
Quer saber como era Jerusalém na época de Jesus? Um estudioso fez essa descoberta
Mosaico que retrata Jesus Cristo em cima de um jumento dentro da Igreja da Natividade, que fica em Belém, onde hoje é Israel.
Christiaan van Adrichom quase certamente nunca visitou Jerusalém, que fica onde hoje é Israel, antes de fazer esse mapa em 1584. Ele era um padre católico que trabalhava em Colônia, no que atualmente é a Alemanha, em uma época em que a Terra Santa estava com os muçulmanos há séculos, tornando-a um lugar difícil para os peregrinos cristãos visitarem.
No entanto, Adrichom conseguiu criar um mapa extremamente popular que não só permitiu que os cristãos europeus imaginassem uma viagem a uma cidade que a maioria deles nunca poderia fazer, mas também os levou de volta no tempo para imaginar a cidade como ela existia na época de Jesus Cristo.

Este mapa de Jerusalém de 1584, feito por um padre europeu que nunca visitou a cidade, retrata cenas da vida de Cristo em cores vivas.
O mapa está repleto de pelo menos 270 pontos de referência da tradição cristã, todos numerados e relacionados a legendas em um livreto que o acompanhava. Adrichom baseou-se no trabalho de cartógrafos anteriores, bem como na Bíblia e em relatos de estudiosos e peregrinos antigos.
O mapa olha para Jerusalém a partir do oeste, com o leste na parte superior do mapa. A grade ordenada de ruas parece ser baseada em uma descrição excessivamente simplificada da cidade feita pelo historiador do século 1, Flávio Josefo.
Em contraste com os edifícios de pedra calcária espessa que teriam dominado Jerusalém na época de Cristo, os edifícios no mapa de Adrichom são suspeitosamente semelhantes em estilo à arquitetura mais ornamentada da Europa do século 16.

Os detalhes do mapa de Adrichom retratam (em sentido horário, a partir do canto superior esquerdo) a chegada de Cristo a Jerusalém em um jumento no Domingo de Ramos; a Última Ceia; seu julgamento perante Pôncio Pilatos; e sua crucificação no Monte Calvário, que se desenrola em várias cenas, terminando com sua mãe, Maria, segurando seu corpo (número 255).
As diversas fases da vida de Jesus
Episódios importantes da vida de Jesus estão espalhados pelo mapa. Ele chega a Jerusalém em um jumento, conforme descrito no Novo Testamento, cercado por discípulos e precedido por uma figura que espalha galhos na estrada à frente deles (número 214).
A Última Ceia, onde Jesus previu sua traição por Judas, aparece dentro dos muros da cidade (número 6), e o julgamento de Jesus perante Pôncio Pilatos, o governador romano que ordenou sua execução, ocorre à esquerda do centro (número 115).
A partir daí, Adrichom retrata Jesus carregando uma cruz de madeira até o Monte Calvário (número 235), onde foi crucificado, conforme representado por imagens de 14 eventos distintos. Ainda hoje, alguns cristãos comemoram a Sexta-Feira Santa reconstituindo o caminho de Jesus, parando para rezar nas 14 estações da cruz, na chamada Via Crucis.
Adrichom ilustra os eventos dos últimos dias da vida de Jesus como se estivessem acontecendo simultaneamente, mas ele realiza proezas ainda maiores quando à distorção do tempo. Os invasores que conquistaram Jerusalém ao longo de sua história circundam a cidade juntos, todos de uma vez.
Os assírios que invadiram no século 8 a.C. montaram suas tendas no lado direito do mapa, enquanto os caldeus que sitiaram a cidade no século 6 a.C. estão acampados à esquerda, não muito longe, estão no mapa dos conquistadores romanos que chegaram no ano 70 d.C..
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O monge franciscano Francisco Quaresmius publicou este mapa mais realista de Jerusalém em 1639, baseado em parte em suas viagens à Cidade Santa. No entanto, sua orientação é diferente, com o oeste na parte superior e o leste na parte inferior.
Viajantes de poltrona, por livros e mapas
Jerusalém era uma cidade de menor importância no Império Otomano na época do padre Adrichom, mas seu significado religioso fazia com que ela ainda fosse muito importante na imaginação europeia. Desde a invenção da imprensa, um século antes, histórias, guias de viagem e outros livros sobre a Terra Santa se tornaram cada vez mais populares e disponíveis para compra.
Mas o que os europeus procuravam nessas obras não era algo que pudessem realmente usar para planejar uma viagem, escreve o geógrafo histórico Rehav Rubin, da Universidade Hebraica de Jerusalém, em um artigo de 1993 na revista de arqueologia bíblica Bible Review. "Poucos europeus viajaram de fato para Jerusalém. Eles compravam mapas e livros que refletiam seu interesse nas ideias e nos eventos associados à Cidade Santa, não em seus detalhes físicos."
O mapa de Adrichom fez exatamente isso. Ele foi impresso em várias edições nos séculos seguintes e traduzido para vários idiomas, o que comprova sua popularidade. Por quase 300 anos, a visão de Jerusalém dos cristãos europeus foi moldada, em grande parte, justamente por esse mapa colorido e altamente imaginativo.
** Este trecho foi extraído do novo livro da National Geographic “All Over the Map”, um passeio guiado pelos mapas mais incríveis do mundo, montado por Betsy Mason e Greg Miller, autores da série “All Over the Map”.
