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Há 50% de chance de uma galáxia colidir com a Via Láctea, onde está a Terra: um novo estudo explica

Há muito tempo os astrônomos acreditam que a Via Láctea caminha para um inevitável choque com a galáxia vizinha, Andrômeda. Mas um novo estudo complica a história.

Há muito tempo, pesquisadores acreditam que a Via Láctea colidirá com a galáxia de Andrômeda dentro de 4 a 5 bilhões de anos. Esta ilustração científica mostra o horizonte da Terra a 4 bilhões de anos no futuro. Na imagem, Andrômeda está esticada após sua primeira passagem próxima pela Via Láctea, que também está deformada.

Foto de Illustration by NASA, ESA, Z. Levay and R. van der Marel (STScI), and A. Mellinger
Por Robin George Andrews
Publicado 9 de jun. de 2025, 06:59 BRT

Por mais de um século, os astrônomos observaram a galáxia de Andrômeda, composta por um enorme redemoinho de estrelas vizinhas, acelerando em direção à Via Láctea, a galáxia que o planeta Terra pertence. 

E, nos últimos anos, as medições feitas com o Telescópio Espacial Hubble pareciam confirmar uma profecia de longa data:  que em cerca de 4 ou 5 bilhões de anosas duas galáxias se chocarão e, por fim, se fundirão em uma nova galáxia colossal e irreconhecível.

Uma nova pesquisa crucial de ambas as galáxias, e de várias outras galáxias de peso no mesmo canto do Cosmos, agora lançou dúvidas sobre esse futuro choque calamitoso. A nova previsão analisou bilhões de anos no futuro e descobriu que a probabilidade de uma fusão entre Andrômeda e a Via Láctea é de aproximadamente 50%

“Um lance de moeda, como ‘cara ou coroa’ é a descrição mais precisa”, diz Till Sawalaastrofísico da Universidade de Helsinque, na Finlândia, e coautor do novo estudo.

Um apocalipse galáctico desordenado não é mais uma garantia. Conforme observado no novo estudo da equipe, publicado hoje na revista científica Nature Astronomy. “As proclamações sobre o fim iminente de nossa galáxia parecem muito exageradas”, comenta Sawala.

A Terra não existirá daqui a cinco bilhões de anos; ela provavelmente será queimada e engolida pelo nosso Sol em expansão. Mas se as galáxias Via Láctea e Andrômeda conseguirem se desviar uma da outra, isso é uma boa notícia para os mundos futuros. 

Uma fusão de galáxias nessa escala geralmente faz com que os buracos negros supermassivos em seus corações de cada galáxia se unam e se expandam em um monstro astrofísico temível e hiperenergético. Isso evita que o gás próximo esfrie e se acumule para formar novas estrelas – e sem novas estrelas, não haverá novos planetas

A possibilidade de um “quase” acidente galáctico é “de certa forma reconfortante”, diz Alister Graham, pesquisador de galáxias da Universidade de Tecnologia de Swinburne, na Austrália, que não participou da nova pesquisa. 

É bom pensar que, de acordo com essa nova pesquisa, a Via Láctea “ainda tem um longo futuro de formação de planetas pela frente”

A confusão que acontece nas fusões de galáxias


Os astrônomos testemunham a ocorrência de fusões de galáxias em todo o espaço e tempo. A união de duas galáxias de massa semelhante é chamada de fusão maior, ao passo que se uma galáxia maior engolir uma menor, isso é conhecido como fusão menor

Embora algumas estrelas sejam despedaçadas pelas interações gravitacionais extremas das duas galáxias que se agitam e se chocam – e algumas, incluindo seus planetas, sejam espalhadas como confete em todas as direções –, muitas vezes os espaços entre as estrelas individuais são tão vastos que a maioria delas não colide. E, embora as galáxias menores possam desaparecer nas gargantas das maiores, o resultado geralmente é construtivo.

“As fusões menores fornecem estrelas e gás, a matéria-prima para a futura formação de estrelas, para a galáxia hospedeira. Os ventos estelares das estrelas recém-formadas enriquecem o meio interestelar com poeira e metais, alimentando ainda mais o ciclo de formação de estrelas”, explica Graham. Até mesmoVia Láctea mostra evidências de ter sido montada por meio de múltiplas explosões galácticas.

“Até 50% da massa das galáxias atuais provêm de galáxias anteriores canibalizadas”, afirma Christopher Conselice, astrônomo extragaláctico da Universidade de Manchester, na Inglaterra, que não participou da nova pesquisa.

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      À esquerda: No alto:

      A 2,5 milhões de anos-luz de distância, Andrômeda, também conhecida como M31, é a nossa grande vizinha galáctica mais próxima.

      Foto de ESA, NASA, JPL-Caltech, GBT, WSRT, IRAM, C. Clark (STScI)
      À direita: Acima:

      Andrômeda é visível a olho nu da Terra. Aqui, ele pode ser visto como um ponto brilhante no céu noturno que se eleva acima das formações de Tufa em Mono Lake, na Califórnia, Estados Unidos.

      Foto de Babak Tafreshi, Nat Geo Image Collection

      Embora os astrônomos saibam que Andrômeda está se aproximando da Via Láctea desde a virada do século 20. Porém, os pesquisadores não tinham certeza de quão direto, ou de relance, seria o choque. Mas em 2012, um estudo de referência usando o Hubble chegou a uma conclusão definitiva. 

      Com base nos movimentos de suas estrelas e nas pesadas massas das galáxias, ambas seriam gravitacionalmente atraídas uma pela outra para uma colisão frontal dentro de 4 a 5 bilhões de anos. Estudos posteriores apresentaram cronogramas ligeiramente anteriores ou posteriores para quando a fusão aconteceria, mas nunca colocaram em dúvida sua inevitabilidade.

      E cerca de 2 bilhões de anos após a tempestuosa fusão principal, as duas espirais estelares semelhantes se acalmariam e se uniriam. “Seria uma bolha elíptica”, afirma Sawala. 

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      Ambas as galáxias podem ser vistas no céu noturno: a Via Láctea, que se estende pelo céu noturno das constelações Cassiopeia a Cygnus, e a Galáxia de Andrômeda aparecem acima desse pinheiro de 3 mil anos de idade.

      Foto de Babak Tafreshi, Nat Geo Image Collection

      A Grande Nuvem de Magalhães, galáxia anã satélite da Via Láctea


      Desde 2012, esse resultado se tornou um ‘evangelho’ entre a comunidade científica e um fato clássico: “Se a Via Láctea e Andrômeda fossem tudo o que importa então elas estariam indo diretamente uma para a outra”, diz Graham.

      Mas a possibilidade de uma futura colisão depende também do comportamento de tudo o mais no Cosmos: o conjunto de pelo menos 100 galáxias que se encontram nessa parte do universo. Outras grandes galáxias em nossa região podem empurrar ou puxar as duas viajantes ao longo do tempo.

      A equipe de Sawala decidiu simular a evolução da Via Láctea e da galáxia de Andrômeda em dez bilhões de anos no futuro. Mas, ao fazer isso, eles também levaram em conta outros participantes importantes do espaço próximo a elas: especificamente, a galáxia Triangulum em forma de espiral (e a terceira maior) e a Grande Nuvem de Magalhães (ou LMC), uma galáxia irregular e “anã” que orbita a Via Láctea.

      A equipe utilizou dados do Hubble e do observatório espacial Gaia, da Agência Espacial Europeia, para determinar com mais precisão os movimentos dessas galáxias, bem como suas massas, compostas tanto de matéria comum quanto da invisível, porém mais predominante, matéria escura

      Embora já se soubesse que a Galáxia Triangulum era bastante maciçapensava-se que a LMC era um pouco leve.  Mas os novos dados sugerem que ela é surpreendentemente maciça – equivalente a 10 a 20% da massa da Via Láctea. “E isso terá um efeito sobre como a Via Láctea se move no espaço”, revela Sawala. 

      A equipe simulou os movimentos dessas quatro galáxias de peso pesado milhares de vezes. Por um lado, há a influência gravitacional da galáxia Triangulum conspirou para aproximar a Via Láctea e Andrômeda, de outro, a Grande Nuvem de Magalhães teve um efeito repelente. E quando todas as quatro dançaram juntas, a probabilidade de uma eventual grande fusão era de apenas uma em duas.

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      Esta ilustração científica do horizonte da Terra, 3,75 bilhões de anos no futuro, mostra Andrômeda preenchendo o campo de visão e a Via Láctea começando a apresentar distorção devido à atração das marés de Andrômeda.

      Foto de Illustration by NASA, ESA, Z. Levay and R. van der Marel (STScI), T. Hallas, and A. Mellinger
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      Uma ilustração científica do horizonte da Terra daqui a 3,85 a 3,9 bilhões de anos mostra a primeira aproximação de Andrômeda. O céu está em chamas com a formação de novas estrelas, o que é evidente em uma infinidade de nebulosas de emissão e aglomerados de estrelas jovens.

      Foto de Illustration by NASA, ESA, Z. Levay and R. van der Marel (STScI), T. Hallas, and A. Mellinger

      Um quase acidente galáctico 


      “Haverá incertezas sobre como e quando a Via Láctea e Andrômeda se fundirão”, diz Conselice. A matéria escura pode atuar como uma força de ligação. Mas a energia escura, uma força misteriosa que parece afastar tudo no universo, também terá um papel importante, e dados recentes sugerem que sua força pode mudar com o tempo

      Tudo isso torna a previsão de uma fusão galáctica distante um tanto complicada

      Alguns astrônomos sugeriram que, se isso acontecer, a nova galáxia poderá ser chamada de Milkomeda, uma união dos nomes em inglês das galáxias (Via Láctea, “Milky Way” e Andromeda). Esse apelido não é exatamente fácil de pronunciar. Não se preocupe, diz Sawala: “Teremos bilhões de anos para pensar em um nome melhor”.

      De qualquer forma, o caos galáctico moldará o futuro da Via Láctea. Embora a LMC esteja afastando Andrômeda e nossa própria galáxia, as simulações da equipe também mostram que, nos próximos 2 bilhões de anos, a LMC entrará em espiral em nossa direção e será engolida por uma Via Láctea impiedosa.

      “É basicamente 100% certo que isso acontecerá”, diz Sawala. “Não há como escapar disso.”

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