A natureza é um bom remédio para o corpo e a mente. A ciência explica o porquê

A redução da pressão arterial e a melhora da cognição e da saúde mental são apenas alguns dos benefícios documentados de passar o tempo em espaços "verdes" e "azuis".

Por Stacey Colino
Publicado 11 de jul. de 2023, 10:08 BRT
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Em Cingapura, a vegetação cai em cascata de um hotel de luxo, acalmando os hóspedes em uma piscina na varanda e as pessoas na rua abaixo.

Foto de Lucas Foglia Nat Geo Image Collection

Os médicos não costumam prescrever que seus pacientes passem tempo na natureza, mas talvez devessem. Um conjunto robusto de pesquisas mostra que estar em espaços verdes – como parques, bosques, florestas, montanhas e similares – é benéfico para o bem-estar físico e mental das pessoas. Menos conhecidas são as vantagens de estar perto de oceanos, lagos e rios.

Um relatório chamado “Green and Blue Spaces and Mental Health” (Espaços verdes e azuis e saúde mental), publicado pela Organização Mundial da Saúde (OM) mostra que o tempo na natureza – incluindo áreas urbanas e periurbanas – melhora o humor, a mentalidade e a saúde mental. A pesquisa mostra que a exposição a florestas, parques, jardins ou litorais pode até mesmo atenuar o impacto psicológico das mudanças climáticas, apoiar a atividade física e oferecer oportunidades de interação social e lugares "para relaxar e deixar o estresse diário de lado por um tempo".

"Se pensarmos em nossa relação com a natureza, ela nos lembra que estamos inseridos no mundo natural, como espécie", destaca Patricia Hasbach, psicoterapeuta e ecopsicóloga em Eugene, Oregon, Estados Unidos. "Estamos meio que voltando para casa quando entramos em espaços azuis ou verdes. Isso promove um sentimento de fazer parte de algo maior do que nós mesmos."

Há muitas maneiras pelas quais a natureza é benéfica para nossa saúde psicológica e física. Um estudo recente, que pesquisou mais de 16 000 pessoas em 18 países, constatou que as pessoas que vivem em áreas verdes ou litorâneas relataram maior bem-estar geral positivo. Além disso, as pessoas que visitavam com frequência espaços verdes ou azuis (ao longo da costa ou no interior) para fins recreativos se sentiam melhor e sofriam menos problemas mentais.  

Outro estudo publicado no ano passado na revista Occupational & Environmental Medicine descobriu que as pessoas que visitam espaços verdes cinco ou mais vezes por semana têm um uso significativamente menor de medicamentos psicotrópicos, anti-hipertensivos e para asma do que aquelas que passam menos tempo na natureza.

Os benefícios para a mente e o corpo não param por aí.

Elementos restauradores na natureza

Embora os pesquisadores não tenham feito uma comparação direta entre as vantagens dos espaços verdes e azuis, há muitas evidências que apoiam os benefícios para a saúde mental de ambos os ambientes. Pesquisas demonstraram, por exemplo, que a prática japonesa de "banho na floresta" (também conhecida como Shinrin-yoku) – que envolve caminhar lentamente em uma floresta e inalar substâncias perfumadas chamadas fitoncidas, que são liberadas pelas árvores – reduz a pressão arterial das pessoas, alivia os sintomas depressivos e melhora sua saúde mental.

Pessoas fazem uma pausa na floresta na Coreia. A inalação de compostos naturais como limoneno e pineno em uma floresta pode diminuir a fadiga mental, induzir o relaxamento e melhorar o desempenho cognitivo e o humor.

Foto de Lucas Foglia Nat Geo Image Collection

Uma análise publicada no ano passado, com base em pessoas de 18 países, constatou que os adultos com melhor saúde mental têm maior probabilidade de relatar que passaram algum tempo brincando em águas costeiras e interiores quando crianças. Uma pesquisa anterior constatou que as pessoas que moram em casas com vista para o mar na cidade de Wellington, na Nova Zelândia, apresentaram níveis mais baixos de sofrimento psicológico do que aquelas cujas casas têm espaços verdes visíveis.

Há muitos mecanismos biológicos possíveis por trás das vantagens da exposição a ambientes naturais verdes ou azuis. Uma explicação é que esses benefícios provavelmente decorrem da chamada teoria da restauração da atenção, que propõe que a exposição à natureza ajuda a aliviar a fadiga mental e melhora a capacidade de concentração, explica Marc Berman, neurocientista ambiental e professor associado de psicologia da Universidade de Chicago. "Os seres humanos têm dois tipos de atenção: a atenção dirigida, que é a que usamos no trabalho e é o tipo de atenção que pode ser fatigada ou esgotada, e a atenção involuntária, que é automaticamente capturada por coisas interessantes no ambiente e não pode ser fatigada."

De fato, um estudo publicado em uma edição de 2019 da revista Frontiers in Psychology constatou que, depois que as crianças fizeram uma caminhada de 30 minutos em um ambiente natural – com campos de grama ondulados, terras agrícolas e áreas florestais –, elas tiveram um padrão de respostas mais rápido e estável a uma série de testes relacionados à atenção do que depois de caminharem em uma área urbana.

Além de captar sua atenção involuntária, passar um tempo na natureza pode provocar o que chamamos de "fascinação suave", uma experiência agradável que não exige sua atenção total. Dessa forma, "sua mente pode vagar e você pode pensar sobre as coisas ao mesmo tempo", diz Berman. "Quando as pessoas estão na natureza, elas tendem a pensar em tópicos relacionados à espiritualidade e à jornada de suas vidas."

Outra explicação para o fato de a natureza ter um efeito quase medicinal sobre a mente e o corpo é a chamada hipótese da biofilia, que sugere que os seres humanos têm um desejo inato de se conectar com a natureza e outras formas de vida.

Cheiros, imagens e sons da natureza acalmam nossos sentidos

Em um ambiente natural, não são apenas as cores azul e verde que são calmantes; as formas dos objetos também podem ser reconfortantes, observa Berman. Pesquisas descobriram, por exemplo, que observar padrões complexos que se repetem em escalas de tamanhos variados na natureza (samambaias, flores, montanhas ou ondas do mar) induz mais atividade de onda alfa no cérebro (medida com eletroencefalogramas, EEGs), que está associada a um estado relaxado, porém desperto, e à atenção internalizada.

"Quando estamos na natureza, geralmente estamos operando em um ritmo diferente", diz Hasbach, autor de Grounded: A Guided Journal to Help You Reconnect with the Power of Nature-and Yourself (Um diário guiado para ajudá-lo a se reconectar com o poder da natureza e consigo mesmo). "Isso permite a estimulação sensorial, permitindo-nos absorver o que vemos, ouvimos, cheiramos e sentimos. Isso nos ajuda a estar totalmente presentes."

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    Um engenheiro se conecta com a natureza em Lost Coast, na Califórnia.

    Foto de Lucas Foglia Nat Geo Image Collection

    Além disso, "associamos imagens e sons naturais a recursos importantes – há uma base evolutiva para isso", acrescenta Amber Pearson, geógrafa da saúde e professora associada do departamento de saúde pública da Michigan State University. "Quando os pássaros ficam em silêncio, isso geralmente é um sinal de perigo. Podemos perceber isso."

    O outro lado também é verdadeiro. As pessoas encontram conforto em muitos sons da natureza. Uma meta-análise da qual Pearson é coautor e publicada em 2021 examinou os benefícios para a saúde da exposição a sons naturais – de pássaros e animais, vento e água – em parques nacionais e descobriu que eles estavam associados à redução do estresse e do incômodo, à diminuição da dor e à melhora do humor. Os sons da água foram associados ao maior aumento do humor positivo, enquanto os sons de pássaros tiveram  impacto mais significativo na redução do estresse e do incômodo.

    Outro aspecto importante sobre passar um tempo na natureza é o que não está lá: tráfego e ruído das cidades. Uma revisão de estudos, publicada no ano passado na Environmental Research, examinou o papel da exposição a espaços verdes na prevenção da ansiedade e da depressão em adolescentes e adultos jovens, com idades entre 14 e 24 anos. A conclusão mais surpreendente? A ausência de ruído e as qualidades restauradoras dos espaços verdes promovem a atenção plena, que por sua vez reduz o risco de transtornos de ansiedade e depressão.

    Em outro nível sensorial, os pesquisadores descobriram que a inalação de compostos orgânicos voláteis, como limoneno e pineno, em uma floresta pode diminuir a fadiga mental, induzir o relaxamento e melhorar o desempenho cognitivo e o humor.

    Quando as pessoas passam algum tempo ao ar livre, geralmente o fazem caminhando, correndo, andando de bicicleta ou cuidando do jardim. Nesses casos, a combinação de movimento e cenário natural pode dobrar os benefícios. Por exemplo, um estudo publicado em uma edição de 2020 da revista Environmental Research descobriu que, depois que os funcionários de escritório caminharam por 20 minutos por dia em um espaço azul, eles obtiveram melhorias significativas no humor e na sensação de bem-estar em comparação com a caminhada pelo mesmo tempo em um espaço urbano.

    A natureza como remédio

    Embora os estudos recomendem pelo menos duas horas por semana em espaços verdes e azuis, "mesmo alguns minutos ao ar livre podem melhorar o humor e a função cognitiva", diz Eileen Anderson, antropóloga médica e psicológica e professora de bioética na Case Western Reserve University School of Medicine, em Cleveland, EUA. "Lembrar-se de aproveitar as pequenas oportunidades na natureza pode ajudar sua mente, seu corpo e seu espírito."

    Para esse fim, é uma boa ideia fazer "pausas na natureza" para se reagrupar e refrescar a mente – caminhando em um parque ou jardim próximo durante o horário de almoço, por exemplo. Enquanto estiver lá, sintonize-se com as vistas, os sons, os aromas e outras experiências sensoriais. "Se você puder encontrar ambientes que não exijam sua atenção direta e que estimulem sua atenção indireta, poderá restaurar sua atenção e energia mental", explica Berman. "Quanto mais você puder fazer pausas e entrar na natureza, melhor."

    Para ajudar a si mesmo quando não puder sair, você pode trazer elementos de espaços verdes e azuis para sua casa e colher benefícios semelhantes, diz Hasbach. Para isso, você pode incorporar plantas verdes (com um vaso de flores ou uma tigela de pinhas, por exemplo) ou fotografias ou pinturas de cenas da natureza ou do litoral em sua casa. Da mesma forma, você pode trazer aromas do mundo natural para dentro de casa, com flores perfumadas ou óleos essenciais como lavanda, rosa, limão ou alecrim.

    Se a sua casa estiver próxima a uma área arborizada, parque, jardim ou oceano, considere a possibilidade de abrir as janelas e convidar os sons suaves do canto dos pássaros ou das ondas a entrar. Caso contrário, você pode usar um aplicativo para trazer os sons dos pássaros, da chuva, do oceano ou de outros elementos da natureza para sua casa, sugerem os especialistas.

    "O que é especialmente promissor é o quão dinâmico é o impacto do ar livre em nosso cérebro", diz Anderson. "Mesmo que a natureza não tenha feito parte da vida de alguém, nunca é tarde demais para acrescentar experiências com a natureza em sua vida para melhorar o bem-estar."

    Leitores, vocês fazem pausas na natureza? Acham que elas o ajudam? Conte para nós!

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