Nossa relação com os cachorros remonta a dezenas de milhares de anos. Acredita-se que o fóssil ...

Qual é a melhor forma de tomar banho? Como a humanidade trocou os banhos coletivos por chuveiros

Durante a maior parte da história, as pessoas tomavam banho enquanto socializavam, relaxavam e até mesmo se divertiam. As duchas são eficientes, mas será que são a melhor opção?

Nossa relação com os cachorros remonta a dezenas de milhares de anos. Acredita-se que o fóssil de cão mais antigo confirmado tenha mais de 14 mil anos. Acima, um homem conduz seu cachorro em uma imagem em um sarcófago egípcio.

Foto de Ami Vitale, Nat Geo Image Collection
Por Leah Worthington
Publicado 22 de jan. de 2025, 07:00 BRT

Os brasileiros são famosos em todo mundo por seu hábito de tomar muitos banhos – mas não é só uma fama. De acordo com uma pesquisa recente de 2024, realizada pela World Population Review (organização independente que fornece dados demográficos e populacionais globais atualizados), o povo brasileiro é o campeão mundial em frequência de banhos, com uma média de dois banhos diários de chuveiro.

Para o norte-americano médio, o dia não está completo sem uma ducha, ao menos. Mais de 60% dos adultos dos Estados Unidos relataram tomar banho pelo menos uma vez por dia, por uma média de 8,2 minutos a cada vez, de acordo com uma pesquisa pública de 2021.

Por mais indispensáveis que sejam hoje, os chuveiros (ou duchas) são uma adição relativamente nova à civilização humana. Durante a maior parte da história humana registrada, que remonta a aproximadamente 3 mil anos a.C., as evidências sugerem que os banhos comunitários desempenhavam um papel central na vida diária. Desde os antigos banhos gregos até os onsen japoneses, pessoas de todas as classes sociais se reuniam nas casas de banho para se exercitartomar banho e socializar

Hoje em dia, as pessoas gostam mais de tomar banho sozinhas do que de banhos sociais, priorizando a eficiência em detrimento da comunhão e do relaxamento. Mas, por mais arraigado à cultura atual que o banho de chuveiro possa parecer, a prática não é necessariamente preferível do ponto de vista da saúde. Os especialistas refletem sobre a evolução da cultura do banho e o que foi ganho e perdido no processo.


(Sobre História e Cultura, leia também: Talento e drama: os 4 fatos sobre Maria Callas, uma das maiores cantoras de ópera da história)

Milhares de anos de banhos de banheira


Como parte central da vida, as práticas de banho ao longo da história refletiram as mudanças nos ideais de cuidado pessoal e saúde

Na Antiguidade, especialmente no Império Romanoo banho era quase que inteiramente um assunto público. Somente os poucos mais ricos tinham seus próprios banhos particulares, enquanto todos os outros participavam do ritual de banho comunitário, que geralmente ocorria em grandes complexos de banho e incluía massagensbibliotecas e até mesmo comida e bebida

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    À esquerda: No alto:

    Hércules adorna um capitel (a coroa de uma coluna) que decorava as Termas de Caracalla em Roma, na Itália.

    Foto de James L. Stanfield, Nat Geo Image Collection
    À direita: Acima:

    Os Banhos do Fórum, localizados atrás do Templo de Júpiter em Pompeia, Itália, datam de 80 a.C.

    Foto de David Hiser, Nat Geo Image Collection

    “Há muitas ilustrações artísticas mostrando festas e coisas acontecendo nos banhos e pessoas jantando no banho”, comenta Virgina Smith, historiadora e autora do livro “Clean: A History of Personal Hygiene and Purity”. 

    Para os gregos antigos, o banho era muitas vezes um ritual de autopurificação antes de ritos religiosos ou de receber convidados, de acordo com Katherine Ashenburg, autora de “The Dirt on Clean: An Unsanitized History”. As casas de banho tradicionais em estilo japonês eram usadas inicialmente para fins terapêuticos e religiosos e, posteriormente, como locais de reunião social. Os banyas russos e os hammams turcos também foram centros historicamente importantes de atividades sociais e religiosas.

    O banho nem sempre estava ligado à limpeza e higiene na mente das pessoas”, diz Ashenburg. “Às vezes, achava-se que entrar na água não só não fazia nada por você em termos de limpeza, como também era perigoso para sua saúde.”

    Durante a Peste Negra, por exemplo, os banhos públicos foram fechados porque os europeus medievais acreditavam que a abertura dos poros com água quente permitiria que a peste entrasse pela pele.

    Embora esse pensamento estivesse incorreto, havia preocupações com a higiene nos banhos públicos, de acordo com James Hamblin, médico e professor da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, e autor do livro “Clean: The New Science of Skin and the Beauty of Doing Less”. “Alguns relatos de casas de banho antigas descrevem camadas de lodo na superfície da água”, afirma ele. “Na verdade, você estava se expondo a agentes patogênicos.” 

    (Você pode se interessar:É seguro tomar água da torneira? Aqui, o que diz a ciência)

    Uma nova era para os banhos


    Os banhos coletivos em larga escala acabaram desaparecendo por volta da virada do século 20 no Ocidente. Um dos principais fatores foi o surgimento da teoria dos germes das doenças, “quando o banho passou a ser fortemente associado à limpeza”, explica Hamblin. A partir de meados de 1800, as cidades do Reino Unido começaram a construir banheiros públicos e casas de banho principalmente para os pobres

    Um fenômeno semelhante logo aconteceria nos Estados Unidos, principalmente na cidade de Nova York, onde o encanamento ainda era bastante inacessível e as populações de imigrantes aumentavam. Com o desenvolvimento do chamado “banho de chuva” – um tipo de chuveiro antigo que foi usado pela primeira vez por militares europeus e trabalhadores da indústria – surgiu uma nova visão de saúde pública e higiene em massa

    Foi-se o tempo dos longos e luxuosos banhos comunitários. Por causa do espaço, da água, do combustível e do custo-benefício, o banho de chuva tornou-se a forma preferida de banho. À medida que as pessoas começaram a ter encanamento em suas casas, as banheiras e chuveiros pessoais tornaram-se cada vez mais comuns e, por fim, passaram a ser a norma. 

    Naomi Adiv, professora assistente de ciências políticas da Universidade de Toronto Mississauga, no Canadá, atribui essa mudança, em grande parte, à “ascensão do capitalismo industrial” nos Estados Unidos. “A ideia de sair para tomar banho à tarde não está de acordo com a produtividade do trabalhador.” 

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      A Hoshi Onsen Chojukan é uma pousada de 140 anos com banhos termais localizada no Parque Nacional Joshin'etsukogen, no Japão.

      Foto de Gregor Lengler, Laif, Redux

      Ainda existem casas de banho públicas em todo o mundo, inclusive na Turquia, Rússia e Japão. Mas nossos rituais diários de limpeza foram em grande parte relegados a banheiras e chuveiros individuais – e não necessariamente para melhor.

      Perdemos o aspecto social [do banho] e, para muitas pessoas, a sensação de prazer”, diz Hamblin.

      O que é melhor, tomar banho de chuveiro ou de banheira?


      Do ponto de vista do saneamento, há poucas pesquisas sobre a preferência entre tomar banho de chuveiro ou de banheira. Com uma fonte de água limpa, ambos são eficazes para a higiene pessoal, afirma Kelly Reynolds, professora de Comunidade, Meio Ambiente e Política na Universidade do Arizona (Estados Unidos), e “realmente parece ser uma questão de escolha pessoal”. 

      Para aqueles que se preocupam em ficar de molho em água não higiênica, Amy Huang, dermatologista do Medical Offices of Manhattan, em Nova York, diz que “a menos que você esteja extremamente sujo, não deve haver nenhuma preocupação”.

      Assim como o microbioma intestinal, o bioma da pele contém milhares de espécies de micróbios que vivem e apoiam a saúde da pele, explica Hamblin. Tanto o banho quanto a ducha podem remover temporariamente esse bioma ou danificar nossa pele se a água estiver muito quente, se for usado muito sabão e se a esfregação for muito vigorosa.

      “O regime ideal é basicamente um sabonete suave sem fragrânciasem corantes e, de preferência, sem espuma”, diz Huang. Você nem precisa esfregar em todos os lugares – concentre-se nas axilas, nos órgãos genitais, nos pés e no couro cabeludo se estiver lavando o cabelo, acrescenta ela. Katrina Abuabara, professora associada de dermatologia da Universidade da Califórnia de San Francisco (UCSF), acrescenta que “usar buchas e panos pode danificar a barreira da pele, e lavar com as mãos é suficiente”.

      Para pessoas com eczema ou outros problemas de pele, por exemplo, os banhos podem ser uma parte eficaz de seu regime de tratamento. “Como você fica na banheira por mais tempo do que no chuveiro, você deixa a pele mais macia para que, ao aplicar o medicamento, a pele o absorva melhor”, diz Huang. 

      Tomar um banho quente também pode funcionar como um estímulo físico e mental, de acordo com Justine Grosso, psicóloga mente-corpo em Nova York e na Carolina do Norte. O banho de imersão, mais do que o banho de chuveiro, “demonstrou melhorar o humor de pessoas com depressão, melhorar o sono de pessoas com insônia e ter efeitos positivos no sistema cardiovascular”, comenta a psicóloga.

      Como exatamente o banho quente afeta o corpo ainda está sendo pesquisado. “Há algumas evidências de que ele funciona por meio da vasodilatação, na qual os vasos sanguíneos se alargam, permitindo que mais oxigênio e nutrientes cheguem à periferia do corpo”, acrescenta Grosso.

      A questão é o calor”, diz Ashley Mason, psicóloga clínica do Osher Center for Integrative Health da UCSF. Estudos preliminares sugerem que mergulhar em saunas, salas de vapor, banheiras de hidromassagem e chuveiros ou banheiras quentes pelo menos uma vez por dia pode ser benéfico

      Em geral, quando se trata de limpeza, diz Hamblin, menos é mais. O setor de higiene pessoal “medicalizou” uma prática que tem muito pouco a ver com a prevenção de doenças, afirma ele. Sem desconsiderar a necessidade do sabonete na saúde pública, ele culpa o marketing moderno por manipular os consumidores com crenças distorcidas sobre a importância de um ritual diário que usa produtos caros

      Do ponto de vista médico, o banho coletivo nunca foi um meio de melhorar a saúde, acrescenta Hamblin. Mas “em termos de conexão social, de relaxamento psicológico, não duvido que tenha tido algum efeito”.

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