
É possível contrair gripe aviária por meio de ovos? Respondemos as principais dúvidas sobre a doença
Embora a gripe aviária esteja atingindo fortemente as granjas de aves, os ovos provavelmente não levarão o vírus para a mesa da sua cozinha.
A gripe aviária continua a ganhar manchetes em todo o mundo, principalmente por conta dos casos que têm sido registrados nos Estados Unidos, fica claro que a América Latina não está isenta de um possível surto.
Quanto mais tempo dura a contaminação de aves e outros animais pelo vírus da gripe aviária, maior é o perigo que representa para os seres humanos.
O Brasil viu ser confirmado seu primeiro foco de gripe aviária (também chamada de gripe do frango) no estado do Rio Grande do Sul, na última sexta-feira 16 de maio. O governo estadual confirmou a ocorrência em uma granja avícola de reprodução, na cidade de Montenegro, e em aves silvestres do Zoológico do município de Sapucaia do Sul.
Segundo fontes governamentais oficiais, este é o primeiro caso da doença em aves comerciais do Brasil. "No plano global, a circulação do vírus ocorre desde 2006, principalmente na Ásia, África e no norte da Europa", diz um informe sobre o tema no site do governo gaúcho. "Ao longo desses 20 anos, portanto, o Brasil conseguiu evitar a entrada da enfermidade na avicultura comercial".
Em janeiro de 2025, a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) lançou um painel interativo justamente para monitorar a influenza aviária A (H5N1) nas Américas, a fim de ter um controle maior dos surtos em diferentes locais.
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Qual é o virus da gripe aviária?
"A influenza aviária, comumente conhecida como gripe aviária, é uma doença causada por vírus influenza originários de aves", explica um artigo sobre o tema publicado pela Agência Brasil (veículo de notícias oficial do governo brasileiro).
"Esses vírus pertencem à família Orthomyxoviridae e incluem o A(H5N1). Eles afetam principalmente aves, mas também foram detectados em mamíferos, incluindo bovinos", continua a fonte. "A gripe aviária raramente afeta humanos, mas a orientação é que as pessoas se mantenham informadas e tomem as medidas preventivas recomendadas".
Nos Estados Unidos, relatos de outro vírus da gripe aviária chamado H5N9 em uma fazenda de patos na Califórnia (sendo uma nova variante do H5N1), que se espalha no gado e um gato que possivelmente infectou seu dono, aumentam a preocupação de que uma versão mais perigosa e infecciosa do vírus ainda possa evoluir.
À medida que o número de casos humanos também aumenta, alguns temem que possamos até mesmo acabar com outra pandemia em nossas mãos.
“Quanto mais isso circular e quanto mais casos humanos ocorrerem, maior será o risco de surgir um vírus capaz de se transmitir eficientemente de humano para humano”, expliva Angela Rasmussen, virologista da Universidade de Saskatchewan, no Canadá. “Isso é o que realmente precisamos evitar para impedir a ocorrência de outra pandemia.”
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Qual é a gravidade da gripe aviária em humanos?
A versão do vírus da gripe aviária que começou a infectar pessoas nos Estados Unidos em 2024 parece ser significativamente menos letal do que a versão por trás de casos humanos anteriores.
Nos mais de 900 casos humanos de H5N1 (a maioria deles na Ásia) registrados de 2003 a 2023, por exemplo, mais da metade foi fatal. No atual surto norte-americano (que também vem apresentando alguns casos em outros países das Américas), apenas um dos 68 casos confirmados terminou em morte.
“Na maioria das vezes, os casos humanos nos Estados Unidos foram leves”, diz Peter Halfmann, virologista do Instituto de Pesquisa sobre influenza da Universidade de Wisconsin-Madison.
Os casos podem estar mais brandos por alguns motivos possíveis: o vírus pode ter se tornado menos virulento com o passar dos anos, a imunidade às cepas anuais de influenza pode ter nos proporcionado algum nível de proteção, e a maioria dos casos da doença até agora em humanos ocorreu por meio de interações com gado infectado – e o vírus não é tão grave nem tão mortal nessa espécie.
A forma do vírus H5N1 que infecta o gado é uma variante chamada B3.13, enquanto uma variante chamada D1.1 está por trás dos surtos em aves selvagens e em fazendas de aves domésticas e da única morte humana no país. Essa variante mais perigosa em aves também pode explicar por que os gatos domésticos infectados estão ficando especialmente doentes, pois é mais provável que eles interajam e ataquem aves infectadas que voam para o quintal.
No entanto, variantes mais graves ainda podem representar um risco maior para os seres humanos, pois o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos acaba de anunciar que a D1.1 foi detectada em vacas de Nevada. Um trabalhador do setor de laticínios também já testou positivo para a variante, e casos mais graves podem ocorrer se ela se espalhar amplamente no gado.
Por enquanto, porém, um fato promissor permanece verdadeiro: “Ainda não há evidências de transmissão entre humanos”, diz Rasmussen.
É possível contrair a gripe aviária por meio de ovos, carne ou outros alimentos?
Também é encorajador o fato de que nenhum dos casos humanos nos Estados Unidos foi definitivamente associado a alimentos, portanto, o risco de alimentos contaminados chegarem à mesa da cozinha continua baixo. Um dos motivos para isso é que o órgão norte-americano responsável testa toda a carne bovina que entra no mercado para garantir que não esteja contaminada. Em dezembro, a agência também começou a testar o leite em massa.
Um dado importantíssimo: o cozimento da carne nas temperaturas recomendadas também mata o H5N1 e a torna segura para consumo. A pasteurização faz o mesmo com o leite e os ovos. “Não tenho preocupações quanto à segurança do leite pasteurizado adequadamente ou da carne e dos ovos cozidos, pois esse vírus não é muito resistente e a pasteurização e o cozimento devem matá-lo facilmente”, afirma Scott Weese, patobiólogo e veterinário da Universidade de Guelph, no Canadá.
No entanto, não se pode dizer o mesmo do leite não pasteurizado. “Houve relatos de uma infecção por H5N1 em uma criança na Califórnia associada ao consumo de leite cru, embora isso não tenha sido confirmado por diagnóstico”, diz Benjamin Anderson, epidemiologista que lidera a equipe de resposta à gripe aviária do Emerging Pathogens Institute na Universidade da Flórida. Mesmo assim, ele acrescenta, “considerando o que sabemos sobre como o leite cru pode conter concentrações muito altas de vírus, é provável que o consumo de leite contaminado resulte em uma possível infecção humana”.
A ração crua ou não pasteurizada para animais de estimação apresenta riscos semelhantes. É por isso que vários produtos lácteos não pasteurizados anunciados para uso em animais de estimação foram recolhidos devido à contaminação por gripe aviária – e a morte de um gato doméstico no Oregon (Estados Unidos) foi associada a alimentos crus contaminados para animais de estimação.
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Como se manter a salvo da gripe aviária?
Embora o risco de gripe aviária continue baixo para a maioria das pessoas, há várias medidas de bom senso que podem ser tomadas para ajudar a evitar que o vírus infecte seu animal de estimação ou seus entes queridos.
Uma dessas medidas é comprar apenas produtos de origem animal pasteurizados e cozinhar bem a carne. E se você precisar beber leite não pasteurizado, Anderson recomenda fervê-lo primeiro para reduzir o risco de infecção.
Também é importante que tanto os seres humanos quanto os animais de estimação fiquem longe de animais mortos, doentes ou com comportamento estranho na natureza, “especialmente pássaros e gatos”, diz Lakdawala, porque o vírus pode ser transmitido por meio de secreções de animais infectados.
Davis diz que também é aconselhável usar equipamentos de proteção, como protetores faciais, máscaras, macacões e luvas, caso você trabalhe com vacas leiteiras, aves, pássaros selvagens ou animais doentes em fazendas, zoológicos ou veterinários.
Manter-se atualizado com a vacina contra a gripe “também pode ajudar a reduzir a gravidade de uma infecção por gripe aviária se um indivíduo for infectado”, acrescenta Halfmann.
A proteção contra a gripe sazonal também reduz riscos mais amplos que poderiam prejudicar mais pessoas. “Queremos limitar a transmissão da gripe humana, uma vez que uma situação muito preocupante seria alguém ter gripe aviária e gripe sazonal, o que poderia criar a chance de ocorrência de um novo vírus da gripe com capacidade de transmissão entre as pessoas”, diz Weese.
Essa é uma das razões pelas quais os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos emitiram uma recomendação para aumentar os testes de gripe aviária entre as pessoas que chegam ao hospital com sintomas semelhantes aos da gripe. Fazer isso também pode ajudar a identificar subtipos do vírus e revelar onde as infecções estão ocorrendo para garantir que a transmissão entre humanos não comece a acontecer sem o nosso conhecimento.
“Ainda estamos em uma situação em que o vírus circulante é pouco infeccioso para os seres humanos”, diz Webby, ‘mas uma única mutação pode mudar isso rapidamente e as pessoas devem ser educadas e conscientizadas’.
Este artigo foi publicado em 19 de janeiro de 2025 e foi atualizado com a notícia do primeiro caso confirmado de gripe aviária em uma granja comercial no Brasil.
