Quem foi Nostradamus — e por que suas previsões ainda causam curiosidade e medo?
Michel de Nostredame, mais conhecido como Nostradamus, é retratado em uma gravura em madeira de 1810, feita por Charles Canivet. O médico e astrólogo francês é famoso por suas profecias, mas muitas delas são vagas e abertas a interpretações.
O que nos reserva o futuro e como será o fim do mundo? São perguntas tentadoras — e que, séculos atrás, o médico e autoproclamado profeta Nostradamus sempre afirmou poder responder.
Suas famosas previsões variam de confusas a assustadoras, e seus seguidores acreditam que suas previsões do século 16 ainda são válidas hoje. Suas supostas profecias para 2025 incluem longas guerras, pragas e uma bola de fogo que pode destruir a Terra.
Na verdade, Nostradamus é tão conhecido por suas previsões que uma referência a ele em 1672 está entre os primeiros usos documentados da palavra “prognostication” (prognóstico) na língua inglesa.
Mas o homem que alguns consideram um profeta não era um ser divino. Ele era um médico, farmacêutico e escritor francês da vida real, cujas previsões ousadas lhe renderam fama na tumultuada Europa renascentista. Aqui está o que você precisa saber sobre Michel de Nostradame (seu nome real), mais conhecido como Nostradamus.
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Quem foi Nostradamus?
Michel de Nostradame nasceu em Saint-Rémy-de-Provence, no sul da França, em dezembro de 1503 (os historiadores discordam sobre a data exata). Seus pais eram filho de um notário e a filha de um proeminente médico local. Nostradamus se casaria duas vezes durante sua vida, tendo oito filhos.
A França renascentista, assim como o resto da Europa, foi tomada por conflitos religiosos durante sua vida, com importantes implicações para o jovem Nostradame. Sua família era judia, mas se converteu ao catolicismo depois que a Provença passou a fazer parte do reino da França em 1486.
Embora os judeus tivessem uma longa história na região, eles foram obrigados pelas autoridades locais no final dos anos 1400 a se converterem ou serem expulsos, então, por conta disso, Michel foi criado como católico.
O jovem Nostradamus estudou latim, grego, hebraico e medicina e começou a frequentar a Universidade de Avignon ainda na adolescência. Ele recebeu seu diploma de bacharel em Medicina na década de 1520, embora sua escola tenha fechado por causa da peste bubônica enquanto ele era estudante.
Médico da peste e a Inquisição
Depois de concluir sua educação formal, Nostradamus passou um tempo viajando pela França estudando fitoterapia e tratando vítimas da peste bubônica, uma das doenças mais temidas da época. Os historiadores acreditam que ele foi expulso da Universidade de Montpellier, onde estudou em seguida, por ter praticado o ofício “manual” de boticário; eles discordam se ele voltou para receber seu doutorado completo.
Praticar medicina na França renascentista significava tratar doenças como a peste. Mas a medicina da época também envolvia práticas agora consideradas não científicas, como alquimia, astrologia e profecia.
Essas práticas não puderam salvar uma das esposas de Nostradamus, cujo nome se perdeu na história, nem seus dois filhos. Eles morreram na década de 1530, provavelmente de peste.
O médico devastado agora enfrentava outros problemas também. Em 1538, ele foi ouvido criticando duramente a habilidade artesanal de uma estátua religiosa — palavras que o levaram a ser acusado de heresia e levado perante os inquisidores em 1538.
Uma acusação de heresia teria destruído sua reputação localmente, e uma condenação significaria que ele seria executado. Mas o tribunal o absolveu, e ele retomou suas viagens, especializando-se em medicina contra a peste.
Alguns dos remédios de Nostradamus parecem ter funcionado, pois ele encontrou trabalho estável. O sucesso de alguns de seus remédios provavelmente dependia de práticas higiênicas, como recomendar água potável. Outros, como suas pílulas de rosa, usavam ervas e flores.
Sua prática também envolvia alquimia, astrologia e outras práticas esotéricas agora consideradas não científicas. Mas seus pacientes estavam satisfeitos o suficiente com os resultados para espalhar a notícia sobre sua habilidade. Científicos ou não, os tratamentos contra a peste do médico o levaram por toda a França na década seguinte — e tanto seu trabalho quanto seus escritos começaram a ganhar admiradores em altos cargos.
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As previsões poéticas de Nostradamus
O médico e astrólogo francês, cujo nome foi amplamente latinizado como Nostradamus, começou a escrever almanaques anuais na década de 1550, baseando-se em seu suposto “talento” para fazer previsões precisas sobre os eventos e as condições climáticas do ano seguinte. Essas publicações baratas e populares ficaram conhecidas por suas previsões poéticas e apresentaram Nostradamus a um público mais amplo.
A fama de Nostradamus lhe rendeu alguns clientes extremamente importantes, ansiosos por previsões pessoais e políticas. Em 1555, ele previu que um “jovem leão” — considerado um código para o brasão do rei Henrique 2º da França — cairia em combate, e no ano seguinte a esposa de Henrique, a rainha da França Catarina de Médici, e seu filho Carlos 9 visitaram o prognosticador.
Quando Henrique 2 realmente morreu em 10 de julho de 1559 devido a uma lesão sofrida durante um torneio de justas, isso provocou o que o historiador Denis Crouzet chamou de “uma sensação de catástrofe iminente”.
A linguagem vaga e floreada do médico o protegeu – tanto a si mesmo – quanto a pessoa no centro da profecia de erros, humilhação e acusações de charlatanismo, aumentando sua reputação e mistério ao longo do tempo. Como escreve a historiadora Michelle Pfeffer, da Universidade de Oxford (Inglaterra), para o site The Conversation, a astrologia e a previsão do futuro eram práticas comuns na época e eram especialmente populares entre a elite.
Naquela época, a Europa já estava em meio a conflitos religiosos e sociais, pois a Reforma desencadeou tensões entre católicos e protestantes, a desigualdade social provocou agitação e profecias e rumores tomaram conta do público. Muitas dessas divisões se transformariam em conflitos, incluindo guerras civis, durante a vida de Nostradamus.
“Criticado tanto por católicos quanto por protestantes, Nostradamus manteve suas profecias, publicando um grande li”
Criticado tanto por católicos quanto por protestantes, Nostradamus manteve suas profecias, publicando um grande livro sobre elas e continuando a lançar seus populares almanaques, mesmo depois de ter sido brevemente preso por publicar seu trabalho sem a permissão da Igreja.
Nostradamus morreu em 1º de julho de 1566, provavelmente de gota. Desde então, historiadores e o público têm discutido sobre as milhares de previsões que ele fez durante sua vida — e que aparentemente se confirmaram.
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O que Nostradamus previu x o que realmente aconteceu
Embora a aparente previsão de Nostradamus sobre a morte de Henrique 2º lhe tenha rendido fama durante sua vida, seu nome persistiu por séculos graças a outras profecias que alguns acreditam terem se cumprido.
Talvez a mais surpreendente de suas previsões tenha sido a previsão específica, por volta de 1558, de que “o Parlamento de Londres condenaria seu rei à morte”. Em 1649, foi exatamente isso que aconteceu: Carlos 1º foi decapitado por traição após um conflito com o Parlamento que acabou provocando uma guerra civil na Inglaterra.
“Como até mesmo os céticos devem reconhecer, esta é uma afirmação notável”, escreveu o biógrafo Ian Wilson. Na mesma profecia, Nostradamus previu que Londres seria “queimada por bolas de fogo em três vezes vinte e seis”. Em 1666, um incêndio realmente ocorreu em Londres, destruindo grandes áreas da cidade.
As pessoas da época não esqueceram as profecias de Nostradamus — e não pararam de procurar eventos que pudessem cumpri-las nos anos seguintes.
Os fãs do médico visionário atribuíram tudo a Nostradamus, desde a Revolução Francesa (“um casal” que resultará em “tempestade — fogo — sangue”), a ascensão de Napoleão (um imperador “que custará caro ao Império”) e a ascensão de Hitler (“o grande inimigo de toda a raça humana”).
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Mas, assim como muitas de suas previsões vagas não se concretizaram, há uma longa história de figuras políticas e culturais reinterpretando e até mesmo interpretando erroneamente Nostradamus para promover seus próprios objetivos.
Entre aqueles ansiosos por usar as profecias de Nostradamus estavam os líderes nazistas do Terceiro Reich. O propagandista Joseph Goebbels incorporou as profecias em sua propaganda, usando-as para semear dúvidas e angariar apoio para o esforço de guerra nazista.
Nostradamus também foi invocado por grupos extremistas, servindo como uma forma de transmitir ideologias a outros.
“Nostradamus também é creditado por prever o fim do mundo, que ainda não se concretizou. Ele profetizou que, em julho de 1999, “do céu viria um grande Rei do terror”.”
Nostradamus também é creditado por prever o fim do mundo, porém essa profecia ainda não se concretizou. Ele profetizou que, em julho de 1999, “do céu viria um grande Rei do terror”. Sua previsão alimentou ainda mais os temores apocalípticos, à medida que aumentavam as preocupações sobre como o suposto bug do Y2K afetaria os sistemas de computador na virada do milênio.
O astrônomo francês ainda é interpretado, lido e estudado por aqueles que se interessam por profecias e prognósticos.
Mais de 500 anos após sua morte, Nostradamus continua a entreter e confundir — e o interesse por suas profecias permanece forte. “As profecias continuam a moldar as esperanças e os medos em relação ao futuro de indivíduos, grupos, nações e do mundo inteiro”, escreve o historiador Stephen Bowd na Enciclopédia do Milenarismo e dos Movimentos Milenaristas. Afinal, quem não quer conhecer o futuro — ou acredita que é possível vê-lo?
