Fóssil raro descoberto: conheça um animal pré-histórico que viveu na Terra antes dos dinossauros
É um pássaro? Um macaco? Não, é um novo réptil pré-histórico que viveu antes dos dinossauros e tinha uma crista semelhante a uma pena e uma cauda parecida com a de um macaco.

Reconstrução em uma ilustração do Mirasaura grauvogeli em seu ambiente natural florestal há milhares de anos.
Há cerca de 247 milhões de anos, um réptil bizarro, com cerca de 15 cm de comprimento, rastejava por um galho, com sua cauda preênsil e pés agarrados à casca como um macaco, já o seu rosto estreito, semelhante ao de um pássaro, examinava os arredores.
Em suas costas, uma série de estruturas rígidas sobrepostas provavelmente refletiam a luz, vibrando com cores. Essas estruturas se pareciam muito com penas, mas eram algo totalmente diferente, já que o réptil não era parente de aves ou dinossauros e um detalhe interessante: esse antigo réptil viveu 100 milhões de anos antes do primeiro dinossauro alçar voo.
Os pesquisadores acreditavam há muito tempo que coisas como penas e pelos — estruturas complexas que crescem na pele e podem ser usadas para isolamento, percepção do ambiente, exibição visual e voo — eram em grande parte exclusivas das linhagens que deram origem às aves e aos mamíferos.
Mas agora, uma equipe de paleontólogos descobriu um réptil pré-histórico com uma crista majestosa semelhante a uma pluma, diferente de qualquer apêndice tegumentar conhecido anteriormente, como chifres, garras e pelos. Os fósseis mostram que adaptações evolutivas semelhantes a penas e pelos eram mais comuns do que se pensava anteriormente.
“Estou chocado e perplexo”, diz Steve Brusatte, paleontólogo da Universidade de Edimburgo, na Escócia, que não participou do estudo. “Há muito tempo que não ficava tão impressionado com uma nova descoberta fóssil.”
A descoberta, publicada em julho de 2025 na revista científica Nature, também ajuda a resolver um mistério paleontológico que durava décadas.
“Sempre houve uma distinção entre dinossauros com penas e répteis com escamas”, comenta Stephan Spiekman, paleontólogo do Museu Estadual de História Natural de Stuttgart, na Alemanha, e um dos autores do artigo. “E essa era uma história muito simplista.”
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Um “réptil milagroso” e muito estranho
Os espécimes vieram à tona pela primeira vez em maio de 1939, quando o colecionador particular de fósseis Louis Grauvogel estava prospectando pedreiras nas rochas triássicas do nordeste da França. Ele encontrou dezenas de estruturas isoladas que supôs serem barbatanas de peixes fossilizadas ou asas de insetos, bem como o esqueleto parcial de um réptil.
Mas quando o Museu Estadual de História Natural de Stuttgart, da Alemanha, adquiriu sua coleção em 2019, diz Spiekman, um pesquisador do museu notou costelas tênues na base de uma das estruturas fossilizadas. Preparando cuidadosamente a rocha, eles encontraram o torso, o pescoço e o crânio preservados, com uma crista de cinco centímetros projetando-se da parte superior das costas. E viram que as estruturas e os esqueletos pertenciam ao mesmo animal.
Depois de estudar os restos mortais e mais de 80 espécimes de cristas isoladas, a equipe escolheu o nome Mirasaura grauvogeli, que significa “réptil milagroso de Grauvogel”. Embora os esqueletos dos fósseis representem animais jovens, diz Spiekman, o tamanho de algumas das cristas isoladas na coleção sugere que os adultos poderiam ter bem mais de 30 centímetros de comprimento.

Um modelo ilustrado de um réptil Mirasaura grauvogeli.
Sua equipe identificou o Mirasaura como membro de um estranho grupo de répteis arborícolas chamados drepanossauros. Encontrados na América do Norte e na Europa, os drepanossauros são às vezes comparados a camaleões de hoje em dia, afirma Spiekman.
Mas eles eram muito, muito mais estranhos: tinham corpos em forma de barril, ombros curvados e olhos grandes voltados para a frente em crânios com bico, semelhantes aos de pássaros.
Muitos tinham polegares oponíveis e caudas preênseis semelhantes às dos macacos, com algumas espécies apresentando uma garra na ponta da cauda. “Para mim, o análogo mais próximo é um tamanduá-pigmeu”, comenta Spiekman.
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O enigma dos répteis foi resolvido
O Mirasaura também fornece a chave para resolver um enigma triássico de longa data, diz Michael Buchwitz, paleontólogo do Museu de História Natural de Magdeburg, na Alemanha, que não participou do estudo. Em 1970, um paleontólogo russo publicou um artigo sobre Longisquama, que era um réptil fragmentado com uma série de estruturas longas semelhantes a penas, encontrado no Quirguistão.
A descoberta do Longisquama inicialmente forneceu munição para pesquisadores insatisfeitos com a então controversa teoria de que as aves descendiam dos dinossauros. Mas, à medida que evidências contundentes se acumulavam mostrando a conexão entre aves e dinossauros — incluindo fósseis que mostravam que penas e estruturas semelhantes eram comuns entre dinossauros e pterossauros —, ninguém sabia muito bem o que fazer com o enigmático Longisquama, ou onde ele se encaixava na árvore genealógica dos répteis, afirma Buchowitz. A maioria optou por ignorá-lo.
Agora, porém, a descoberta do Mirasaura permitiu à equipe de Stuttgart finalmente identificar também o Longisquama como um drepanossauro há muito perdido. “O enigma está resolvido agora”, diz Buchowitz.
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Uma notável evolução convergente
As plumas sobrepostas das estranhas cristas do Mirasaura e do Longisquama realmente se assemelham a penas à primeira vista, comenta Spiekman, pois provavelmente são feitas de queratina, uma proteína estrutural fundamental que compõe tudo, desde unhas e escamas até cabelos e penas. “Elas se projetam verticalmente para fora do corpo e são longas. Isso teria dado a sensação de uma pena rígida e dura.”
A equipe também encontrou melanossomas preservados — células produtoras de pigmento — dentro das estruturas que se pareciam mais como as vistas na plumagem das aves do que com escamas de répteis ou pelos de mamíferos, diz Spiekman. Mas, em vez do padrão ramificado típico dos filamentos de queratina vistos nas penas verdadeiras, as plumas dos drepanossauros parecem ter se formado em uma única camada lisa ao redor de sua crista central.
“O que temos aqui é um exemplo notável de evolução convergente, talvez o mais impressionante que já vi”, revela Brusatte. “Eles não imitavam as aves. Eram as aves que os imitavam.”
Como os drepanossauros pertenciam a um ramo evolutivo muito mais antigo da família dos répteis do que o ramo que deu origem aos lagartos, crocodilos e aves modernos, diz Spiekman. Isso sugere que as adaptações genéticas para a formação desses apêndices tegumentares surgiram no início da árvore evolutiva dos vertebrados.
Ainda não se sabe até que ponto essas cristas semelhantes a penas eram comuns na família dos drepanossauros, afirma Spiekman, nem exatamente como elas se formavam. Mas a descoberta também abre a possibilidade de que existam mais estruturas semelhantes a penas entre outras famílias de répteis nos registros fósseis.
Para Spiekman, trepadores extravagantes como o Mirasaura — com suas caudas de macaco, pés de camaleão, cabeças semelhantes às de pássaros e cristas parecidas com penas — estão “mudando a imagem do que é (ou era) um réptil”.
