Os adoçantes artificiais presentes nos refrigerantes dietéticos podem potencialmente desencadear atividades cerebrais relacionadas à fome, levantando ...

Os refrigerantes diet podem te deixar com mais fome? Veja o que dizem os especialistas

A ideia de que refrigerantes dietéticos ajudam a perder peso está se tornando cada vez mais obsoleta, pesquisas recentes sugerem que eles podem confundir o cérebro e desencadear uma vontade de comer.

Os adoçantes artificiais presentes nos refrigerantes dietéticos podem potencialmente desencadear atividades cerebrais relacionadas à fome, levantando questões sobre seu papel no controle de peso.

Foto de Narong KHUEANKAEW, iStock, Getty Images
Por Lori Youmshajekian
Publicado 19 de ago. de 2025, 07:02 BRT

Milhões de pessoas consomem refrigerantes dietéticos todos os dias, uns pelo sabor, mas a maioria com a intenção de reduzir a ingestão de açúcar, controlar o peso ou fazer escolhas mais saudáveis

Porém, novas pesquisas sugerem que essas bebidas adoçadas artificialmente podem fazer mais do que satisfazer o desejo por doces — elas também podem estar silenciosamente reprogramando a forma como o cérebro regula a fome.

Os adoçantes artificiais são há muito tempo controversos por sua possível ligação com o câncer e a saúde intestinal precária. No entanto, alguns estudos sugerem que adoçantes como a sucralose podem estimular as regiões do cérebro envolvidas na sinalização da fome, potencialmente desencadeando a vontade de comer

Não está claro se isso leva ao ganho de peso corporal, mas a antiga ideia de que refrigerantes dietéticos ajudam na perda de peso está se tornando cada vez mais complicada.

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O que a sucralose faz de diferente em relação ao açúcar?


Quando você come ou bebe algo com muitas calorias — como um refrigerante açucarado —, seu corpo inicia uma cascata de respostas destinadas a gerenciar a energia. glicose é absorvida pela corrente sanguínea, seu intestino libera hormônios como GLP-1 e leptina, e seu pâncreas produz insulina

Juntos, esses sinais informam ao hipotálamo — o centro de comando do cérebro que regula a fome — que a energia chegou, ajudando você a se sentir saciado e satisfeito.

Mas esse ciclo de feedback é interrompido quando adoçantes artificiais como a sucralose entram em cena. Essas mudanças podem ser observadas por meio de exames de ressonância magnética funcional que mostram a atividade no hipotálamo e suas conexões com outras regiões do cérebro, diz Kathleen Page, endocrinologista e diretora do Instituto de Diabetes e Obesidade da Faculdade de Medicina Keck da Universidade do Sul da Califórnia, nos Estados Unidos. 

“Acreditamos que [essa atividade] possa ser um biomarcador do sinal de saciedade”, explica a endocrinologista. A ingestão de glicose normalmente causa uma diminuição na atividade hipotalâmica, que está associada à sensação de saciedade. Já a sucralose, um adoçante artificial, parece aumentar a atividade nessa região do cérebro.

A equipe de Page testou isso dando a 75 jovens adultos bebidas adoçadas com sucralosesacarose (açúcar de mesa) ou água pura. Ao longo da pesquisa, eles descobriram que as bebidas adoçadas com sucralose aumentavam o fluxo sanguíneo para o hipotálamo e resultavam em aumento da sensação de fome, enquanto as bebidas adoçadas com sacarose reduziam o fluxo sanguíneo e a fome. E, ao contrário da sacarose, eles descobriram que os adoçantes artificiais não aumentavam os níveis de insulina e GLP-1 no sangue — alguns dos hormônios ligados à promoção da saciedade. Estudos anteriores em camundongos mostram resultados semelhantes.

Uma possível explicação? Uma desconexão entre sabor e nutrição. A sucralose é centenas de vezes mais doce que o açúcar, mas não contém calorias. “Quando o cérebro recebe um sinal de doçura, ele antecipa que os nutrientes virão em seguida”, diz Page. 

Mas quando isso não acontece, a incompatibilidade pode estimular o apetite “porque o cérebro ainda está procurando por esse nutriente”, explica Page, acrescentando que esse fenômeno foi observado em camundongos, que desejam mais alimentos açucarados depois de consumir um adoçante artificial.

 As águas com gás com sabores naturais oferecem uma opção sem açúcar e sem adoçantes que ...

 As águas com gás com sabores naturais oferecem uma opção sem açúcar e sem adoçantes que alguns especialistas recomendam em vez dos refrigerantes dietéticos para controlar os desejos por algo doce.

Foto de Olga Yastremska, Alamy

Tudo isso pode levar ao aumento de peso?


Os adoçantes artificiais não afetam apenas o cérebro, mas também o metabolismo. Um estudo de 2020 descobriu que, quando a sucralose era consumida junto com carboidratos — que são decompostos em glicose no corpo —, ela prejudicava o metabolismo da glicose, tornando os participantes menos sensíveis à insulina. 

“Ao adicionar um adoçante artificial, você altera o destino metabólico da glicose”, afirma Dana Small, neurocientista e psicóloga especializada em metabolismo da Universidade McGill, em Montreal, Canadá, e pesquisadora principal do estudo.

Embora os adoçantes artificiais pareçam interromper esses sinais, as evidências sobre se isso leva ao ganho de peso são contraditórias. Vários estudos de coorte de grande porte associaram os adoçantes artificiais a um risco aumentado de obesidade e ganho de peso. Um estudo recente descobriu que aqueles que bebiam bebidas dietéticas diariamente eram mais propensos a desenvolver diabetes tipo 2

Outros resultados recentes mostram que o alto consumo de bebidas dietéticas de sacarina (mas não aspartame ou sucralose) está associado a um risco maior de desenvolver diabetes. Outro estudo de 20 anos descobriu que as pessoas acumulavam mais gordura corporal se fossem consumidoras mais frequentes de adoçantes.

Mas correlação não é causalidade. “Pessoas que consomem adoçantes artificiais tendem a se preocupar mais com o peso”, diz Small. “É o adoçante artificial que causa o ganho de peso ou é o ganho de peso que leva ao uso de adoçantes artificiais?” Ainda assim, agências internacionais incorporaram esses resultados em suas recomendações de saúde. 

Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou contra o uso de adoçantes artificiais para controle de peso em 2023, citando evidências que os associam a um risco aumentado de obesidade e diabetes tipo 2.

Ensaios clínicos randomizados também produziram resultados conflitantes. Alguns mostram que substituir bebidas açucaradas por adoçantes artificiais, especialmente como parte de um programa de perda de peso, pode levar a uma perda de peso modesta. Mas outras evidências mostram o contrário. 

Os resultados apresentados na reunião da Associação Norte-Americana de Diabetes deste ano mostraram que mulheres com diabetes tipo 2 que trocaram bebidas dietéticas por água tinham 2x mais chances de entrar em remissão. Elas também perderam cerca de 2Kgs a mais do que aquelas que continuaram tomando as bebidas dietéticas.

(Conteúdo relacionado: O que acontece com o corpo se você deixar de comer açúcar?)

O papel da “sensação de fome” — e por que ela pode não ser importante


Embora estudos mostrem que os adoçantes artificiais podem estimular o apetite, alguns pesquisadores argumentam que a fome em si pode não ser a principal razão pela qual comemos.

“Não é tão comum que comamos porque estamos com fome e paremos de comer porque estamos satisfeitos”, comenta Richard D. Mattes, cientista nutricionista da Universidade Purdue, em Indiana, Estados Unidos. 

tédioo desejo por uma experiência sensorial ou estar em um ambiente social estão entre as outras razões pelas quais as pessoas podem começar comer. “A fome real é um fator relativamente menor para isso”, diz ele.

Idealmente, todos deveriam beber água pura. “Mas o problema é que as pessoas optam por bebidas para satisfazer outros desejos de estimulação sensorial”, comenta Mattes. Se uma bebida adoçada com baixo teor calórico substitui uma bebida rica em energia e ajuda as pessoas a cumprir uma dieta, então ela tem uma função, acrescentou.

Ainda assim, outros pedem mais cautela, dadas as evidências crescentes sobre os efeitos adversos das bebidas à saúde. Page aconselha seus pacientes com diabetes a evitar bebidas açucaradas e adoçadas artificialmente, já que o sabor doce, independentemente da fonte, pode aumentar o apetite ou desencadear desejos. 

Para aqueles que não conseguem abrir mão do gás do refrigerante, ela recomenda águas gaseificadas com sabores naturais.

“O ponto principal é que os adoçantes artificiais não são inertes como se pensava anteriormente”, afirma Small. “E acho que a maior parte das evidências sugere que eles não são saudáveis.”

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