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Qual seria o brinquedo mais antigo do mundo? Chocalhos de 4.500 anos de idade estão na lista, dizem os arqueólogos

No Dia Internacional do Brincar, veja sobre um novo estudo que afirma que os antigos chocalhos descobertos na Síria eram brinquedos usados para entreter bebês.

A arqueóloga Mette Marie Hald segura fragmentos de chocalhos de 4.500 anos encontrados no sítio de Hama, na Síria. Hald e seus colegas suspeitam que os chocalhos e outros semelhantes eram usados para acalmar crianças e não para fazer música, como alguns sugeriram anteriormente.

Foto de John Fhær Engedal Nissen, the National Museum of Denmark
Por Tom Metcalfe
Publicado 10 de jun. de 2025, 07:01 BRT

Brincar é algo essencial para o ser humano, especialmente na primeira fase da vida. Tanto, que a ONU (Organização das Nações Unidas) criou o Dia Internacional do Brincar, comemorado a cada 11 de junho. Uma data para preservar, promover e priorizar o brincar, para que todas as pessoasespecialmente as crianças, possam colher os frutos e desenvolver todo o seu potencial, como explica a própria instituição.

Para celebrar essa data e a importância do brincar que segue relevante ao longo do tempo, a National Geographic apresenta uma pesquisa que traz os possíveis mais antigos brinquedos do mundo, encontrados por arqueólogos na Síria. 

Os chocalhos de argila fabricados na Síria há cerca de 4500 anos foram projetados para “divertir e acalmar” os bebês, de acordo com um novo estudo. Mas alguns arqueólogos também acreditam que eles eram usados em rituais para afastar espíritos malignos, ou que poderiam ter servido a ambos os propósitos.

“Elas têm alças pequenas demais para mim, e eu tenho mãos bem pequenas”, comenta a arqueóloga Mette Marie Hald, do Museu Nacional da Dinamarca, em Copenhague. “Elas são para bebês ou crianças pequenas”.

No novo estudo publicado na revista científica Childhood in the Past, Hald e seus coautores descrevem artefatos mantidos pelo museu após as escavações de um antigo monte em Hama, na Síria, na década de 1930

Os chocalhos encontrados estão entre os brinquedos mais antigos do registro arqueológico.


Muitos dos artefatos foram parar em museus do Oriente Médio, incluindo o Museu Nacional de Damasco, na Síria. Mas os membros da expedição levaram alguns deles de volta para a Dinamarca, onde foram armazenados até que Hald e seus colegas os re-examinassem as peças.

A nova análise estabeleceu que pelo menos 21 dos fragmentos de argila são provenientes de chocalhos feitos entre 4500 e 4 mil anos atrás, durante a Idade do Bronze Inicial, quando Hama era uma das várias cidades-estado antigas da região.

Hald diz que parte de um chocalho foi identificada erroneamente como uma “peneira” porque continha furos; e o cabo oco de outro foi erroneamente rotulado como “tubulação”.

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 Exemplos de alças e corpos do conjunto de chocalhos de Hama são sobrepostos ao contorno de um chocalho completo de outro local na Síria chamado Al-Zalaqiyat.

Foto de Photoillustration by G. Mouamar, the National Museum of Denmark

Chocalhos da Idade do Bronze ou protetores contra o mal?


A análise mostra que os fragmentos são quase idênticos em estilo e tamanho a um chocalho intacto encontrado em um antigo cemitério a alguns quilômetros ao norte de Hama, chamado Al-Zalaqiyat, e a chocalhos de outros locais do início da Idade do Bronze, atualmente mantidos no Museu Nacional de Damasco.

Esses chocalhos eram preenchidos com pedrinhas ou pequenos grânulos de argila, para fazer barulho ao serem sacudidos – bem semelhante aos chocalhos modernos para bebês – e, portanto, os autores sugerem que foram projetados para crianças pequenas brincarem.

Alguns arqueólogos propuseram que os chocalhos eram “apotropaicos”, o que significa que o barulho que faziam poderiam ter o propósito de afastar espíritos malignos, ou que eram usados como instrumentos musicais.

Mas o principal autor do estudo, o arqueólogo Georges Mouamar, do Museu Nacional da Dinamarca e da agência de pesquisa francesa CNRS, realizou experimentos com o chocalho de Al-Zalaqiyat e determinou que ele era pequeno demais para ter feito muito barulho e ter essa função.

“Ele fazia apenas um som minúsculo”, diz Hald. “Não teria sido muito divertido e útil como instrumento musical, por exemplo.”

Os fragmentos de Hama também foram encontrados em um bairro doméstico, e não em um templo ou cemitério, o que reforçou a ideia de que eram usados por crianças, afirma Hald.

(Leia também: O instinto materno é apenas para as mães? Veja o que diz a ciência)

Brinquedos feitos por profissionais


A análise também determinou que os fragmentos de Hama foram feitos com a mesma mistura distinta de argilas que a cerâmica comercial da cidade antiga, o que implica que os chocalhos foram feitos por ceramistas profissionais para serem vendidos aos pais em mercados de rua.

Os chocalhos de Hama parecem bem acabados, com desenhos intrincados no esmalte da cerâmica que sustentam a ideia de que foram feitos por profissionais, comenta Hald.

Hama era um centro regional durante o início da Idade do Bronze e, portanto, os chocalhos podem ter sido produzidos em massa lá para serem vendidos em outros lugares.

Outros tipos de chocalhos foram encontrados em demais partes da Síria e do Oriente Médio – chocalhos em forma de animais, por exemplo, são encontrados com frequência no norte da Síria – e, portanto, é provável que os ceramistas locais os tenham fabricado em estilos populares na região, diz  a arqueóloga.

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    Fragmentos de chocalhos de bebê de 4500 anos correspondem à composição química de outros utensílios domésticos de cerâmica de Hama.

    Foto de John Fhær Engedal Nissen, the National Museum of Denmark

    Fazendo barulho e divertindo crianças


    O novo estudo suscitou um debate entre os especialistas sobre se os chocalhos de Hama e outros semelhantes serviam a um propósito de ritual ou lúdico, como um brinquedo infantil.

    arqueóloga Elynn Gorris, da Universidade de Louvain, na Bélgica, que não participou do estudo, teme que os chocalhos de Hama, embora pequenos, fossem grandes e pesados demais para serem segurados por bebês. Mas ela admite que eles seriam adequados para crianças pequenas.

    Gorris observa que chocalhos semelhantes foram encontrados em sítios arqueológicos nas Américas – incluindo um chocalho semelhante da Califórnia (Estados Unidos), porém menos antigo, que pode ter até 1 mil anos de idade – onde as evidências indicam que eles eram usados tradicionalmente em rituais e para fazer música, como ainda são hoje.

    Mas “não se trata de errado ou certo, essa é uma história inclusiva”, diz ela. “Eles poderiam ter sido usados por crianças pequenas, mas isso não exclui o fato de que poderiam ter sido instrumentos de percussão para manter o ritmo para adultos, para canções de ninar ou para canções ritualísticas.”

    arqueóloga Kristine Garroway, professora do Hebrew Union College-Jewish Institute of Religion, em Los Angeles, na Califórnia, que estudou chocalhos de argila do antigo Levante, está “muito convencida” com as descobertas do estudo. Mas ela também acha que os chocalhos podem ter tido um “uso duplo”, primeiro como dispositivos apotropaicos para espantar os espíritos malignos das casas e depois como barulhinhos para divertir crianças pequenas. “Eles poderiam ter sido usados de várias maneiras diferentes”, afirma Garroway.

    (Conteúdo relacionado: Quais benefícios a música pode trazer para os bebês?)

    Crianças na arqueologia


    Se os chocalhos forem brinquedos, eles são alguns dos mais antigos do mundo que sobreviveram, outros que concorrentes ao título de “brinquedo mais antigo”, incluem uma carruagem de 5 mil anos da Turquia e uma cabeça de pedra de 4 mil anos, possivelmente de uma boneca, encontrada em uma ilha italiana.

    O fato de os pesquisadores estarem pensando nas crianças da Antiguidade é importante, observa Garroway: “As crianças são negligenciadas no registro arqueológico, [então] até mesmo parar e pensar que as crianças de épocas remotas poderiam estar brincandousando esses objetos é incrível.”

    Para Hald, todas as evidências indicam que os chocalhos de Hama foram projetados para manter as crianças pequenas entretidas. “Os pais do passado amavam seus filhos, assim como nós amamos hoje”, afirma a arqueóloga dinamarquesa. 

    "Mas talvez os pais também precisassem distrair seus filhos de vez em quando para que pudessem ter um pouco de paz e tranquilidade para si mesmos. Hoje, usamos telas, naquela época eram os chocalhos."

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