Qual é a origem do vinho?
Os vinhos são populares no mundo todo e há séculos acompanham a história humana. Acima, um exemplar do vinho Tokaj, típico da Hungria, em uma vinícola na cidade de Mád.
Presente para celebrar momentos importantes, brindar com a família e os amigos, acompanhar bons pratos no dia a dia… O vinho faz parte da vida das pessoas em todo mundo e movimenta uma enorme indústria global de produção e comércio. E a origem dessa bebida remonta a épocas bastante antigas, confundindo-se com a história da humanidade.
De acordo com a definição da Encyclopaedia Britannica (plataforma de conhecimento e educação do Reino Unido), o vinho é feito basicamente do suco fermentado da uva do gênero Vitis, da espécie V. vinifera (muito usada na Europa). Ainda existem outras espécies de uva que também são utilizadas para produzir vinhos e é possível produzir diversos tipos e variações, os quais permitem sabores diversos provenientes de diferentes regiões – sejam eles vinhos tintos, brancos ou rosés.
Conheça um pouco sobre a origem do vinho e saiba como foi sua evolução ao longo do tempo, acompanhando a história humana até se tornar uma bebida tão presente e importante economicamente.
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Na foto, vemos uma colheita manual de uvas em Komen, na Eslovênia, para a fabricação de vinho. Atualmente, muitas vinícolas adotaram a colheita mecanizada para deixar o processo mais rápido.
A origem milenar do vinho
Os seres humanos cultivam as uvas viníferas há milênios: estima-se que a produção de vinho pode ter se iniciado há mais de 4 mil anos a.C., segundo estudos de historiadores, arqueólogos e antropólogos de grandes universidades. De acordo com um livro publicado pela Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, e intitulado “Ancient Wine: The Search for the Origins of Viniculture“ (“Vinho Antigo: A busca pelas origens da Vinicultura), de Patrick E. McGovern (um arqueólogo e professor adjunto do Museu de Arqueologia e Antropologia da Universidade estadunidense da Pensilvânia), há a possibilidade do vinho ser quase tão antigo quanto o Homo sapiens.
Segundo a obra, o vinho conhecido hoje pode ter surgido algum tempo depois que o Homo sapiens se aventurou a sair da África Oriental, há cerca de 2 milhões de anos, e experimentou pela primeira vez a Vitis vinifera sylvestris, uvas selvagens da Eurásia – entre 8 mil a 4 mil anos c.C.
Esses primeiros encontros das pessoas com as uvas podem ter ocorrido onde atualmente se localizam Israel e Jordânia, ou talvez mais ao norte, na Turquia, Síria ou Irã. De acordo com o livro, ainda não se sabe se eles descobriram o vinho de uva por acidente ou se deliberadamente exploraram as possibilidades e criaram novas técnicas para obter o vinho.
Já como explica um artigo da Encyclopaedia Britannica (uma plataforma de conhecimentos gerais baseada no Reino Unido), justamente nessa região do Oriente Médio a Vitis vinifera vinha sendo cultivada há mais de 4 mil anos a.C.
As evidências arquiológicas sugerem que a domesticação das uvas ocorreu durante o período Neolítico, na região da Transcaucásia, entre os mares Negro e Cáspio, onde se localizava a antiga Mesopotâmia, corroborando as informações do livro de McGovern.
Registros egípcios datados de 2.500 a.C. mencionam o uso de uvas para a fabricação de vinho, relata também a Britannica. Além disso, há várias referências bíblicas ao vinho que indicam a sua antiga origem e a importância da bebida no Oriente Médio.
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Uma placa romana de mármore do século 1 d.C. com escultura representando o transporte de vinho em barris por barco. Descoberta em terras agrícolas em Cabrières d'Aigues, na França. Hoje faz parte do acervo do Museu do Vinho Brotte em Chateauneuf-du-Pape, na França.
A difusão da cultura do vinho
Não só os antigos egípcios cultivavam as uvas e produziam vinho. Uma outra civilização antiga também aprendeu a técnica e fez do vinho parte de sua cultura: os gregos. A produção de vinho chegou à Grécia, onde permeou todos os aspectos da sociedade grega da época, marcando presença na literatura, na mitologia, na medicina e no lazer, como conta um artigo da Universidade de Cornell, também nos Estados Unidos, que promoveu há alguns anos uma mostra sobre a história do vinho.
Quando estava em seu auge, a civilização grega contribuíu para difundir a cultura do vinho nos locais por eles colonizados, como nas regiões ao norte do Mediterrâneo e na costa do Mar Negro, compartilhando o hábito com a civilização etrusca e, mais tarde, com os romanos e os celtas, conforme explica a World History Encyclopedia (uma plataforma de conhecimento sobre história mundial).
Mais tarde, quando o Império Romano dominou a Grécia (em aproximadamente 168 c.C.), os romanos levaram algumas mudas de videira da Grécia para a Itália, cultivando as uvas além de seu território e ampliando para seus domínios.
Isso aconteceu nos vales do Reno e do Mosela, que se tornaram as grandes regiões vinícolas da Alemanha e da Alsácia (região histórica situada no nordeste da França), do Danúbio (onde hoje estão Romênia, Sérvia, Croácia, Hungria e Áustria), e ainda para os vales do Ródano, de Saône, Garonne, Loire e Marne – locais onde hoje estão grandes regiões francesas produtoras de vinho como Borgonha, Bordeaux, Loire e Champagne, afirma a Britannica.
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Há diversos tipos de vinhos de acordo com as uvas e localidades onde são produzidos, sendo que alguns possuem denominação de origem controlada com diferentes siglas em cada país.
Como o vinho chegou às Américas (ou ao Novo Mundo)
Muitos séculos depois, as uvas e o vinho também chegaram ao “Novo Mundo”, ou seja, às Américas, criando mais locais de produção e de mercado consumidor.
Após as viagens do navegador italiano Cristóvão Colombo no século 14, a cultura da uva e do vinho foram levadas às Américas. Os missionários espanhóis levaram a viticultura para onde hoje é o Chile e a Argentina em meados do século 16, e para a região da baixa Califórnia no século 18.
Com o fluxo de imigração europeia no século 19 e início do século 20 nas Américas, foram desenvolvidos setores modernos de produção de vinho baseados em uvas V. vinifera importadas. As principais regiões vinícolas da América do Sul foram estabelecidas aos pés das Cordilheiras dos Andes. Já onde atualmente se encontra o estado da Califórnia, nos Estados Unidos, estão centros da viticultura como o Central Valley e os condados de Sonoma, Napa Valley e Mendocino, ao norte do estado.
O vinho chegou ainda mais longe, pois os colonos britânicos plantaram videiras europeias na Austrália e na Nova Zelândia no início do século 19. Já os colonos holandeses levaram uvas da região do Reno para a África do Sul muitos anos antes, já em 1654, e o país é também um importante produtor da bebida na atualidade.