O megalodonte talvez não tenha sido tão robusto, segundo novas descobertas

Um novo estudo propõe que o enorme e antigo tubarão era mais esguio do que um grande tubarão branco. Mas nem todos os paleontólogos concordam.

Por Jason Bittel
Publicado 11 de mar. de 2025, 14:00 BRT
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Esta ilustração do megalodonte pode estar errada. O antigo tubarão predador foi extinto há cerca de 3,6 milhões de anos e tem sido comparado aos grandes tubarões brancos atuais. No entanto, novas estimativas sugerem que o megalodonte tinha um corpo mais fino e mais longo. 

Foto de Illustration by Jose Antonio Peñas, SCIENCE PHOTO LIBRARY

Feche os olhos e imagine o antigo e abominável megalodonte. Você provavelmente está imaginando um grande tubarão branco em proporções gigantescas, certo? Bem, um novo estudo sugere que o maior tubarão do mundo pode ter sido mais longo e mais esbelto do que se pensava até então.

“Estudos anteriores simplesmente presumiram que o megalodonte deveria ter se parecido com uma versão gigantesca do grande tubarão branco moderno, sem nenhuma evidência”, diz Kenshu Shimada, paleontólogo de vertebrados da Universidade DePaul, em Chicago, Estados Unidos.

Tanto o grande tubarão branco quanto o megalodonte (Otodus megalodon) têm serrilhas proeminentes em seus dentes, semelhantes a uma faca de carne. Inicialmente, isso fez com que os cientistas pensassem que os grandes tubarões brancos (Carcharodon carcharias) eram descendentes diretos do meg, como a popular franquia de filmes se refere ao animal.

Entretanto, pesquisas mais recentes sugeriram que o megalodonte pertencia a um ramo diferente da árvore genealógica dos tubarões. Ainda assim, a comparação com os tubarões brancos permaneceu, se não por outro motivo, pela falta de uma alternativa melhor, comenta Shimada.

Mas agora, em um estudo publicado recentemente na revista científica Palaeontologia Electronica, Shimada e mais de duas dúzias de outros especialistas propõem que o megalodonte teria um corpo muito menos atarracado e robusto do que o dos grandes tubarões brancos de peito em barril. 

Os cientistas também conseguiram chegar a uma nova estimativa para o comprimento total do megalodonte, que, em sua forma mais extrema, poderia ter se estendido até 24,3 metros de comprimento. Estimativas anteriores colocavam o megalodonte em cerca de 15 metros, no máximo. Isso significaria que os maiores megalodontes podem ter sido quase do tamanho de uma baleia azul.

“Nosso novo valor representa a estimativa máxima mais razoável possível [comprimento total] para o megalodonte com base no registro fóssil e nos dados atuais”, afirma Shimada. 

Estimar o comprimento do megalodonte requer trabalho de detetive

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À esquerda: No alto:

Como os grandes tubarões brancos, o megalodonte tinha serrilhas ou bordas irregulares em seus dentes, o que anteriormente levou os paleontólogos a pensar que os dois estavam relacionados. 

Foto de Doug Perrine, Nature Picture Library
À direita: Acima:

Nenhum fóssil de mandíbula de megalodonte foi descoberto. As réplicas vistas em muitos museus (como da foto) são todas baseadas em estimativas de tamanho de dentes ou outros fósseis parciais. 

Foto de Alexander Demianchuk, Reuters, Redux

Para algumas criaturas antigas, os cientistas têm esqueletos inteiros com os quais podem reconstruir a aparência dos animais em vida. Mas para o megalodonte, a tarefa é muito mais difícil.

O registro fóssil contém apenas vértebras, dentes, escamas e alguns fragmentos de cartilagem do megalodonte. Alguns paleontólogos usaram dentes ou as colunas vertebrais de grandes tubarões brancos para descobrir o tamanho do antigo tubarão. 

Mas partes inteiras do megalodonte permanecem um mistério – incluindo a cabeça, a cauda e as nadadeiras. Portanto, se você já tirou uma foto em frente a uma mandíbula de megalodonte em um museu, você estava diante de uma melhor estimativa, pois nunca foi encontrada uma mandíbula do megalodonte.

Para preencher as lacunas, Shimada e seus colegas desenvolveram um novo método para estimar o comprimento do corpo do leviatã, usando uma coluna vertebral quase completa da Bélgica e outra coluna vertebral incompleta da Dinamarca

Ao compará-las com os planos corporais de 170 outras espécies de tubarão, tanto vivas quanto extintas, eles puderam estimar o tamanho da cabeça e da cauda desse megalodonte em particular - cerca de 1,8 metro e 3,6 metros de comprimento. No total, isso teria feito com que o espécime de megalodonte belga tivesse 16,4 metros de comprimento

Entretanto, como uma das vértebras pertencentes à descoberta na Dinamarca era consideravelmente maior do que a maior vértebra da coluna vertebral belga, os cientistas puderam aumentar suas estimativas para chegar ao novo e impressionante comprimento total de 24 metros.

(Leia também: Tubarão gigante: o que fez do megalodonte um predador tão terrível?)

Por que o megalodonte pode ter sido mais magro do que se pensava


Em seguida, os cientistas tentaram determinar quão “fino e esbelto” teria sido o megalodonte, qual era a sua “proporção de finura”. “Em termos mais simples, a proporção de finura é uma medida de quão fino é um corpo ou um objeto”, comenta Shimada.

Novamente, a equipe recorreu a medições de tubarões vivos e mortos há muito tempo. Os maiores tubarões vivos, como o tubarão-baleia e o tubarão-frade, têm planos corporais mais finos, o que confere aos gigantes uma maior eficiência hidrodinâmica ao navegarem pelo oceano. Porém, se o plano corporal de um grande tubarão branco fosse aumentado para o comprimento de um megalodonte, o animal resultante teria mais dificuldade para nadar na água.

“Embora ainda precisemos de evidências fósseis diretas, nosso novo estudo sugere que é mais provável que o megalodonte tenha sido mais esguio do que o grande tubarão branco moderno em termos de proporção corporal do ponto de vista hidrodinâmico”, explica Shimada.

Jack Cooper, que não participou do novo estudo, mas também tentou estimar o tamanho do megalodonte, elogiou os autores pela nova estimativa do tamanho do corpo do fóssil belga, bem como por seu método de não usar apenas um análogo – como o grande branco – para fazer esses cálculos. 

“No entanto, o apoio a uma forma corporal esbelta é, na melhor das hipóteses, provisório”, diz Cooper, paleobiólogo da Universidade de Swansea, no País de Gales, no Reino Unido.

“O megalodonte poderia ter sido mais esguio do que as reconstruções anteriores? Claro, é possível”, afirma Cooper. “Mas o estudo não diz diretamente o quanto era mais esbelto, nem descarta definitivamente as interpretações anteriores.” 

O maior bebê tubarão de todos os tempos? Possivelmente

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    Um novo plano corporal e uma estimativa de comprimento sugerem que os megalodontes podem ter se assemelhado a uma versão gigante de um tubarão-limão (um mostrado nas Bahamas).

    Foto de David Doubilet, Nat Geo Image Collection

    Embora cada uma dessas estimativas permaneça provisória até que fósseis maiores e melhores de megalodonte sejam encontrados, Shimada e seus colegas suspeitam que o megalodonte teria se parecido muito mais com um colossal tubarão-limão.

    Nativo das costas das Américas do Norte e do Sul, bem como do oeste da África, “o tubarão-limão tem um corpo de tubarão convencional”, diz Shimada. “É uma espécie de 'cidadão comum' no mundo dos tubarões.”

    Os cientistas também fizeram uma série de outras afirmações com base nas evidências que possuem. Por exemplo, análises hidrodinâmicas baseadas no novo formato do corpo também sugerem que, mesmo em tamanho real, o megalodon não teria sido mais rápido do que os grandes tubarões atuais

    Da mesma forma, ao contar as faixas de crescimento dentro das vértebras, eles estimam que os megalodontes recém-nascidos teriam cerca de 3 a 4 metros de comprimento no momento do nascimento. Se for verdade, isso significaria que o megalodonte teve os maiores bebês da história dos peixes.

    Os jovens megalodontes podem ter crescido rapidamente durante seus primeiros sete anos de desenvolvimento, até o ponto em que teriam superado a possibilidade de serem predados por grandes tubarões brancos. Essa é uma área de estudo importante, pois muitos cientistas acreditam que a competição com os tubarões brancos é parte do que levou à extinção do megalodonte.

    Cooper considerou o aspecto do maior bebê “bastante empolgante”, mas observou que a ideia de que os jovens megalodontes crescem mais rápido para ultrapassar os grandes tubarões brancos é “altamente especulativa”.

    “Resumindo, tudo o que foi apresentado aqui é interessante, mas deve ser considerado com cautela até que possa ser testado empiricamente ou até que um esqueleto completo de megalodonte seja encontrado para confirmar uma coisa ou outra”, comenta Cooper.

    Não se trata de ser ou não maior peixe


    Nos últimos anos, o público investiu muito na pesquisa do megalodonte. Mas tanto Cooper quanto Shimada concordam que a obsessão pelo tamanho máximo e a resposta a perguntas hipotéticas, como se o megalodonte poderia vencer a baleia extinta conhecida como Livyatan em uma luta, são distrações.

    Tais coisas “desconsideram a incrível biologia que aprendemos sobre essa espécie real e icônica que existiu e a reduzem ao que só posso descrever como um personagem de videogame”, diz Cooper. 

    Por exemplo, outro estudo recente de coautoria de Shimada encontrou evidências geoquímicas que sugerem que o megalodonte pode ter sido, pelo menos parcialmente, de sangue quente. E essa vantagem pode ter permitido que o predador perseguisse as baleias mais longe e em águas mais frias, preparando o terreno para que ele atingisse tamanhos enormes.

    Com tão poucas evidências fósseis, é possível que o megalodonte não se parecesse em absolutamente nada com nenhuma dessas estimativas.

    “A possibilidade não pode ser eliminada até que esqueletos completos ou quase completos bem preservados sejam encontrados”, conclui Shimada. Até lá, “estamos limitados pelos dados”.

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