Sobreviventes do avião uruguaio que caiu nos Andes se juntam na fuselagem de sua aeronave destruída ...

Acidente dos Andes: um relato passo a passo da história real da tragédia nas montanhas das cordilheiras

TO acidente de avião do time de rúgbi uruguaio em 1972 inspirou livros, filmes e séries ao longo dos anos. Conheça mais dessa emocionante história de resistência, amizade, sobrevivência, morte e canibalismo.

Sobreviventes do avião uruguaio que caiu nos Andes se juntam na fuselagem de sua aeronave destruída em 22 de dezembro de 1972, logo após a chegada das equipes de resgate. Para sobreviver por 72 dias no ambiente hostil, eles recorreram à ingestão da carne de outros passageiros mortos.

Foto de CSU Archives, Everett Collection, Bridgeman Images
Por Parissa DJangi
Publicado 16 de jan. de 2024, 08:00 BRT

Em 13 de outubro de 1972, o voo 571 da Força Aérea Uruguaia caiu nas Cordilheiras dos Andes com 45 pessoas a bordo. Após 72 dias nas montanhas geladas, apenas 16 sobreviveram. Esse terrível acidente inspirou vários filmeslivrosséries – e até a criação de um museu em homenagem aos passageiros. 

A história real do voo 571 é uma história de morte e vidatragédia e resistência, quando um grupo de pessoas jogadas em condições extremas fez o que precisava fazer para sobreviver – inclusive o impensável.

O voo 571 cai nos Andes

O voo 571 era um voo fretado naquele dia de outubro. Ele transportava membros do time de rúgbi Old Christians Club, além de alguns amigos e familiares. Eles estavam viajando de MontevidéuUruguai, para Santiago, capital do Chile, para um jogo. Apenas um passageiro não tinha relação com o time.

Quando o avião se aproximava do destino, o copiloto, o tenente-coronel Dante Lagurara, que pilotava o avião, pediu permissão para aterrissar no aeroporto de Santiago. E, então, o avião iniciou sua descida.

Em 1972, o voo 571 da Força Aérea Uruguaia caiu em uma geleira remota perto da montanha El Sosneado, na província de Mendoza, na Argentina. Das 45 pessoas a bordo do avião, apenas 16 sobreviveram – e tiveram que suportar condições extremas, desde nevascas a até avalanches.

Foto de MARIANA SUAREZ, AFP, Getty Image

Havia um problema: Lagurara e o piloto Coronel Julio César Ferradas haviam identificado erroneamente a posição do avião. Assim, quando o avião desceu das nuvens, ele não se aproximou da pista de pouso do aeroporto, mas caiu em um vale no alto das montanhas dos Andes.

Trinta e três pessoas conseguiram se salvar em um primeiro momento, e uns aos outros, dos destroços. Em seguida, eles enfrentaram um desafio ainda maiorpermanecer vivos nos Andes congelados, onde as temperaturas caíam abaixo de zero e as nevascas despejavam vários metros de neve. O ar seco também era vertiginosamente rarefeito na altitude elevada.

Sem suprimentos médicos, aquecimento ou alimentos, os sobreviventes usaram o avião destruído como abrigo e reaproveitaram suas peças, transformando bagagens em paredescapas de assento em cobertores. E, em breve, eles transformariam cadáveres em alimentos.

Fizeram todo o necessário para sobreviver

Embora os sobreviventes tenham encontrado um suprimento limitado de alimentos no avião, como docesvinhogeleia, ele não durou muito tempo.

frio extremo e a fome já haviam começado a ceifar vidas. Os corpos se acumulavam, um após o outro. Em dez dias, mais seis pessoas morreram. Os que não morreram enfraqueceram. Então, eles chegaram a uma conclusão radical, se necessário: eles precisariam comer os mortos para viver.

"Jamais esquecerei aquela primeira incisão, quando cada homem estava sozinho com sua consciência no topo daquela montanha infinita, em um dia mais frio e cinzento do que qualquer outro antes ou depois", escreveu o sobrevivente Roberto Canessa em seu livro de memórias “Tenía que Sobrevivir”, de 2016. "Nós quatro, cada um com uma lâmina de barbear ou um caco de vidro na mão, cortamos cuidadosamente as roupas de um corpo cujo rosto não conseguíamos suportar olhar."

Uma avalanche devastadora

Na tarde de 29 de outubro, pouco mais de duas semanas após o acidente, ocorreu outro desastre. Enquanto os sobreviventes descansavam em seu abrigo improvisado, uma cascata de neve desceu a encosta da montanha em forma de avalanche, enterrando o avião e tirando a vida de mais oito pessoas.

"Quase desisti quando a avalanche nos atingiu", contou Roberto Canessa em uma entrevista à National Geographic em 2016. "Mas então um dos outros meninos disse: 'Roberto, que sorte a sua poder caminhar por todos nós'. Isso foi como uma infusão heroica em meu coração. Ele tinha as pernas quebradas, mas eu podia andar. Minha missão não era pensar apenas no que era melhor para mim, mas no que era melhor para o grupo."

Em dezembro, o número de sobreviventes havia diminuído para 16. Eles enfrentaram uma escolha: esperar a morte ou encontrar ajuda.

Salvando a si mesmos

Um pequeno grupo optou por sair em uma missão de resgate pelas montanhas geladas: CanessaNando Parrado e Antonio Vizintín. Os três jovens teriam que escalar as montanhas e esperar encontrar ajuda do outro lado. Eles passaram semanas se preparando.

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    Dois sobreviventes do acidente embarcaram em uma missão de resgate e, após mais de uma semana de viagem, finalmente encontraram um fazendeiro. Eles prenderam este bilhete em uma pedra e o jogaram para ele em um riacho. Nele está escrito: "Venho de um avião que caiu nas montanhas. Sou uruguaio. Estamos caminhando há cerca de dez dias. Quatorze outras pessoas permanecem no avião. Eles também estão feridos. Eles não têm nada para comer e não podem sair. Não podemos continuar caminhando. Por favor, venha nos buscar".

    Foto de Bettmann, Getty Images

    O trio iniciou sua jornada em 12 de dezembro. Três dias após o início da expedição, Vizintín retornou ao acampamento para que Canessa e Parrado tivessem mais chances de sucesso com suas rações limitadas.

    Em 20 de dezembro, a dupla avistou outro ser humanoSergio Catalán Martínez, um pastor chileno. Depois que o homem trouxe ajuda no dia seguinte, Parrado e Canessa levaram as autoridades até os outros 14 sobreviventes.

    Depois de 72 dias perdidos nos Andes, finalmente estavam todos a salvo.

    A volta para casa

    A notícia do chamado "milagre nos Andes" rapidamente se espalhou pelo mundo. A alegria pelo resgate logo deu lugar ao horror quando os sobreviventes admitiram que haviam comido carne humana para se manterem vivos.

    Oficiais do Exército chileno escoltam o jogador de rúgbi uruguaio Fernando Parrado (centro, foto à esquerda) após seu resgate, depois que ele e seu companheiro sobrevivente Roberto Canessa caminharam do local do acidente em busca de ajuda. À direita, o sobrevivente da queda do avião, Carlos Páez, se reúne alegremente com seu pai, o artista uruguaio Carlos Páez Vilaró.

    Foto de Bettmann Archive, Getty Images

    Eles defenderam suas ações. "Você não pode se sentir culpado por fazer algo que não escolheu fazer", disse Canessa ao jornal norte-americno The Washington Post em 1978.

    No entanto, os sobreviventes carregaram a lembrança do canibalismo com eles nas décadas seguintes. Em seu livro de memórias, Canessa explicou: "Para nós, dar esse salto foi uma ruptura final e as consequências foram irreversíveis: nunca mais fomos os mesmos".

    Embora 16 jovens tenham descido a montanha, os restos mortais daqueles que não sobreviveram nunca deixaram os Andes. Eles foram enterrados perto do local onde morreram.

    O voo 571 caiu em uma montanha na Cordilheira dos Andes, na fronteira da Argentina com o Chile – e os sobreviventes acabaram sendo resgatados com a ajuda de fazendeiros locais 72 dias depois. Nesta imagem, parentes dos passageiros que morreram cavalgam para visitar o local.

    Foto de MARIANA SUAREZ, AFP, Getty Images

    As pessoas que perderam a vida no acidente e ao longo dos 72 dias que se seguiram foram sepultadas perto do local onde morreram. Seu túmulo está marcado aqui por uma cruz.

    Foto de MARIANA SUAREZ, AFP, Getty Images

    A história do voo 571 poderia facilmente ter terminado como um mistério trágico, uma história de como todas as pessoas no avião haviam se perdido nos Andes.

    Mas os sobreviventes reescreveram essa história ao se salvarem.

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