O navio Ortelius enfrenta ondas gigantescas na Passagem de Drake enquanto transportava uma equipe que estuda ...

O lugar mais perigoso dos oceanos é um herói do clima e da Antártida: conheça a Passagem Drake

A Passagem de Drake possui tempestades mortais e águas traiçoeiras, mas é a travessia oceânica que desempenha um papel fundamental para o planeta.

O navio Ortelius enfrenta ondas gigantescas na Passagem de Drake enquanto transportava uma equipe que estuda baleias no Oceano Antártico. Localizada entre a América do Sul e a Antártida, essa via navegável é considerada uma das mais traiçoeiras do mundo.

Foto de CAROLYN VAN HOUTEN, Nat Geo Image Collection
Por Chris Baraniuk
Publicado 2 de dez. de 2025, 16:59 BRT

Passagem de Drake é uma das águas mais traiçoeiras do mundo. Isso não impediu seis viajantes de atravessá-la de barco a remo em dezembro de 2019. Por cerca de 965 km, o explorador finlandês Fiann Paul liderou uma equipe de atletas que remou contra o vento e as ondas repletas de fragmentos de gelo para chegar à Antártida.

“Frio e úmido”, disse Paul, descrevendo como foi. “A coisa foi feia.” As ondas curtas que se sucediam rapidamente eram as piores, contou ele: “Elas batem em você como paredes”. Tempestades mortais sopram neste local feroz onde os oceanos Atlântico, Pacífico e Antártico se encontram.

Nos mapas é possível ver “o braço delgado” do Cabo Horn, no arquipélago da Terra do Fogo, que parece se estender pela Passagem de Drake e pelas Ilhas Shetland do Sul até a Península Antártica.

A Passagem de Drake conecta os oceanos Pacífico e Atlântico e fica logo acima do Oceano ...

A Passagem de Drake conecta os oceanos Pacífico e Atlântico e fica logo acima do Oceano Antártico, que circunda a Antártida. Como esse oceano não é bloqueado por terra, ventos fortes sopram facilmente sem obstáculos.

Foto de Jason Edwards, Nat Geo Image Collection

Por que a Passagem de Drake é considerada mortal

principal razão pela qual a Passagem de Drake é tão perigosa e agitada é porque o Oceano Antártico, que circunda o continente gelado da Antártidanão é interrompido por terra, o que significa que ventos fortes podem soprar ao redor do globo sem impedimentos. Ele também fica em uma zona sísmica, tornando-o vulnerável a terremotos.

“É curioso que, sempre que você vai jantar, é colocado tapetes antiderrapantes em todas as mesas para garantir que seus pratos e outras coisas não deslizem”, diz Karen Heywood, oceanógrafa física da Universidade de East Anglia, Norwich, na Inglaterra, que navegou pela região.

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    A Passagem de Drake no mapa.

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    Como a Passagem de Drake ajuda a manter o equilíbrio do planeta

    A Passagem de Drake é um “caldeirão” para a captura de carbono, diz Heywood, que pesquisou o dióxido de carbono na Antártida. É onde correntes oceânicas extremas levam o carbono, incluindo o depositado pelo plâncton, para as profundezas, onde pode ficar armazenado por séculos. As fortes correntes na passagem também transportam material do Pacífico, a milhares de quilômetros de distância, para o Atlântico Norte.

    A passagem também desempenha um papel importante em manter a Antártida fria, diz Alberto Naveira Garabato, oceanógrafo físico da Universidade de Southampton, no Reino Unido. Sem uma ponte terrestre para a América do Sul, é muito mais difícil para o ar quente chegar aos confins mais ao sul do globo.

    Modelos climáticos sugerem que, quando a Passagem de Drake se abriu há dezenas de milhões de anos — ninguém sabe ao certo quando —, ela contribuiu enormemente para o resfriamento da Antártida.

    Você pode sentir o efeito gelado da Passagem de Drake quando a atravessa em um navio, diz Naveira Garabato. “De repente, você está nesse mundo gelado”, explica ele. “Acontece assim, você pode ver a transição ocorrendo em apenas algumas horas.”

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      O Capitão Fiann Paul e seu time de remo formado por Andrew Towne e John Petersen ...

      O Capitão Fiann Paul e seu time de remo formado por Andrew Towne e John Petersen na travessia da Passagem Drake.

      Foto de Fiann Paul (CC BY-SA 4.0)
      A Passagem de Drake é uma das razões para as temperaturas gélidas da Antártida. Sem uma ...
      O carbono – um importante poluente de Efeito Estufa – afunda abaixo dos icebergs da região e ...
      À esquerda: No alto:

      A Passagem de Drake é uma das razões para as temperaturas gélidas da Antártida. Sem uma ponte terrestre ligando o continente à América do Sul, o ar quente do norte não flui facilmente para o sul. 

      Foto de Ralph Lee Hopkins, Nat Geo Image Collection
      À direita: Acima:

      O carbono – um importante poluente de Efeito Estufa – afunda abaixo dos icebergs da região e é armazenado sob a superfície do oceano. Locais como esses ao redor do mundo são essenciais para combater as mudanças climáticas. 

      Foto de John Eastcott and Yva Momatiuk

      O poder de resfriamento desse lugar único significa que, ironicamente, a perigosa Passagem de Drake ajuda a proteger o planeta.

      Se a Antártida fosse um lugar muito mais quente e os 29,8 milhões de quilômetros quadrados de gelo (29.784.885 km²) que cobrem o continente derretessem amanhã, o nível global do mar subiria mais de 195 pés.

      A pesquisa de Dove sugere que o oceano é menos estratificado nessa região, em parte graças aos ventos fortes e à forma irregular do leito marinho. Isso significa que o fitoplâncton, por exemplo, que captura carbono da atmosfera, pode ser levado para as profundezas em grandes volumes.

      Passagem de Drake poderia, então, ser um dos poucos pontos críticos de sequestro de carbono no Oceano Antártico, que, coletivamente, remove 600 milhões de toneladas de carbono da atmosfera todos os anos. Isso equivale a cerca de um sexto de todo o carbono emitido pelas atividades humanas anualmente.

      “A Passagem Drake remove 600 milhões de toneladas de carbono da atmosfera todos os anos.”

      O ecossistema antártico e sua dependência da Passagem de Drake

      É importante lembrar a abundância de vida não humana que prospera na Passagem de Drake e em outros lugares ao redor da Antártida, diz Naveira Garabato.

      Correntes vigorosas transportam nutrientes por toda parte, sustentando a vida desde o plâncton e o krill até as maiores baleias. “Todo o ecossistema antártico depende desse tipo de afloramento”, diz ele.

      Fiann Paul se lembra vividamente dos pinguins, golfinhos e baleias que ele e sua equipe viram quando finalmente se aproximaram de seu objetivo – o Charles Point – na Península Antártica, no final de sua aventura de remo.

      De navio, leva cerca de dois dias para atravessar a Passagem de Drake, embora hoje em dia os turistas também possam voar e navegar”, combinando uma travessia de navio e um voo. Paul e seu time conseguiram depois de 13 dias lutando contra um dos lugares mais selvagens da Terra.

      Depois de todo aquele mar agitado e céus cinzentos, de repente o gelo branco brilhante da Antártida os atraiu, com as laterais do gelo coloridas aqui e ali com um azul elétrico.

      Paul diz que alguns membros da expedição ficaram tão felizes ao ver o continente depois de fazer a árdua viagem pela Passagem de Drake que se emocionaram até às lágrimas: “É um lugar tão bonito”.

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