No clássico filme alemão “Nosferatu”, de 1922, o personagem principal é atingido pela luz do sol ...

Por que os vampiros são alérgicos ao sol? Descubra a origem desta famosa lenda

O clichê dos vampiros queimando ao sol é uma invenção do século 20 — mas os vampiros diurnos estão voltando à moda nas ficções atuais.

No clássico filme alemão “Nosferatu”, de 1922, o personagem principal é atingido pela luz do sol e entra em chamas alguns segundos depois. Esse momento causou uma mudança fundamental no folclore sobre vampiros, criando o conceito de que os vampiros são criaturas noturnas, incapazes de existir à luz do sol.

Foto de of Allstar Picture Library Ltd, Alamy Stock Photo
Por Kelly Faircloth
Publicado 29 de out. de 2025, 10:01 BRT

Graças a séculos de folclorelivros, filmes, séries e programas de TV, os vampiros estão profundamente gravados na imaginação popular: como sendo as criaturas bebem sanguedormem em caixões, se afastam diante do alho e dos crucifixos e são suscetíveis a uma estaca de madeira cravada no coração. Mas talvez, acima de tudo, sejam criaturas da noite que não suportam a luz do diafogem do sol.

Mas nem sempre é assim. Algumas histórias de vampiros até imaginam o oposto, uma criatura paralela que pode existir ao sol: um daywalker (ou criatura do dia, que pode caminhar tranquilamente ao sol). O daywalker é uma ideia nova e antiga na tradição dos vampiros — uma prova da flexibilidade infinita dessas criaturas como recurso narrativo. 

Veja as diferentes criações da ficção ao longo tempo e como o tema dos vampiros evoluiu na cultura mundial.

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As origens dos vampiros noturnos


tradição vampírica é ricadiversificada e muito antiga, com raízes profundas no folclore, e essas criaturas míticas têm uma longa associação com a escuridão e a noite.

Os humanos até usaram isso a seu favor: “Especificamente na China, havia essa ideia de que, se você colocasse um saco de arroz na frente de sua casa e o vampiro da mitologia chinesa encontrasse o saco, ele contaria obsessivamente cada grão e não perceberia que o sol estava nascendo e assim, poderia morrer queimado”, diz Laura Westengard, professora de literatura gótica na Faculdade de Tecnologia da Universidade Cidade de Nova York, CuNY.

 No livro “Drácula”, de Bram Stoker, publicado em 1897, embora mais fraco durante o dia, Drácula ...

 No livro “Drácula”, de Bram Stoker, publicado em 1897, embora mais fraco durante o dia, Drácula ainda era capaz de viver à luz do sol sem se queimar.

Foto de Illustration Courtesy of the British Library archive, Bridgeman Images

Mas muitos dos vampiros da grande onda de literatura vampírica da Europa Ocidental do século 19 eram, na verdade, sim capazes de se movimentar à luz do sol. As criaturas de “O Vampiro”, de John Polidori, de 1819, “Carmilla”, de Joseph Sheridan Le Fanu, de 1872, e até mesmo “Drácula”de Bram Stokerde 1897, eram mais fracas durante o dia, mas não pegavam fogo como uma pilha de palha seca e morriam ao sol. “Eles preferem dormir, mas não vão pegar fogo e morrer”, diz Westengard.

Esse desenvolvimento narrativo da “alergia ao sol” deve muito ao filme mudo expressionista alemão “Nosferatu”de F.W. Murnau, de 1922, que se inspirou fortemente na história de Drácula” de Stoker, mas acrescentou uma grande reviravolta: no final, o maligno Conde Orlok é surpreendido pelo sol nascente e desaparece em uma nuvem de fogo.

É aí que tudo começa, naquele momento específico, naquela pequena mudança que ele faz, que dura apenas cerca de três segundos do filme”, comenta Stanley Stepanic, professor assistente da Universidade da Virgínia, nos Estados Unidos. Não está totalmente claro por que Murnau fez isso, mas a adição provou ser duradoura. “Essa mudança no folclore em torno dos vampiros ocorre exatamente ali, e depois vemos isso se tornar um grande tema.”

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Como os vampiros diúrnos se tornaram mais proeminentes


No final da década de 1990, a vulnerabilidade dos vampiros à luz solar estava tão profundamente enraizada na cultura popular mundial que a famosa marca de óculos de sol Ray Ban a transformou na piada de uma campanha publicitária irreverente do final dos anos 1990, apresentando vampiros elegantes protegidos pelos óculos da marca. 

É um dos tropos que os escritores que utilizam a tradição vampírica são obrigados a abordar, tecendo sua interpretação da regra na construção de seu mundo. A autora da saga literária “Crepúsculo”Stephanie Meyer, ficou famosa por atribuir a preferência de seus vampiros pela escuridão e pela melancolia chuvosa à necessidade de esconder sua pele brilhante.

Mas grande parte do poder perene da tradição vampírica reside nas possibilidades de reinvenção, então algumas histórias optam por brincar com o poder de uma criatura semelhante a um vampiro que também pode sobreviver durante o dia. Um dos melhores exemplos: o filme de super-heróis “Blade, de 1998, que é baseado nos quadrinhos da Marvel.

Criado originalmente como um super-herói da Marvel na década de 1970Blade está entre a linha que separa vampiros e humanos. Tanto nos quadrinhos quanto na adaptação para o cinema, sua mãe grávida foi mordida por um vampiro, tornando-o imune à mordida de vampiros e especialmente dotado como caçador de vampiros. Mas o filme aumentou suas habilidades, explica Stepanic, dando a Blade um nome sinistro — Daywalker — e uma mística ainda maior entre seus inimigos.

A história coloca Blade contra uma sociedade vampírica dividida entre duas facções rivaisvampiros “puros”, nascidos de pais vampiros, e vampiros “criados”, que nasceram humanos e mais tarde se transformaram. O filme culmina com uma tentativa de golpe vampírico que requer a coleta do sangue de Blade para um ritual arcano para invocar um deus antigo. É a existência de Bladepreso entre dois mundos, que o torna um personagem tão enigmático e atraente.

Blade mostra como séculos de histórias sobre vampiros geraram a criação de enredos cada vez mais elaborados e novas reviravoltas que mantêm a mitologia atualizada e envolvente para o público.

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Reimaginando um grupo de vampiros diurnos, daywalkers


Outro projeto de ficção que gira em torno da ideia dos daywalkers é “Zombies 4: A Era dos Vampiros”, filme disponível no Disney+. O filme é um recente lançamento de uma franquia original do Disney Channel que trata fundamentalmente da resolução de conflitos e da superação de diferenças. Suas primeiras versões apresentavam zumbis contra líderes de torcida, depois integraram lobisomens e alienígenas, e agora estão adicionando vampiros à mistura — mas com uma reviravolta.

“A história é sobre opostos, certo? É sobre opostos aprendendo uns sobre os outros”, comenta o diretor Paul Hoen. Daí: nightwalkers (vampiros nocturnos) contra daywalkers (os diurnos).

A partir dessa ideia básica, a equipe construiu duas comunidades paralelas. Os vampiros diurnos vivem e reverenciam o sol, daí uma cidade de vidro, piscinas e luz, explica Hoen. Eles têm o poder de criar uma bola de energia que podem usar para fazer coisas como acender fogueiras e criar fogos de artifício. Os vampiros noturnos, por sua vez, têm o poder de controlar o vento.

Como a franquia é voltada para crianças, não há imortalidade ou consumo de sangue; em vez disso, os dois grupos se alimentam da mesma “fruta sangrenta”.

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    Foto de Paolo Verzone, VU

    Como o arquétipo do vampiro continua a evoluir


    Mas o vampiro tradicionalque só aparece à noite, ainda exerce uma enorme influência na cultura popular. Veja-se o grande sucesso do filme de Ryan Coogler“Pecadores”, que se desenrola ao longo de 24 horas, quando dois irmãos gêmeos abrem um bar e enfrentam um vampiro chamado Remmick, que surge da noite escura do delta do Mississippi para sitiar o seu estabelecimento. Os protagonistas têm apenas de sobreviver à noite — se conseguirem.

    No fim das contas, explica Westengard, “não existe uma versão verdadeira do vampiro”. Mas isso é uma grande parte do que dá tanto poder ao vampiro e explica por que essas criaturas mortas-vivas reaparecem repetidamente na cultura pop“Somos capazes de projetar nossas ansiedades e desejos nessas figuras e, a qualquer momento, a aparência delas muda.”

    Os vampiros surgiram como símbolos carismáticos, poderosos e elásticos que podem atender a uma variedade surpreendente de necessidades narrativas: “Com o tempo, o vampiro se transformou tanto na mídia que se tornou um símbolo geral de basicamente qualquer coisa na existência humana”, afirma Stepanic. 

    Os contadores de histórias podem usar os vampiros da maneira que quiserem, em qualquer meio que quiserem. “Ele se tornou basicamente um espelho da raça humana.”

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