Como o coração dos corais das Filipinas continua batendo?

Com corais do mundo todo sendo atacados, é impressionante ver como o Recife de Tubbataha continua intacto. Por quê?

Por Michael Greshko
fotos de Jennifer Hayes And David Doubilet
Publicado 6 de jun. de 2018, 15:57 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
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Um cardume de jacks passa como um rio prateado sobre uma faixa de corais do Atol Sul do Recife de Tubbataha.
Foto de David Doubilet, National Geographic

A National Geographic produziu esse conteúdo como parte de nossa parceria com a Rolex, formada para promover a exploração e a conservação. As organizações unirão forças em iniciativas que apoiem exploradores veteranos, estimulem exploradores emergentes e protejam as maravilhas da Terra.

O ano era 1981 e Angelique Songco, na época empregada de um barco de mergulho, viu-se maravilhada com os atóis à sua frente, o coração de corais das Filipinas. Mas, nos anos seguintes, ela viu a sombra de seres humanos se aproximar das águas do Mar Sulu.

Pescadores de lugares tão distantes como a província de Quezon, a cerca de 600 quilômetros de distância, entraram no Parque Marinho do Recife de Tubbataha, um dos mais biodiversos do mundo – pelo bem de sua subsistência. Os resultados foram devastadores. Dinamite matou peixes que nadavam; cianeto esguichado sobre os corais atordoou peixes que acabaram morrendo. Nas ilhotas do recife, os pescadores pegaram aves marinhas e seus ovos.

“Sem ao menos entender o valor ecológico do ambiente marinho, eu estava convencida de que tal beleza deveria ser protegida”, disse Songco ao World Wildlife Fund em 2015.

Em 2001, Songco candidatou-se a gerente do parque Tubbataha, e lhe foi designada uma área protegida em 1988. Desde então, ela dedicou sua vida à proteção do recife. Seus esforços valeram a pena: enquanto recifes em todo o mundo se encontram em perigo,  é chocante ver como Tubbataha permaneceu intocado.

“A primeira coisa que impressiona é que você está numa região selvagem do oceano”, dizem os fotógrafos da National Geographic David Doubilet (que também é Embaixador da Rolex) e Jennifer Hayes, que visitaram o recife em maio de 2017. “Aqui você encontra o mar e a vida marinha nos termos deles, não nos seus.”

Aqui, entre as paredes submarinas de corais que chegam a mais de 90 metros de profundidade, o caos da natureza reina. Cardumes de jack dempsey (Rocio octofasciata) são deslumbrantes, tremelga-marmoreadas (torpedo marmorata) patrulham as profundezas. Tubarões-tigres, normalmente famosos por serem predadores solitários, são conhecidos por nadar em grupos em Tubbataha.

No total, cerca de 600 espécies de peixes e 360 espécies de corais – cerca da metade de todas as espécies conhecidas – chamam Tubbatah de lar. As ilhotas do parque também hospedam o último viveiro de aves marinhas nas Filipinas, fornecendo refúgio a 100 espécies de aves.

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    Dois peixes-palhaço em Tubbataha se escondem em sua casa de anêmona.
    Foto de Jennifer Hayes, National Geographic

    “Tudo indica que o Parque Marinho do Recife de Tubbataha está se aproximando do que acreditamos ser o verdadeiro estado natural”, diz John McManus, biólogo marinho da Escola Rosenstiel da Universidade de Miami. “Isso que aconteceu é uma coisa incrível”.

    Tesouro natural

    A paz que a natureza e os seres humanos encontraram em Tubbataha se destaca dentro do Triângulo dos Corais, um lugar ricamente biodiverso do sudeste asiático, onde a pesca excessiva e o transporte internacional são cada vez mais comuns.

    Como Tubbataha evitou o destino dos recifes das redondezas que são excessivamente explorados? Em parte, por seu isolamento. Tubbataha fica perto do centro do Mar de Sulu, a mais de 140 quilômetros de distância das ilhas habitadas mais próximas. Nenhuma de suas duas ilhotas tem água doce.

    Mas, na década de 1980, pescadores locais começaram a usar barcos motorizados chamados bangkas, o que os permitiu explorar as ricas águas do recife como nunca antes. Enquanto pescadores atacavam Tubbataha, ativistas imploravam ao governo Filipino que tomasse providências.

    Em 1988, a presidente Corazón Aquino nomeou Tubbataha como um Parque Nacional Marinho – o primeiro da história das Filipinas. Cinco anos depois, a UNESCO o inscreveu como Patrimônio da Humanidade.

    Porém, declarações feitas em Manila ou em Paris pouco significam a menos que tenham peso no meio do Mar de Sulu. É aí que a Songco aparece. Nos últimos 16 anos, ela trabalhou para construir apoio público para o recife, chamando a atenção com uma pessoa pública que McManus compara a uma fada madrinha.  

    Songco também tem a lei a seu lado. As Filipinas proibiram a pesca em Tubbataha e, em parceria com a UNESCO, o país recentemente garantiu proteções extras para o recife contra o transporte marítimo. Além disso, vigilantes guardas florestais, alguns dos quais são membros das forças armadas Filipinas, protegem Tubbataha desde 1995. Eles vivem em Tubbataha dois meses de cada vez, em total isolamento. Seu único refúgio: uma ponta de areia e concreto saindo da água.

    Os notáveis esforços protegem os benefícios extraordinários de Tubbataha. Por um lado, é considerado um dos melhores locais para mergulho do mundo, atraindo turistas que valem muito mais do que a pesca valeria para o recife. O turismo também fornece quase metade dos fundos do parque e os acordos de compartilhamento de receita ajudam a financiar o governo local.

    Tubbataha também impulsiona as pescas de corais de recife das Filipinas, que contribuem com até 29 por cento da produção pesqueira total do país. De acordo com o biólogo da Universidade Silliman, Angel Alcala, as correntes oceânicas carregam um grande número de larvas marinhas de Tubbataha para o resto do Mar Sulu. O influxo ajuda a reabastecer as águas pescadas e garante a segurança alimentar do país.  

    Ameaças futuras?

    Peixe nada sob a sombra de uma enorme tartaruga-verde no Recife de Atol do norte de Tubbataha.
    Foto de Jennifer Hayes, National Geographic

    Apesar do sucesso, os desafios continuam em Tubbataha. Guardas florestais continuam encontrando ninhos de aves marinhas feitos com plástico lavado e, apesar do declínio, a pesca ilegal insiste em acontecer. Desde 2013, Tubbataha vem se recuperando do aterramento de um navio da Marinha dos EUA, que danificou mais de 1,9 mil metros quadrados de corais.

    E, à medida que a mudança climática continua, a vigilância local não consegue impedir que o Mar Sulu fique mais quente e ácido. Águas alteradas irão expor os corais do recife às condições de branqueamento cada vez mais severas e potencialmente mortais. De 2014 a 2017 —o pior evento global de branqueamento registrado—, Tubbataha enfrentou dois anos de estresse com a descoloração, após décadas de relativa calma.

    As ameaças climáticas para Tubbataha devem piorar. Um relatório recente da UNESCO  prevê que, até 2040, o recife enfrentará severos estresses térmicos pelo menos duas vezes por década. Se não desacelerarmos as emissões globais de carbono, tal estresse poderá passar a atingir a cidade de Tubbataha anualmente a partir de 2040, sendo potencialmente uma sentença de morte.  

    Por enquanto, porém, Tubbataha continua grande, um sentinela de corais que seus protetores defenderão – e se maravilharão – até o fim.

    “Eu tenho pouquíssimas palavras para o tipo de beleza excessiva que você encontra [em Tubbataha],” diz Fanny Douvere, chefe do Programa Marinho do Centro do Patrimônio Mundial da UNESCO. “Uma foto nunca consegue capturar o que você realmente vivencia”.

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