As velas perfumadas são aconchegantes, mas será que elas podem poluir o ar da sua casa?

Embora as velas perfumadas tragam charme e perfume ao ambiente, talvez você queira saber mais sobre as emissões de gases que elas geram.

Por Terry Ward
Publicado 3 de out. de 2023, 08:00 BRT
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A fuligem – que é uma mistura de carbono, produtos químicos em aerossol e substâncias semelhantes ao alcatrão – é gerada quando a chama da vela é apagada. E tanto a fuligem quanto as fragrâncias podem causar reações alérgicas em algumas pessoas.

Foto de Knud Pfeifer Picture Press, Redux

Acender velas pode nos trazer a sensação de aconchego, encher o ambiente com cheiros agradáveis e oferecer uma luz mais suave. Não é de se admirar que muita gente adore as velas – especialmente as perfumadas, que têm um mundo de opções que vão de maçã cristalizada a âmbar, pinho, entre outras.

“O aroma está intimamente ligado ao centro emocional de nosso cérebro e ao centro da memória”, diz a otorrinolaringologista Marta Becker, da Clarity ENT, clínica localizada perto da Filadélfia. "É muito chamativo para nós”, afirma Becker. Certos aromas podem desencadear nostalgia, mesmo que a memória exata não possa ser localizada. 

Quando acendemos uma vela perfumada, as moléculas aromáticas são aquecidas e levantadas da cera em uma corrente de ar ascendente da chama, ligando-se a sensores em nosso nariz. “O formato delas quase se encaixa como uma chave em uma fechadura, e isso estimula o nervo do olfato e informa ao nosso cérebro o que estamos sentindo”, diz Becker.

Mas o brilho quente da chama e os cheiros agradáveis não são as únicas coisas que as velas emitem. “A parte perfumada de uma vela aromática é uma pequena parte do que vem de uma vela”, explica a otorrinolaringologista.

Os subprodutos da queima de uma vela perfumada

A queima de qualquer vela causa combustão incompleta, que ocorre quando a chama não tem oxigênio suficiente para permitir que o combustível reaja completamente. Os produtos da combustão incompleta – incluindo água, dióxido de carbono e minúsculas partículas pretas de fuligem de carbono –, são liberados no ar, diz Hans Plugge, diretor da empresa de toxicologia e avaliação de riscos Safer Chemical Analytics.

Richard Corsi, reitor da Faculdade de Engenharia da Universidade da Califórnia em Davis, diz que a forma como uma chama de vela queima – uma queima constante versus uma chama intermitente – faz diferença quando se trata do tamanho e da composição química das partículas emitidas no ar. A geração de fuligem, que é uma mistura de carbono, produtos químicos em aerossol e substâncias semelhantes ao alcatrão, entre outras coisas, ocorre com uma chama instável (tremeluzente) ou quando a chama é apagada, explica Corsi.

O recipiente da vela também pode contribuir para essa poluição. Quanto mais sua borda se estender acima do pavio, maior a probabilidade de a vela produzir fuligem, acrescenta Hans Plugge, já que o oxigênio tem mais dificuldade para alcançar a chama.

Junto com a fuligem, as fragrâncias são outro grande culpado pelas alergias, segundo Plugge. As velas perfumadas podem liberar determinados óleos essenciais de suas fragrâncias, inclusive citronela. 

Indivíduos propensos a terem alergias também devem desconfiar de declarações, como “totalmente naturais” nos rótulos das velas. “Os chamados extratos naturais são alérgenos mais potentes do que as fragrâncias sintéticas”, diz Plugge, já que as últimas foram geralmente projetadas para serem não alergênicas para a maioria das pessoas como uma vantagem de venda.

Como as velas perfumadas contribuem para a poluição do ar em ambientes fechados

Apesar das alegações em contrário, todas as velas – independentemente de sua cera ser feita de cera de abelha totalmente natural, parafina ou de soja – emitem fuligem e compostos orgânicos voláteis (também chamados de COVs, que se referem a uma ampla gama de produtos químicos que se vaporizam no ar), causando algum grau de poluição do ar em ambientes fechados, afirma Plugge. 

Entretanto, a menos que você esteja constantemente queimando centenas de velas em um espaço sem ventilação, ele acrescenta que é improvável que as emissões das velas causem efeitos à saúde dos seres humanos. Mas as velas não são as únicas responsáveis por poluir o ar em nossas casas.

Todos os produtos de combustão que usamos em casa (entre eles os fornos, as torradeiras, os micro-ondas e os fogões, especialmente quando cozinhamos com óleo) contribuem para a poluição do ar em ambientes fechados, explica Plugge. 

Corsi diz que uma casa com uma ou mais pessoas que fumam cria “uma preocupação muito grande” para a saúde dos não fumantes ou visitantes frequentes da casa. O incenso também pode “ser uma grande fonte de partículas nocivas”. Plugge diz ainda que o incenso costuma ser muito perfumado e projetado para formar fuligem. Corsi acrescenta que as emissões dessas fontes têm sido associadas ao câncer.

“Simplesmente não há tantos estudos baseados na saúde relacionados às velas quanto a outras fontes, por exemplo, a fumaça de tabaco ou incenso”, diz Corsi.  “Em resumo, ainda não se sabe quais são os efeitos das velas sobre a saúde em residências onde elas são queimadas.”

Os sistemas HVAC também podem fazer circular produtos químicos pela casa dependendo da filtragem, explica Plugge. O aumento da vedação hermética das casas construídas atualmente também pode exacerbar a poluição do ar internamente, diz o especialista – a menos que espaços de troca de ar fresco sejam incluídos no projeto.

Embora a queima de velas libere algumas descargas de poluentes indesejáveis, talvez inesperadas, no ar, o maior perigo das velas é o fogo. 

“A principal preocupação com as velas são os incêndios domésticos: mais de 7 mil incêndios por ano são causados por velas nos EUA”, revela Corsi. “Embora eu ache que existam preocupações legítimas relacionadas às emissões de partículas das velas, não acredito que as preocupações relacionadas cheguem ao nível das preocupações com incêndios.” 

Minimizar as emissões de gases das velas 

Com o uso normal, acender velas não deve ser um problema para as pessoas que não são sensíveis a alérgenos liberados por sua queima.

Só que ainda há precauções que podem ser tomadas. Ao comprar uma vela aromática, recomenda Plugge, que a pessoa evite “qualquer coisa que não seja cera ou pavio” quando e onde estiver listado no rótulo de ingredientes de uma vela. “Qualquer aditivo aumentará o potencial de reações alérgicas em indivíduos sensíveis”, diz Plugge, com efeitos que podem variar de urticária e eczema a enxaquecas e sintomas semelhantes aos da asma.

Pessoas altamente alérgicas ainda podem ter uma pequena reação, provavelmente devido ao refinamento da própria cera, acrescenta ele. Em ceras que não são tão puras, com compostos orgânicos voláteis e semivoláteis, como o tolueno, contidos na cera, podem ser liberados durante a queima. 

Você também pode limitar a quantidade de velas acesas de uma só vez. “Uma vela provavelmente não fará muito efeito, mas incensos e muitas velas em um cômodo pequeno são uma história diferente”, afirma Plugge.

Resumindo, para minimizar a chance de ter alguma irritação causada pelas emissões das velas, siga essas recomendações: limite a quantidade de velas; escolha velas sem cheiro, sem fragrância e sem cor, feitas de cera altamente refinada; e queime-as em um recipiente que não ultrapasse o pavio da vela. E, claro, não deixe a chama sem supervisão. 

A cera perfumada derretida – velas sem pavio que você pode derreter usando um dispositivo elétrico de aquecimento de cera – é uma alternativa às velas perfumadas que não produzem fuligem.

Se você ainda estiver preocupado em contribuir para a poluição do ar interno em sua casa, você também pode simplesmente deixar de queimar coisas perfumadas como velas e incensos, sugere Marta Becker. O excesso de odores pode causar um tipo de “poluição cerebral”, conclui a otorrinolaringologista.

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