Confira 6 dicas para que sua próxima viagem à praia seja mais sustentável
Muitas casas de praia em Nags Head, Carolina do Norte, Estados Unidos, são construídas sobre palafitas, o que pode ajudá-las a enfrentar furacões e inundações. Mas nos últimos anos, esses edifícios nas Outer Banks desmoronaram, em parte devido ao aumento do nível do mar causado pelas mudanças climáticas.
É um momento difícil para os amantes das praias. O aumento do nível do mar e as tempestades cada vez mais intensas causam estragos nas costas do mundo. Casas de férias ao longo dos Outer Banks da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, foram absorvidas pelo oceano; Miami Beach ficou sem areia para reabastecer suas praias erodidas; e as tempestades no Caribe causaram repetidamente bilhões de dólares em danos.
Os 7000 resorts à beira-mar do mundo operam literalmente na linha de frente dessa batalha, e o turismo sustentável se tornou uma ferramenta fundamental na luta. Mas estes resorts não só estão reagindo às mudanças nas costas, mas também estão contribuindo para elas.
No início do século 19, quando os resorts à beira-mar se tornaram um elemento da vida da classe alta britânica, as locomotivas a vapor que os turistas usavam para chegar a eles já estavam aquecendo a atmosfera e contribuindo ao aumento dos níveis do mar. Após a Segunda Guerra Mundial, as classes médias emergentes nos Estados Unidos e na Europa transformaram as férias na praia em um marco cultural graças à renda disponível, folga remunerada, viagens aéreas de passageiros acessíveis e vacinas contra doenças tropicais.
Na ilha havaiana de Oahu, a praia de Waikiki atrai muitos visitantes todos os anos. Embora esteja cercado de palmeiras, as árvores não são nativas e não contribuem para impedir a erosão da costa.
As viagens pelo mundo explodiram nos séculos 20 e 21. Em 1950, 25 milhões de pessoas viajaram internacionalmente. Em 2019, o número cresceu a 1500 milhões. Os turistas gravitavam para as costas da Tailândia ao Havaí. Somente seus voos de avião contribuíram para a maior parte da crescente pegada de carbono das viagens.
No final do século 20, o paraíso precisava de ajuda. Surgiu, então, o turismo sustentável, conceito que significa essencialmente adotar práticas para reduzir os efeitos sociais, econômicos e ambientais negativos do turismo de massa.
Conforme relato em meu novo livro, The Last Resort: A Chronicle of Paradise, Profit, and Peril at the Beach, (O Último Resort: Crónica sobre o Paraíso, Lucro e Perigo na Praia – em português) a verdadeira sustentabilidade no turismo de praia é difícil de encontrar. Mas eu descobri lugares e práticas que estão respondendo eficazmente à crise climática.
Os viajantes podem ajudar escolhendo, apoiando e estando cientes do impacto do turismo nas costas, bem como reduzindo suas próprias pegadas de carbono. Confira estas seis dicas de viagens sustentáveis que você deve considerar antes de sua próxima escapada para o paraíso.
Durma longe da praia
Os hotéis arranha-céus e outras estruturas de concreto construídas na praia bloqueiam o fluxo de areia, inevitavelmente causando erosão. Uma vez que a areia acaba, os proprietários dos resorts enfrentam escolhas difíceis: construir um dique para proteger a terra, reabastecer continuamente a praia ou abandonar o prédio.
Os resorts devem estar afastados da praia, idealmente compostos por vários edifícios menores em vez de um único e imóvel, usando materiais e técnicas que facilitem futuras relocações e reparos após tempestades.
Ideia ecológica: a lei da Nicarágua exige que os novos prédios estejam 50 quilômetros recuados da linha de maré alta. Isso motivou resorts como o Maderas Village a construir cabanas nas colinas entre as árvores. O resort utilizou madeira nativa e folhas de palmeira em sua construção. Tudo isso significa melhores vistas e brisas para os hóspedes, recuperação mais rápida de tempestades e preservação do ecossistema do litoral.
Evite voos de longa distância
Para férias na praia que envolvam longas viagens aéreas, o voo pode representar três quartos de sua pegada de carbono total. Isso significa que não importa quão sustentável seja um resort, o impacto de sua estada lá pode ser considerado não ecológico. Em lugar disso, pense em ir para uma praia mais próxima (talvez uma que você possa chegar de trem ou outro transporte público) em vez das Maldivas.
Em alguns países, é possível que essas decisões já não sejam tomadas pelos próprios viajantes. Os países europeus já estão promulgando leis para desalentar as viagens aéreas. A França proibiu voos domésticos onde um trem pode cobrir a mesma rota em duas horas e meia ou menos, e a Áustria proibiu voos que custam menos de 40 euros. O Reino Unido considerou a proibição de programas de passageiro frequente, que recompensam os viajantes pelos voos de longa distância.
Inteligente e sustentável: Escolher um resort mais perto de casa pode fazer uma enorme diferença na pegada de carbono de suas férias. Se você voar, comprar compensações de carbono para a viagem ajuda. Se você evitar voar, não estará sozinho. Na Suécia, onde o “flight-shaming” (ou vergonha de voo, em tradução literal) se tornou uma força social, os passageiros nos aeroportos do país diminuíram 4% em 2019.
Esqueça as sombras das palmeiras
As palmeiras são um símbolo perdurável da cultura da praia, tão prováveis de serem plantadas nas areias de Cancún quanto ao longo do Mediterrâneo, na Riviera Francesa. Mas os coqueiros são nativos apenas de algumas partes da Península Malaia e da Índia, e são quase inúteis para criação de costas sustentáveis. Suas raízes superficiais não contribuem para conter a erosão; eles não absorvem tanto carbono quanto outras espécies; fornecem pouca sombra; e requerem muita água.
À medida que o coqueiro se tornou onipresente em hotéis ao redor do mundo, muitas plantas nativas desapareceram, principalmente os manguezais em frente a muitas praias tropicais que vão da Flórida à América Central, da África do Sul às Fiji. O reflorestamento de manguezais fornece ampla proteção natural para o litoral.
Plantações com propósito: West Palm Beach, Flórida, agora exige que tenha árvores plantadas nos estacionamentos, 75% das quais devem produzir sombra, ou seja, palmeiras “não”. Alguns resorts também estão acompanhando essa mudança. A rede Six Senses, por exemplo, está incorporando manguezais no paisagismo de alguns resorts, principalmente na Tailândia, com a esperança de ajudar a redefinir o conceito de praia ideal.
Procure resorts que empoderem os habitantes locais
É difícil entender a cultura e a paisagem de uma costa se você é um estranho. Por isso, mesmo quando as empresas estrangeiras de resorts têm boas intenções, muitas vezes cometem equívocos e não administram bem a situação no local e, portanto, têm dificuldades para obter a adesão da população do lugar.
Por exemplo, se um programa novo de proteção da costa interfere no trabalho dos pescadores locais sem compreender suas necessidades e ajudá-los na adaptação, é improvável que seja bem-sucedido. Os moradores entendem as nuances de tais situações e devem ser capacitados para contribuir com suas soluções.
Além disso, a agência e propriedade local na indústria do turismo garantem que mais rendas do turismo permaneçam na economia local, em vez de serem canalizadas para empresas estrangeiras.
A ilha de Tioman, na Malásia, recorreu à reciclagem e a métodos de construção de baixo impacto para manter seu turismo sustentável.
Um avanço na reciclagem: na Ilha Tioman, na costa leste da Malásia, o turismo de praia tem sido um motor econômico desde a década de 1990. Os moradores ficaram frustrados tanto com as crescentes pilhas de garrafas de cerveja dos turistas quanto com a falta de areia disponível para misturar concreto em projetos de construção. Uma ONG local enfrentou ambos os problemas com uma solução engenhosa: uma pequena máquina que transforma garrafas de vidro em areia.
Exija ao seu 'eco-resort' que respalde suas promessas
Nenhuma lei impede que um hotel se autoproclame eco-resort, mesmo que não funcione de forma sustentável. Certificações ecológicas, como Leed e Green Key, têm custos exorbitantes que excluem muitos resorts menores. O marketing inteligente geralmente convence os hóspedes da credibilidade ambiental de um resort. Existe até um termo para isso: greenwashing. Não se deixe enganar pela imagem.
Em vez disso, procure pequenos prédios afastados da costa, de proprietários locais (ou com moradores em cargos superiores), janelas que se abram para diminuir a necessidade de ar condicionado, proibições de plástico de uso único e menus com comida e bebida locais. Alguns hotéis responsáveis fornecem informações on-line sobre fontes de eletricidade e práticas de gerenciamento de resíduos.
Cuidado com os campos de golfe. Eles consomem centenas de milhares de litros de água todos os dias, muitas vezes em locais com problemas de abastecimento de água, e o fertilizante usado para mantê-los tão verdes causa estragos nos ecossistemas oceânicos próximos. Eles destroem a vegetação natural e muitas vezes deslocam os moradores locais quando são construídos.
Um farol de praia: no luxuoso resort Nihi Sumba, na Indonésia, a maioria das áreas de estar e jantar dos hóspedes ficam ao ar livre, minimizando a necessidade de ar condicionado. Todos os edifícios estão bem afastados da água; a vegetação natural permanece praticamente intacta; e os habitantes locais trabalham em vários cargos superiores. Além disso, na propriedade funciona uma nova planta de dessalinização e engarrafamento de água que eliminou todas as garrafas plásticas de uso único.
Evite lugares superdesenvolvidos
A maioria dos moradores locais vê, inicialmente, que os benefícios financeiros e sociais do turismo de praia superam amplamente os inconvenientes. Mas à medida que o desenvolvimento aumenta e o controle cai para forasteiros, surge um ponto de inflexão quando a indústria do turismo local é percebida mais como prejudicial do que benéfica. Atualmente, em lugares como Cinque Terre, na Itália, os moradores estão tentando reduzir o turismo, depois de ver como impacta na qualidade de vida e na saúde do ambiente ao redor.
Prevenir o desenvolvimento excessivo antes que ele aconteça requer limitar o número de turistas de forma oficial. Os governos locais podem restringir novas licenças de construção ou proibir futuras construções na praia.
Os viajantes podem interromper o ciclo do desenvolvimento desmedido escolhendo destinos menos visitados. Em vez de Santorini, vá para uma ilha grega mais sossegada, como Folegandros. Evite a Costa Rica e continue para o norte até a Nicarágua. Destinos menos movimentados também precisam de receita dos visitantes, inclusive mais do que as mecas com excesso de turistas.
Paraíso protegido: as praias imaculadas de areia branca, as impressionantes formações rochosas e as temperaturas de 26ºC durante todo o ano em Fernando de Noronha permanecem intactas graças ao governo local, que limita o turismo. Apenas 420 viajantes podem desembarcar nas ilhas a cada dia, e todas as receitas financiam os esforços de conservação. Os 3000 habitantes das ilhas viram seu padrão de vida aumentar, sem sofrer as desvantagens do desenvolvimento excessivo.
Sarah Stodola é escritora de viagens e cultura e autora de The Last Resort: A Chronicle of Paradise, Profit, and Peril at the Beach and Process: The Writing Lives of Great Authors. Ela é a fundadora da Flung, uma revista on-line dedicada ao pensamento crítico sobre viagens.