A foto registra quando uma nuvem de fumaça radioativa em forma de cogumelo começa a pairar ...

80 anos depois da bomba atômica de Hiroshima: ainda é possível ver a sombra de uma vítima

Após a explosão da bomba atômica, estas sombras ficaram gravadas nas superfícies por toda a cidade japonesa — quase como um negativo fotográfico daqueles que perderam a vida.

A foto registra quando uma nuvem de fumaça radioativa em forma de cogumelo começa a pairar sobre a cidade de Hiroshima menos de dois minutos após o lançamento da arma nuclear feita pelos Estados Unidos no Japão, em agosto de 1945. 

 

Foto de Mitsuo Matsushige UN PHOTO (CC BY-NC-ND 2.0)
Por Parissa DJangi
Publicado 6 de ago. de 2025, 14:21 BRT

Era uma manhã normal em 6 de agosto de 1945, em Hiroshima, no Japão. No distrito financeiro da cidade, os banqueiros se preparavam para o dia de trabalho e os clientes faziam fila para depositar dinheiro ou solicitar um empréstimo.

Às 8h15alguém estava em pé ou sentado nos degraus do Banco Sumitomo quando o Enola Gay, um avião da Força Aérea dos Estados Unidossobrevoou a cidade e lançou uma bomba atômica que detonou a 579 metros acima da cidade.

Quando a bomba atômica explodiu sobre Hiroshima, deixou para trás lembranças assombrosas das pessoas que morreram ...

Quando a bomba atômica explodiu sobre Hiroshima, deixou para trás lembranças assombrosas das pessoas que morreram na explosão de agosto de 1945. Quem estava na escadaria do Banco Sumitomo no momento da explosão criou uma espécie de escudo contra a luz radiante e o calor que branqueou tudo em seu caminho.

Foto de Universal History Archive, Universal Images Group, Getty Images

Essa pessoa provavelmente morreu imediatamente, já que o calor intenso no centro da explosão teria ultrapassado os 3800ºC, temperatura suficiente para matar rapidamente qualquer pessoa. Mas uma marca sombria do corpo ficou gravada nos degraus de pedra.

essa marca não estava sozinha: a intensidade da bomba criou as chamadas “sombras nucleares” em toda a área no solo abaixo da explosão, como se congelasse a cidade no tempo.

Agora, 80 anos após a bombaas sombras nucleares de Hiroshima continuam sendo um testemunho arrepiante, triste e comovente de um dos dias mais marcantes da história da humanidade.

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    Vista aérea do primeiro bombardeio atômico de Hiroshima, Japão, em 6 de agosto de 1945. O Enola Gay lançou a bomba a 579 metros acima da cidade, provocando uma explosão de calor intenso, luz e radiação que varreu a cidade em uma fração de segundo.

    Foto de U.S. Army, A.A.F. photo, Library of Congress, Prints and Photographs Division
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    Esta foto oficial do Exército dos EUA mostra a devastação em Hiroshima após a bomba. A explosão matou mais de 80 mil pessoas em um instante e milhares mais morreriam nos dias e meses seguintes.

    Foto de U.S. Army, Library of Congress, Prints & Photographs Division

    Como se formaram as sombras nucleares de Hiroshima?


    bomba atômica de mais de 4.500 Kg que detonou sobre Hiroshima liberou uma enorme quantidade de energia — equivalente a cerca de 15 mil toneladas de TNT — em uma fração de segundo. Essa energia assumiu várias formas: luz, calor, radiação e pressão.

    calor intenso da explosão atingiu Hiroshima a uma velocidade impressionante e terminou tão rapidamente quanto começou, de acordo com o United States Strategic Bombing Survey, um relatório oficial sobre os efeitos dos bombardeios em Hiroshima e Nagasaki.

    A explosão queimou instantaneamente tudo em um raio de quase 3 mil metros, carbonizando árvores e emitindo luz ultravioleta tão forte que branqueou superfícies não combustíveis, como pedra e concreto.

    Esse processo foi o que criou as sombras nucleares — elas não são os restos de pessoas e coisas que foram destruídas na explosão, mas sim marcas gravadas como um negativo fotográfico em locais que foram protegidos do caminho destrutivo do calor e da luz radiantes.

    Banco Sumitomo, a apenas 260 metros do hipocentro da bomba, foi um dos cerca de 70 mil edifícios em Hiroshima que a bomba danificou ou destruiu. “As paredes externas de concreto armado [do banco] permaneceram, mas a maior parte do interior foi completamente destruída pelo fogo”, diz Ariyuki Fukushima, curador do Museu Memorial da Paz de Hiroshima.

    E embora os degraus de granito do banco tenham mantido sua forma, Fukushima ressalta que “os intensos raios de calor da bomba atômica fizeram com que eles ficassem pálidos e descoloridos”. A pessoa que estava nos degraus durante a explosão protegeu uma parte deles dos raios de calor, criando assim essa sombra no local.

    mesmo processo criou sombras de pregos, escadas e outros objetos nas ruas e edifícios da cidade.

    (Conteúdo relacionado: Bomba de Hiroshima: como foi o primeiro bombardeio nuclear da história)

    O que as sombras nucleares de Hiroshima revelam?


    Embora a maioria das sombras nucleares retrate objetos inanimados, acredita-se que algumas delas representem pessoas que foram mortas. Por exemplo, a ponte Yorozuyo, a 910 metros do hipocentro, parecia ter sombras de pessoas que poderiam estar a caminho do trabalho ou da escola quando foram mortas. (As sombras não são mais visíveis na ponte, que foi reconstruída posteriormente.)

    “Quase todas as pessoas que estavam num raio de um quilômetro foram mortas”, afirma Robert Jacobs, professor emérito de história do Instituto da Paz de Hiroshima e da Universidade da Cidade de Hiroshima.

    A sombra de uma alça em um gasômetro localizado a dois quilômetros do hipocentro da explosão ...

    A sombra de uma alça em um gasômetro localizado a dois quilômetros do hipocentro da explosão deixou uma marca. O ângulo das sombras nucleares deixadas permitiu que os cientistas que chegaram a Hiroshima após a rendição do Japão localizassem o hipocentro da explosão.

    Foto de AFP, Getty Images

    explosão atômica matou mais de 80 mil pessoas em um instante, e milhares mais morreriam nos dias e meses seguintes. Entre as vítimas estavam funcionários do Banco Sumitomo. Fukushima observa que apenas “três pessoas conseguiram escapar”, embora “uma delas tenha morrido poucos dias depois”.

    Essas sombras também ajudaram os cientistas a resolver uma questão importante quando eles chegaram a Hiroshima no início de setembro de 1945, logo após a rendição do Japão, para estudar os efeitos da arma. 

    ângulo das sombras “permitiu aos observadores determinar a direção do centro da explosão”, permitindo-lhes localizar o hipocentro da bomba “com considerável precisão”.

    O legado das sombras nucleares de Hiroshima


    Embora nunca venhamos a conhecer as histórias daqueles que morreram no hipocentro da bomba atômica, suas sombras permanecem. 

    Em 1971, o Sumitomo Bank doou seus degraus ao Museu Memorial da Paz de Hiroshima, onde a silhueta permanece como um símbolo assombroso do que aconteceu há 80 anos. Acredita-se que seja uma das únicas sombras nucleares de uma pessoa que ainda restam.

    De fato, muitas das sombras não existem mais, devido às décadas de reconstrução que a cidade teve que passar após o bombardeio. Ainda assim, Jacobs diz que as sombras nos lembrama impermanência dos seres humanos e da civilização”.

    “Se uma pessoa pode ser reduzida à sua sombra por uma arma, [...] isso carrega uma mensagem profundamente existencial para os seres humanos — você e todo o seu mundo podem desaparecer em um piscar de olhos.”

    As sombras também são uma lembrança solene dos horrores que as pessoas enfrentaram naquele dia em Hiroshima.

    A sombra branca de um homem permanece na superfície de uma ponte em Hiroshima. À medida ...

    A sombra branca de um homem permanece na superfície de uma ponte em Hiroshima. À medida que a cidade foi reconstruída após o bombardeio, muitas das sombras nucleares em seus edifícios e calçadas foram perdidas. Uma exceção famosa são os degraus do Banco Sumitomo, que foram doados ao Museu Memorial da Paz de Hiroshima.

    Foto de Keystone-France, Gamma-Keystone, Getty Images

    Enquanto caminhava pela cidade em ruínas minutos após o bombardeio, o fotógrafo Yoshito Matsushige encontrou crianças que haviam evacuado sua escola pouco antes da explosão.

    “Tendo sido diretamente expostas aos raios de calor, elas estavam cobertas de bolhas do tamanho de bolas nas costas, no rosto, nos ombros e nos braços”, lembrou ele mais tarde. “As bolhas estavam começando a estourar e a pele delas pendia como tapetes.”

    Essas cenas eram tão horríveis que Matsushige não conseguiu tirar nenhuma foto. Quando ele “finalmente reuniu coragem para tirar uma foto” e depois outra, percebeu que “o visor estava embaçado com minhas lágrimas”.

     

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