
Por que um grau a mais na temperatura é uma catástrofe até para o ecossistema dos desertos
Um beduíno da Jordânia conduz seus camelos pelo deserto de Wadi Rum, um Patrimônio Mundial da Unesco que aparece em filmes como “Lawrence da Arábia”, “Perdido em Marte” e “Star Wars: A Ascensão Skywalker".
As ameaças aos desertos vêm de várias fontes — algumas delas podem até ser surpreendentes. Sendo que uma das maiores ameaças aos ambientes desérticos é o aquecimento global.
É difícil imaginar que o aquecimento global tenha um grande efeito nos desertos do mundo, que já são quentes e secos. Mas sim, ele tem, pois mesmo pequenas mudanças na temperatura ou na precipitação podem afetar drasticamente as plantas e os animais do deserto. Em alguns casos, prevê-se que o aquecimento global aumente as terras desérticas, que já cobrem 1/5 da superfície terrestre — e podem ampliar ainda mais a desertificação na Terra.
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Ecossistema do deserto
Existem desertos em todos os continentes, compreendendo cerca de 1/5 da massa terrestre do planeta. Os quatro principais tipos de desertos incluem desertos quentes e secos, desertos frios, desertos costeiros e desertos semiáridos.
O deserto do Saara é provavelmente o deserto quente e seco mais famoso, onde as temperaturas podem chegar a 50°C. Em contraste, desertos frios como os do Ártico e da Antártida são alguns dos lugares mais gelados do mundo.
Os desertos costeiros, como o deserto de Atacama, no Chile, na América do Sul, estão localizados ao longo das margens ocidentais dos continentes. Apesar de sua proximidade com a água, essas áreas permanecem secas porque o ar frio do oceano é incapaz de reter a umidade antes de atingir a terra. Os desertos semiáridos, como por exemplo o do Parque Nacional Great Basin, em Nevada, nos Estados Unidos, recebem mais chuvas do que outros.
Esses ambientes hostis de desertos podem parecer somente áridos, mas na verdade são biologicamente ricos. Eles abrigam uma grande variedade de flora e fauna, como besouros que correm pelo deserto da Namíbia e cactos saguaro que se erguem no sudoeste dos Estados Unidos.
Os desertos também são importantes para os seres humanos. Mais de 1 bilhão de pessoas vivem em grandes áreas áridas. Para muitos, os desertos podem ser uma fonte de alimento e recursos. O ambiente seco também é ideal para preservar artefatos arqueológicos e fósseis. Eles também podem ajudar a prevenir tempestades de areia prejudiciais por meio da biocrosta, a camada superior do solo que contém microorganismos que mantêm o solo intacto.
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Trabalhadores em Jiuquan, na província chinesa de Gansu, constroem grades de palha que ajudam a reter a areia na região.
Ameaças do deserto
O aquecimento global está aumentando a incidência de secas, que secam os poços de água. Temperaturas mais altas podem produzir um número crescente de incêndios florestais que alteram as áreas desérticas, eliminando árvores e arbustos de crescimento lento e substituindo-os por gramíneas de crescimento rápido.
A irrigação usada na agricultura pode, a longo prazo, elevar a níveis de sal no solo que se tornam altos demais para sustentar a vida das plantas. Os animais de pastagem, como o gado, podem destruir muitos outros animais e plantas do deserto. O cianeto de potássio usado na mineração de ouro pode envenenar a vida selvagem das áreas desérticas.
Veículos off-road, quando usados de forma irresponsável para o turismo ou meio de transporte, podem causar danos irreparáveis aos habitats do deserto. A produção de petróleo e gás pode perturbar habitats sensíveis. E resíduos nucleares podem ser despejados em desertos, que também têm sido usados como campos de testes nucleares.
Atividades humanas, como a coleta de lenha e o pastoreio de animais, estão convertendo regiões semiáridas em desertos, um processo conhecido como desertificação. O crescimento populacional e a maior demanda por terras são sérios obstáculos no esforço para combater esse problema.
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Soluções para proteger os desertos
Apesar desses desafios, existem maneiras de preservar os desertos no mundo. Podemos usar os recursos hídricos existentes de forma mais eficiente e controlar melhor a salinização para melhorar as terras áridas, encontrar novas maneiras de fazer a rotação de culturas para proteger o solo frágil e plantar arbustos e árvores que fixam a areia.
O plantio de leguminosas, que extraem nitrogênio do ar e o retém no solo, pode ajudar a restaurar a fertilidade do solo, enquanto a escavação de sulcos artificiais no solo pode ajudar a reter a chuva e reter sementes levadas pelo vento.
O turismo e o lazer conscientes e sustentáveis são outro componente importante. A designação de trilhas e estradas pode ajudar a evitar que os viajantes danifiquem a frágil biocrosta, uma ameaça ao deserto frequentemente negligenciada.