Como não ser mordido por tubarões? Especialistas dão dicas essenciais de segurança
Embora os tubarões não sejam os devoradores de pessoas que às vezes parecem ser, os especialistas sabem que manter-se seguro envolve habilidade, conhecimento e prática.

O apresentador Bertie Gregory filmando um tubarão embaixo d'água. “Tubarões de Perto com Bertie Gregory”, um especial documental da National Geographic que estreou recentemente no Disney+.
Dentes cortantes, olhos sem vida e gosto pela carne humana… É isso que a maioria dos filmes nos faz acreditar que é o comportamento típico dos tubarões.
Mas como é realmente estar na água com esses supes predadores? Os tubarões estão na Terra há mais tempo do que as árvores e existem mais de 500 espécies – desde o infame tubarão branco e o icônico tubarão-martelo até o gentil tubarão-baleia e o pequeno tubarão-lanterna.
Independentemente do tamanho, os tubarões podem ser imprevisíveis, por isso é importante que aqueles que compartilham a água com eles tenham conhecimento, experiência e respeito pelo animal.
Mas então, o que é necessário para nadar com tubarões? A National Geographic conversou com especialistas em tubarões para descobrir como eles se preparam para grandes aventuras no mar, como as registradas no especial documental da NatGeo “Tubarões de Perto com Bertie Gregory” que estreou há poucos dias no Disney+.
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O que fazer quando os tubarões estão bem perto?
Durante as filmagens do programa, o Explorador da National Geographic Bertie Gregory experimentou seu mergulho com tubarão o “favorito de todos os tempos” na “assustadora” caverna subaquática Cathedral, no recife Aliwal Shoal, na África do Sul.
Cerca de 40 tubarões-lixa “estavam girando em torno dessa caverna”, diz ele. Com cerca de 3 metros de comprimento, essas criaturas aparentemente ameaçadoras têm “bocas de aparência aterrorizante com centenas de dentes afiados como agulhas”.
Mas Gregory não tinha medo. Segundo ele, “o medo vem da falta de compreensão”. Ele sabe que os dentes em forma de agulha são projetados para agarrar em vez de cortar, o que significa que "a presa precisa ter um tamanho que ele possa engolir. Eu sou grande demais para caber em sua garganta, então eles não podem me mastigar".
Mesmo os grandes tubarões brancos – provavelmente os peixes mais temidos do planeta – também não são devoradores de homens. “Não estamos em seu cardápio”, comenta Gregory. “Temos pouca gordura e temos um gosto estranho.”
Os tubarões brancos adultos evoluíram para comer focas e leões marinhos por causa de sua gordura densa em energia, ao contrário de nós, humanos musculosos.
Embora as mordidas de tubarão sejam relativamente raras – houve 47 mordidas não provocadas em 2024, de acordo com o International Shark Attack File – a melhor maneira de evitar qualquer incidente é entender as condições e o comportamento do animal.
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É possível se manter em segurança nadando com tubarões?
A cientista de tubarões Melissa Cristina Márquez, que não apareceu no programa, mas mergulha com tubarões há mais de uma década, sempre analisa cuidadosamente os fatores ambientais antes de entrar na água com qualquer espécie de tubarão, mas especialmente com os grandes.
“Nunca entro na água se houver um forte rastro de cheiro de iscas ou carcaças, a menos que seja um ambiente de pesquisa controlado”, afirma ela. Para um profissional experiente como Márquez, os protocolos de segurança não são negociáveis. Isso inclui trabalhar com uma equipe altamente treinada, seguir procedimentos claros e usar uma vara de segurança quando necessário para garantir que sempre haja algo entre você e um tubarão excessivamente curioso.
A hora do dia também é importante. Os tubarões predadores tendem a caçar ao anoitecer e ao amanhecer, portanto, profissionais experientes geralmente evitam esses horários, especialmente quando a água está turva. “Se eles estiverem caçando em águas com pouca visibilidade, os tubarões podem confundir um ser humano com uma foca”, explica Gregory.
Quando um tubarão predador de grande porte dá uma mordida só para “provar” e percebe que o ser humano não é um alimento, a vítima provavelmente já sofreu ferimentos catastróficos, diz ele. “Trata-se de não dar a eles a oportunidade de cometer um erro assim”.
Alguns fatores, no entanto, são impossíveis para os pesquisadores saberem de antemão, como o que o animal está sentindo. "Ele está com fome? Está saciado? Está caçando? Está feliz? Está saudável?", pergunta Lacey Williams, ecologista comportamental de tubarões que participou do programa. “Infelizmente, não podemos perguntar.”

Um tubarão-anequim (também conhecido como "tubarão mako") de barbatana curta (Isurus oxyrinchus) nada na costa oeste da Ilha Norte da Nova Zelândia.
Lendo a linguagem corporal do tubarão
Os tubarões emitem sinais se você souber ler a linguagem corporal deles. Os sinais de que um tubarão se sente desconfortável ou agitado incluem movimentos bruscos, levantar a cabeça, abaixar as nadadeiras peitorais para apontar para baixo e arquear as costas.
Se Márquez notar uma cauda balançando exageradamente, o animal fazendo círculos mais apertados, batendo em objetos ao seu redor ou várias passagens próximas, “esses são alguns sinais de que é hora de sair da água com calma e rapidez”, diz ela.
Quando você estiver na água com tubarões, é importante manter a calma, mover-se lentamente, evitar movimentos bruscos e “ter um respeito saudável pelo que o animal é capaz de fazer”, diz Williams.
Sempre “mantenha sua cabeça em um lugar giratório”, comenta ela. Não vire as costas para o tubarão e sempre mantenha contato visual. Como predadores de emboscada, é menos provável que os tubarões o vejam como uma presa em potencial se você mantiver os olhos neles o tempo todo.
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Os estereótipos sobre os tubarões
Embora seja sensato ser cauteloso, um tubarão não tentará mastigar qualquer ser humano que vir. Muitas espécies – inclusive tubarões-martelo, tubarões-cobra e tubarões-raposa – tendem a ser tímidas e a evitar mergulhadores.
Já para as espécies predadoras, como tubarões-tigre, tubarões-touro e tubarões-brancos, ir atrás de uma refeição gasta uma energia valiosa, portanto, eles precisam saber que seus esforços valerão a pena e que não se machucarão.
Márquez diz que se mantém na vertical na água para parecer o maior e mais desagradável possível, brincando que não tem certeza “do quanto isso realmente funciona a meu favor, já que tenho apenas 1,80 metros”.
Os especialistas também consideram como evitar o estresse dos tubarões. “Esses são animais selvagens, e cada encontro deve ser nos termos deles”, afirma Márquez. Isso significa dar-lhes bastante espaço e nunca persegui-los ou encurralá-los.
“Nadar com tubarões já é um privilégio, não uma façanha em busca de emoção”, acrescenta. E o mais importante: nunca, jamais, tente tocar em um tubarão. “Nenhum de nós gosta de ser tocado sem o nosso consentimento”, acrescenta Williams, portanto, o mesmo vale para tubarões e outros animais.
Alguns especialistas temem que o aumento de imagens nas mídias sociais de profissionais interagindo com tubarões incentive as pessoas a correr riscos desnecessários – e, às vezes, a se machucar. As pessoas “acham que podem simplesmente subir e tocá-los ou montá-los, e esse não é o caso”, diz Williams, mesmo para espécies dóceis.
Quando se trata de tubarões, as pessoas geralmente se preocupam com a coisa errada, comenta Gregory. Com esses animais majestosos ameaçados pelas atividades humanas – inclusive pela pesca excessiva, a perda de habitat e a poluição – ele diz que “passamos tempo demais com medo dos tubarões, quando deveríamos estar preocupados com eles”.
