Dinossauro ‘cearense’ batizado em homenagem ao Museu Nacional tem um parente na China

Fóssil do terópode carnívoro do Cretáceo foi encontrado na bacia do Araripe, no Ceará, mas estava no museu carioca quando ele pegou fogo, em 2018.

Por Gabriel de Sá
Publicado 15 de jul. de 2020, 12:43 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 01:56 BRT
Ilustração aponta como seria o Aratasaurus museunacionali, um terópode de médio porte possivelmente distribuído pelo que ...

Ilustração aponta como seria o Aratasaurus museunacionali, um terópode de médio porte possivelmente distribuído pelo que hoje é o nordeste brasileiro.

Foto de Maurílio Oliveira, Divulgação

Em uma região lacustre habitada no período Cretáceo por tiranossauros, pterosauros, crocodilomorfos, velociraptores, peixes e aves – tal qual as que conhecemos hoje –, havia também o Aratasaurus museunacionali, nova espécie de dinossauro carnívoro de médio porte pertencente ao grupo dos terópodes. É o que indica um fóssil encontrado em 2008 na unidade geológica Formação Romualdo, na bacia do Araripe, Ceará, e descrito em artigo recém-publicado na revista científica Nature.

O dinossauro ‘cearense’ foi apresentado por um grupo de cientistas formado por pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), da Universidade Regional do Cariri (Urca), e do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

“Podemos chamá-lo de dinossauro cearense, sim” diz Alexander Kellner, diretor do Museu Nacional e colaborador do estudo. “Mas possivelmente ele estava distribuído por várias áreas do nordeste brasileiro, que estava em formação: lembre-se que os continentes ocupavam posições diferentes”. Foi o Museu Nacional, aliás, deu o nome batismo à nova espécie.

“Ele apresenta feições muito interessantes no formato da tíbia e das falanges do pé, que não apenas indicam se tratar de uma nova espécie, mas que o dinossauro mais proximamente relacionado está do outro lado do mundo.”

por Alexander Kellner
Paleontólogo

O incêndio que atingiu e destruiu grande parte do Museu, em 2018, poupou o fóssil achado no Ceará, onde ele estava desde 2016. O Aratasaurus saiu ileso da tragédia e o estudo detalhado do material pode ser finalmente concluído, 12 anos após a descoberta. O nome Aratasaurus museunacionali, então, é uma homenagem afetuosa à instituição, entidade científica mais antiga do Brasil, que agora está em reestruturação.

“Geralmente, o nome da espécie tenta usar algo de relevante da anatomia, do possível comportamento ou de onde ele foi encontrado”, explica Alexander Kellner. “A situação de ele estar no Museu no momento da maior tragédia no cenário científico e cultural do país foi o que motivou a homenagem.”

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    O dinossauro mais proximamente relacionado ao Aratasaurus museunacionali (foto) está na China. "É o Zuolong sallei,  o que demonstra que esses coelurossauros basais devem ser ainda mais diversificados e amplamente distribuídos do que se supunha", explica Alexander Kellner.

    Foto de Renan Bantim, Divulgação

    Do Cretáceo ao Museu

    Até chegar ao Museu Nacional, contudo, o fóssil percorreu um longo caminho. Ele foi encontrado em uma mina de gesso e enviado ao Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens, em Santana do Cariri (CE).

    Alexander Kellner explica que, quando um fóssil é descoberto, a preservação adequada é uma das maiores dificuldades encontradas pelos pesquisadores. “Às vezes, o material é muito frágil, e tem de haver enorme cuidado para não perder ou danificar o exemplar, que muitas vezes é único, como no caso desse dinossauro”, observa ele.

    Foi a partir da pata posterior direita que os pesquisadores puderam identificar as peculiaridades morfológicas do Aratasaurus museunacionali cearense.

    Foto de Juliana Sayão, Divulgação

    Depois do Cariri, o fóssil foi levado ao Laboratório de Paleobiologia e Microestruturas, no Centro Acadêmico de Vitória, da UFPE, onde foi meticulosamente preparado para os estudos posteriores. Mesmo assim, o trabalho não foi suficiente para ver todos os detalhes anatômicos para a caracterização do animal. Em 2016, por fim, ele desembarcou no Rio de Janeiro.

    O Aratasaurus museunacionali integra um grupo chamado Coelurosauria, que inclui outro dinossauro brasileiro, o Santanaraptor, encontrado anteriormente na mesma região do Ceará. Análises microscópicas dos tecidos, por meio de pequenas amostras dos ossos, foram essenciais para os pesquisadores vislumbrarem como o dinossauro seria.

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    Um primo chinês

    Apenas uma das patas do fóssil estava preservada, e foi a partir dela que que os cientistas identificaram muitas das informações sobre as peculiaridades morfológicas da espécie. “Como a maioria dos fósseis de dinossauros, o material é incompleto, formado basicamente pelo membro posterior direito”, diz Kellner.

    “No entanto, ele apresenta feições muito interessantes no formato da tíbia e das falanges do pé, que não apenas indicam se tratar de uma nova espécie, mas que o dinossauro mais proximamente relacionado está do outro lado do mundo”. Kellner refere-se ao Zuolong sallei, da China, o que demonstra que esses coelurossauros basais devem ser ainda mais diversificados e amplamente distribuídos do que se supunha.

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    O espécime de Aratasaurus museunacionali era um dinossauro juvenil de médio porte, com cerca de 3,1 metros e mais de 34 quilos. Por ser jovem, a espécie provavelmente poderia atingir dimensões ainda maiores. Os cientistas acreditam que a espécie apresentava rudimentos de penas – apesar de não ser possível comprovar pelo material encontrado.  

    O fóssil será alocado no Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens – o primeiro de dinossauro no local –, e os pesquisadores acreditam que a ilustra presença ajudará a divulgar a intensa atividade paleontológica na região cearense.

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