O filme Jurassic Park errou quase tudo sobre esse icônico dinossauro

Novas descobertas fósseis e a análise mais detalhada feita até hoje do dilofossauro produziram a primeira imagem clara de como era de fato a aparência do dinossauro com crista.

Por John Pickrell
Publicado 14 de jul. de 2020, 17:00 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 01:56 BRT
Uma reconstrução mostra um Dilophosaurus wetherilli adulto cuidando de um ninho com ovos.

Uma reconstrução mostra um Dilophosaurus wetherilli adulto cuidando de um ninho com ovos.

Foto de Illustration by Brian Engh

No filme Jurassic Park, de 1993, um vilão morre em um encontro fatídico com um dilofossauro.  Com altura semelhante a uma pessoa, o curioso dinossauro se transforma em uma ameaça mortal ao estender sua grande franja no pescoço, assobiar e cuspir veneno nos olhos do homem. A cena popularizou o dilofossauro — mas o verdadeiro predador jurássico não era nada parecido com o do filme.

“Costumo dizer que o dilofossauro é o dinossauro com a pior fama possível”, afirma Adam Marsh, paleontólogo do Parque Nacional da Floresta Petrificada no Arizona, nos EUA, pesquisador principal de uma ampla descrição da espécie publicada no periódico Journal of Paleontology.

Apesar de descoberta há 80 anos, a espécie permaneceu pouco compreendida.

Na foto, é mostrada a imagem de uma escavação feita em 1942 por cientistas da Universidade da Califórnia, em Berkeley, quando um espécime de dilofossauro foi descoberto.

Foto de University of California Museum of Paleontology

Now, the new analysis includes two previously unstudied fossil specimens from Arizona, providing the first clear picture of what Dilophosaurus was like in life. Rather than a small dinosaur that re

Agora, a nova análise acrescenta dois espécimes fósseis do Arizona não estudados anteriormente, oferecendo a primeira imagem clara de como seria a aparência do dilofossauro em vida. Em vez de um pequeno dinossauro que fazia uso de artifícios como veneno e uma franja no pescoço para subjugar suas presas, o dilofossauro era um predador perigoso e um dos maiores animais terrestres da América do Norte quando viveu no início do período Jurássico, ocorrido entre 201 e 174 milhões de anos atrás.

É muito maior do que se imagina ao ver Jurassic Park”, explica Marsh.

Parte fóssil, parte gesso

Jesse Williams, indígena da tribo navajo, encontrou os primeiros espécimes de dilofossauro em 1940 no território da nação navajo perto de Tuba City, no Arizona. Em 1942, Williams mostrou os fósseis a paleontólogos da Universidade da Califórnia, em Berkeley, incluindo Samuel Welles, que o nomeou como uma nova espécie em 1954.

A equipe que reconstruiu o dinossauro para exposição utilizou ossos feitos de gesso para completar as peças que faltavam nos fósseis. O dinossauro resultante foi “intencionalmente feito à semelhança do alossauro, um predador diferente, (…) porque estava sendo montado em uma parede e queriam que parecesse completo”, conta Marsh. O problema é que o estudo de 1954 e uma pesquisa adicional publicada por Welles em 1984 não deixaram claro quais ossos eram fósseis reais e quais eram peças de gesso.

Pesquisas posteriores baseadas nesses primeiros estudos geraram confusão por não indicar se o dilofossauro possuía parentesco mais próximo com os carnívoros triássicos do tamanho de perus, como o celófise, ou com espécies maiores do fim do Jurássico, como o ceratossauro e o alossauro.

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    Wann Langston Jr., da Universidade da Califórnia, em Berkeley, supervisionou a reconstrução do primeiro esqueleto de dilofossauro no início da década de 1950.

    Foto de Texas Vertebrate Paleontology Collections

    “Depois de 1984, não se sabia ao certo se esses estudos faziam referência à anatomia real ou a algo criado a partir de gesso”, afirma Marsh. Sem mais recursos e horas de estudos, a confusão sobre a anatomia do animal se perpetuou por décadas.

    “Todos confiaram de alguma maneira naquela monografia para suas pesquisas, mas houve alguns problemas na elaboração desse artigo”, afirma Peter Makovicky, especialista em paleontologia da Universidade de Minnesota, que não participou no novo estudo.

    Redescobrindo o dilofossauro

    Para esclarecer a confusão, Marsh dedicou sete anos de estudos aos três esqueletos mais completos de dilofossauro, que são de propriedade da nação navajo e permanecem no acervo da Universidade da Califórnia, em Berkeley. Marsh também examinou dois espécimes não estudados encontrados no território navajo há duas décadas por Timothy Rowe, paleontólogo da Universidade do Texas em Austin, coautor da nova pesquisa e orientador de doutorado de Marsh.

    As primeiras pesquisas sobre o dilofossauro sugeriram que ele possuía maxilares fracos e uma crista frágil — algo que Marsh acredita que pode ter influenciado a descrição do animal como um dinossauro esguio que cuspia veneno do romance Jurassic Park, de Michael Crichton, publicado em 1990. Nem o veneno nem a franja no pescoço que aparecem no filme têm base em evidências fósseis.

    Os novos fósseis possuem uma perna traseira inteira e várias partes do esqueleto que estavam ausentes nos espécimes anteriores, como a caixa craniana e a pélvis, e os ossos mostram que o dilofossauro possuía maxilares fortes, ligados a músculos vigorosos. O animal possuía mais de seis metros comprimento — aproximadamente metade do tamanho de um T. rex adulto — e pesava três quartos de tonelada, o que significa que poderia capturar facilmente presas grandes que vivessem ao seu lado nos mesmos ambientes, como o dinossauro do gênero Sarahsaurus, um parente dos saurópodes de pescoço longo, com o tamanho de um SUV.

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    “O dilofossauro possui nitidamente a constituição física de um grande macropredador”, afirma Marsh. “É um animal de corpo enorme que nasceu para comer outros animais.”

    O estudo é uma “descrição muito bem-vinda desse animal”, afirma Martín Ezcurra, paleontólogo especializado nos primeiros dinossauros carnívoros do Museu Argentino de Ciências Naturais Bernardino Rivadavia, em Buenos Aires. “É muito interessante que os autores tenham estudado mais espécimes (...) e nos informado que o dilofossauro era mais comum nos ecossistemas no início do Jurássico do que se acreditava.”

    Beleza com crista

    Um ponto em que o filme Jurassic Park acertou foi a crista dupla sobre o focinho da criatura. Provavelmente uma característica para chamar a atenção, a crista pode ter sido colorida em vida e pode ter sido utilizada para intimidar rivais ou atrair parceiros sexuais, semelhante à função dos chifres de cervos ou das caudas de pavões.

    “É um animal tão impressionante. Possui duas cristas ósseas delgadas sobre o crânio, que se estendem basicamente da narina à órbita ocular “, afirma Makovicky.

    Apesar de ser formada por ossos finos, essa crista, “com uma constituição singular”, era reforçada com uma estrutura hexagonal de bolsas de ar para fortalecê-la e protegê-la, afirma Marsh. Ele e Rowe também descobriram que as bolsas de ar atravessam a caixa craniana e outros ossos do esqueleto, sugerindo como os ancestrais do dilofossauro podem ter desenvolvido esqueletos mais leves, o que permitiu que os animais alcançassem tamanhos maiores sem serem prejudicados pelo próprio peso, tornando-se os primeiros grandes dinossauros carnívoros da América do Norte.

    Os espaços na crista — que se unem às passagens nasais do animal — podem até mesmo ter sido ligados a sacos de ar infláveis para ficar à mostra, possivelmente como observado em aves modernas como as fragatas. No entanto a teoria terá que ser avaliada por outros paleontólogos utilizando os dados anatômicos recém-publicados, afirma Marsh.

    O dilofossauro, o criolofossauro e seus primos dinossauros com crista da China e Argentina surgem no início do Jurássico e representaram “um aumento repentino no tamanho de corpo ao longo da transição do Triássico-Jurássico, coincidindo com o desaparecimento de grandes predadores ligados aos crocodilos”, afirma Makovicky. “Esse nicho de grandes predadores está aberto e esses dinossauros com crista parecem se encaixar perfeitamente nele.”

    Apesar de seu sucesso inicial, os dinossauros com crista viveram apenas por um breve período em termos evolutivos — algumas dezenas de milhões de anos — antes de serem substituídos por espécies como o ceratossauro e o alossauro. Cristas na cabeça são muito menos comuns em dinossauros posteriores, talvez porque esses animais tenham começado a desenvolver penas, o que chamaria muito mais atenção e demandaria menos em termos biológicos do que placas ósseas.

    “Em muitos aspectos, o dilofossauro é uma espécie-chave para nossa compreensão dos terópodes no início do Jurássico”, afirma Makovicky. “Mas os artigos relacionados estão desatualizados há muito tempo.”

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