
Beber clorofila virou tendência de bem-estar: mas será que realmente funciona?
Os influenciadores divulgam a água de clorofila como uma cura para tudo, desde acne até prisão de ventre. Embora existam pesquisas que comprovem isso, muitos dos estudos existentes sobre os benefícios da clorofila foram realizados em animais.
Se você acompanha regularmente influenciadores de bem-estar e fitness nas redes sociais, provavelmente já viu alguns vídeos de alguém elogiando a água com clorofila e seus supostos benefícios. Até mesmo o visual da adição de um suplemento de clorofila – geralmente vendido como uma tintura líquida – em um copo grande de água é atraente: uma nuvem escura e concentrada que acaba se dissipando, revelando um tônico verde esmeralda vibrante.
As promessas de pele melhor, hálito mais fresco, menos inchaço e mais energia são atraentes o suficiente para transformar a água com clorofila em uma das principais tendências de saúde da atualidade.
Mas será que ela realmente traz algum benefício real à saúde?
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A clorofila natural é encontrada em frutas e vegetais verdes, como espinafre, brócolis e kiwi.
Os benefícios de consumir clorofila existem de verdade?
Alguns dos supostos benefícios da água com clorofila incluem o alívio da constipação, a eliminação da acne, a melhora da digestão e o aumento da energia. Alegações maiores incluem a desintoxicação do corpo, o auxílio à perda de peso e até prevenção do câncer.
“Estudos demonstraram que a [clorofila] pode agir bloqueando a absorção de possíveis carcinógenos, como as nitrosaminas presentes em carnes processadas”, diz Ellen Kornmehl, médica aposentada especialista em câncer da Harvard Medical School. Ela também observa que a clorofila pode “inibir os insultos aos genes e o estresse oxidativo”, o que significa que ela pode ser capaz de diminuir os danos aos nossos genes causados pela exposição a toxinas ambientais, como a poluição do ar, bem como agir como um antioxidante para proteger contra os danos às células causados pelos radicais livres.
“Uma ressalva é que a clorofila também pode ter efeitos prejudiciais, como aumento da sensibilidade à luz, interação com medicamentos e, em alguns estudos, foi observada a promoção da progressão do tumor”, afirma a médica.
Os suplementos de clorofila também contêm cobre, que, em quantidades excessivas, pode levar à toxicidade do cobre.
Muitos influenciadores juram ter visto uma pele mais clara, sem acne e brilhante desde que começaram a beber água com clorofila. Mas alguns detratores atribuem a limpeza da pele simplesmente a um aumento na ingestão de água e na hidratação geral – algo que também ajuda naturalmente na digestão, constipação e energia. E embora um estudo de 2014 sobre a eficácia clínica da clorofila usada para o tratamento da acne tenha encontrado uma redução nos níveis de acne e sebo, isso ocorreu com o uso de clorofilina tópica, não de um suplemento oral.
“Os fabricantes de suplementos afirmam que a clorofila pode fazer muitas coisas, mas poucas dessas afirmações são respaldadas por evidências científicas”, comenta Surampudi. As pesquisas sobre o que a clorofila realmente faz no corpo são muito limitadas, e muitos dos estudos existentes foram feitos em animais.
É possível consumir clorofila em excesso?
A clorofila de origem natural das plantas não é considerada prejudicial aos seres humanos, mesmo em grandes quantidades. Os especialistas geralmente recomendam de 100 mg a 300 mg de clorofilina líquida por dia para adultos, mas são necessários mais estudos para determinar se essa é uma dose realmente eficaz em humanos.
“Como a FDA (Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos) não regulamenta os suplementos, é difícil saber os limites superiores”, diz Surampudi. “Os suplementos de clorofilina podem ter efeitos colaterais, incluindo problemas gastrointestinais, reações cutâneas e reações alérgicas.” Embora sejam geralmente considerados seguros, ela enfatiza que é importante consultar um profissional de saúde antes de tomar qualquer novo suplemento. Além disso, não foram realizadas pesquisas sobre a segurança da clorofilina em mulheres grávidas ou que estejam amamentando.
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Alimentos que são ricos em clorofila
Se você ainda tem curiosidade sobre a clorofila, pode obter sua ingestão simplesmente comendo verduras. Há diversos alimentos ricos em clorofila, que incluem espinafre, couve, mostarda, alfafa, salsa, repolho verde, aspargos, clorela e espirulina.
Além desses alimentos, geralmente é importante comer uma variedade de frutas e vegetais coloridos como parte de uma dieta saudável.
“Comer alimentos integrais, especialmente vegetais de folhas verde-escuras, é o melhor”, indica Kornmehl. “Eles oferecem um 'pacote' natural de compostos vegetais como betacaroteno, luteína, vitamina E, fibras e polifenóis anti-inflamatórios potentes, todos os quais promovem a saúde e podem agir sinergicamente.”

Os suplementos de clorofila são normalmente vendidos na forma de tintura ou pílula e geralmente são rotulados como “clorofilina”, que é a versão sintética do nutriente em que o átomo central de magnésio é substituído pelo cobre.
O que é a clorofila?
A clorofila é o pigmento verde de ocorrência natural encontrado nas células vegetais. Ela é usada como energia para converter o dióxido de carbono e água em alimento para as plantas durante a fotossíntese, um processo que também libera oxigênio no ar.
O nutriente é encontrado naturalmente em frutas e vegetais verdes, como espinafre, brócolis e kiwi.
Como suplemento, a clorofila é normalmente vendida em forma de tintura ou pílula, mas atenção: ela não é quimicamente idêntica à sua forma natural. “Geralmente, ela se apresenta na forma de clorofilina, uma forma solúvel em água da clorofila que contém cobre e sódio”, explica Vijaya Surampudi, professora associada de medicina e cocriadora dos serviços de suporte nutricional para adultos das clínicas de nutrição enteral, gerenciamento de NPT e oncologia nutricional da Universidade da Califórnia Los Angeles, nos Estados Unidos.
A clorofilina é uma versão sintética da clorofila em que o átomo central de magnésio é substituído pelo cobre, o que a torna muito mais estável do que a versão natural.
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São necessárias mais pesquisas sobre os benefícios da clorofila, e os especialistas também alertam que os efeitos colaterais do suplemento podem incluir desconforto gastrointestinal e reações alérgicas.
Por que a clorofila se tornou tão popular
No final da década de 1930, o pesquisador da Temple University, nos Estados Unidos, Benjamin Gruskin, estava interessado no uso da clorofila em feridas e úlceras infecciosas, mas seu experimento teve resultados mistos. Em 1947, o American Journal of Surgery relatou que os derivados da clorofila ajudaram a reduzir o odor nocivo de pacientes feridos em um hospital de guerra.
Na década de 1950, a clorofila foi comercializada como um poderoso desodorizante e desintoxicante e rapidamente apareceu nas prateleiras das lojas em uma série de produtos, incluindo pasta de dente, sabonete e goma de mascar.
Embora a popularidade da clorofila tenha diminuído, ela voltou a aparecer em meados da década de 2010, com YouTubers adicionando clorofila líquida em suas rotinas pessoais de saúde.
E agora, com o surgimento de influenciadores do bem-estar nas redes sociais e a proliferação da comunidade #HealthTok, essa prática popular se tornou popular – é parte integrante de muitos vídeos de “rotina matinal” e faz com que muitos espectadores clamem para comprar um frasco desse ingrediente aparentemente “mágico”.
Hoje, a hashtag #clorofila tem milhões de visualizações somente no TikTok. No entanto, as informações nas redes sociais sobre a eficácia da clorofila são, em grande parte, anedóticas, baseadas apenas na experiência pessoal de cada influenciador e, muitas vezes, não consideram outros fatores de estilo de vida que podem contribuir para a percepção da melhoria da saúde.
