devido à falta de financiamento, compromisso sério, conhecimento especializado ou todos os itens acima.”

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    Coqui Frog

    Uma rã coquí comum (Eleutherodactylus coqui) canta seu icônico chamado “Ko-kee”, um som que define as noites de Porto Rico. Antes celebrado nas lendas taínos, esse pequeno anfíbio agora simboliza a luta para proteger os frágeis ecossistemas e a identidade cultural da ilha.

    Foto de Maresa Pryor, DanitaDelimont, Alamy

    Porto Rico em transformação


    As rãs coquís e os sapos-de-crista porto-riquenhos não são os únicos que estão desaparecendo de Porto Rico. A instabilidade econômica, os desastres naturais e a gentrificação levaram a mudanças significativas na população da ilha. Desde 2010, a população da ilha caiu mais de 11%, com mais de 130 mil residentes deixando o local somente após o furacão María.

    Em sua música “Lo que le pasó a Hawaii”, Bad Bunny usa a jornada do coquí como uma alegoria para a migração de trabalhadores porto-riquenhos no início do século 20, quando os sapos se tornaram uma espécie invasora no Havaí, provavelmente escondidos na bagagem dos viajantes.

    “Parece que o coquí também fez parte dessa migração, viajando em suas bagagens e malas”, conta um slide no visualizador do vídeo da música, elaborado pelo historiador Jorell Meléndez-Badillo.

    Enquanto isso, o rápido desenvolvimento costeiro está remodelando a paisagem da ilha, eliminando habitats críticos de anfíbios para dar lugar a casas e hotéis de luxo. A urbanização já dizimou a população de sapo-de-crista no norte de Porto Rico, enquanto várias espécies de coquí enfrentam ameaças semelhantes.

    Essa transformação contínua é exacerbada por furacões, secas e aumento das temperaturas, que sobrecarregam as populações humanas e de animais selvagens.

    No entanto, apesar desses desafios, a canção do coquí continua sendo um símbolo poderoso da identidade e da resistência porto-riquenha. Muitos esperam que o álbum de Bad Bunny amplie a conscientização sobre essas crises entrelaçadas, inspirando ações locais e federais para proteger o patrimônio cultural da ilha, os ecossistemas frágeis e as pessoas que a chamam de lar.

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