
Alinhamento planetário ou milagre? As principais teorias que explicam a Estrela de Belém
A Estrela de Belém aparece para os Três Reis Magos nesta ilustração. Entre as teorias pensadas para explicar este acontecimento, estudiosos especulam sobre a passagem de um cometa, a aparição de uma supernova ou uma conjunção planetária, entre outros.
A história da Estrela de Belém é uma das cenas mais reconhecíveis na imaginação cristã: um sinal brilhante que ilumina o local onde uma criança nasceu, guiando misteriosos visitantes do Oriente até o berço de um rei recém-nascido.
O Evangelho de Mateus, o único livro da Bíblia que menciona o evento, descreve uma estrela que surgiu no Oriente, chamou a atenção dos “magos” (provavelmente astrólogos-sacerdotes da Babilônia ou da Pérsia) e se moveu diante deles até parar sobre o lugar onde Jesus estava.
O episódio tem apenas uma dúzia de versículos, mas essas poucas linhas geraram dois milênios de especulação. O que os magos viram? Um evento astronômico poderia corresponder à descrição de Mateus? National Geographic lista o que estudiosos, astrônomos e teólogos propuseram em uma ampla gama de respostas que vai desde a possibilidade de cometas a supernovas e alinhamentos planetários.
(Você pode se interessar por: Quem foi o imperador romano que morreu de tanto comer queijo?)

“A Adoração dos Magos”, de Guiseppe Chiari (1654-1727). A Virgem Maria, sentada à esquerda e voltada para a direita, mostra o Menino Jesus aos Reis Magos que vieram do Oriente, trazendo presentes e seguindo uma estrela.
A Estrela de Belém explicada com a teoria do cometa
Uma das explicações mais antigas é também a mais intuitiva: a passagem de cometas, que podem ser espetaculares e amplamente visíveis. Os povos antigos costumavam interpretar os cometas como sinais que anunciavam eventos auspiciosos.
O cometa Halley, por exemplo, apareceu em 12-11 a.C. e novamente em 66 d.C. Sua aparição em 26 de agosto de 12 a.C. está registrada no livro astronômico chinês conhecido como “Livro de Han”. Já o historiador romano Cassius Dio relacionou o aparecimento do cometa Halley nos céus acima de Roma com a morte do general Marcus Agrippa.
Quando Orígenes de Alexandria, teólogo cristão do século 3, tentou explicar os movimentos incomuns da Estrela de Belém, ele escreveu que ela deveria ser “classificada com os cometas que ocorrem ocasionalmente, ou meteoros, ou estrelas com barba ou em forma de jarra...”.
O problema com essa teoria, porém, é que a data não coincide com o reinado de Herodes, o Grande, que morreu em 4 a.C. e é explicitamente mencionado em Mateus. Se assumirmos que a cronologia do Evangelho está mais ou menos correta, então o cometa Halley — o único candidato plausível para o cometa — apareceu muito cedo para ser relevante para o nascimento de Jesus.
Mais importante ainda, Mateus descreve a estrela como algo que os magos viram “ao nascer” e algo que mais tarde “ficou sobre” uma casa específica. Os cometas não se comportam dessa maneira — seu movimento é suave e previsível.
Curiosamente, os cometas eram geralmente considerados preditores de desastres, e não de boa sorte, segundo acreditavam os antigos. O historiador judeu Josefo escreveu sobre um cometa que passou sobre Jerusalém antes de sua destruição na primeira Guerra Judaica.
Já Suetônio observa que o aparecimento de um cometa levou o imperador Nero, um homem supersticioso, a mandar executar várias figuras importantes de seu governo no Império Romano. Se a estrela fosse um cometa, escreve Raymond Brown, autor de “The Birth of the Messiah” (“O Nascimento do Messias”, em tradução livre), é difícil imaginar por que os magos teriam seguido um presságio tão ruim até Belém.

Na Basílica de Sant'Apollinare Nuovo, em Ravena, na Itália, os Reis Magos e seus presentes são representados em um impressionante mosaico do início do século 6.
A Estrela de Belém e a teoria da supernova
Outra possibilidade dramática é que os magos tenham testemunhado uma supernova — uma estrela em explosão tão brilhante que era visível durante o dia — ou uma nova menos intensa, que ainda assim produz um aumento repentino e impressionante no brilho.
Astrônomos chineses, que mantinham registros cuidadosos que datavam de 1000 a.C., registraram um possível cometa com cauda em 5 a.C. e uma possível nova ou supernova em 4 a.C. Essas datas são promissoras: elas se enquadram em um período plausível para o nascimento de Jesus e os últimos anos de Herodes.
Mais uma vez, porém, a correspondência é imperfeita. Uma supernova ou nova seria visível para todos, não apenas para os astrônomos. Mas Mateus não dá nenhuma indicação de que Herodes ou os residentes de Jerusalém tenham notado uma luz incomum no céu. E no relato, Herodes parece surpreso quando os magos chegam e precisa perguntar a eles em particular sobre o momento em que a estrela apareceu. Além disso, assim como os cometas, as supernovas também não “ficam acima” de uma única casa.
Onde a hipótese da nova é bem-sucedida é em suas imagens dramáticas. O bispo cristão Inácio de Antioquia, no início do século 2, detalhou sua luz como “indescritível” e superior a todas as outras estrelas — um sinal celestial digno do nascimento de um rei.
(Mais sobre História: Onde fica exatamente a cidade de Belém, onde Jesus teria nascido?)
“A narrativa da estrela de Mateus tem menos a ver com astronomia e mais com simbolismo literário e teológico.”
A teoria da conjunção planetária
A explicação moderna mais popular é que a estrela era, na verdade, uma conjunção de dois ou mais planetas no céu noturno. A teoria remonta ao astrônomo Mash'allah, do século 8, cuja história astrológica se baseava em uma teoria babilônica anterior de que eventos importantes e mudanças de poder são previstos pelas conjunções dos planetas no céu.
Ele afirmou que três eventos importantes — o grande dilúvio, o nascimento de Jesus e o nascimento do profeta Maomé — foram todos antecipados pelas conjunções de Saturno e Júpiter.
Grant Mathews, professor de física teórica da Universidade de Notre Dame (em Indiana, nos Estados Unidos), estudou os alinhamentos planetários no período aproximado do nascimento de Jesus (8-4 a.C.). Ele percebeu que, em 17 de abril de 6 a.C., houve um alinhamento especial do Sol, da Lua, de Júpiter, de Saturno e do equinócio vernal na constelação de Áries, enquanto Vênus se alinhava na constelação adjacente de Peixes.
Esse alinhamento específico dos planetas (com Mercúrio e Marte em Touro) foi tão incomum que não ocorrerá novamente até 16.213 d.C.
Cada um dos corpos celestes envolvidos nessa conjunção planetária tinha um significado particular para os astrônomos antigos. Júpiter era associado à realeza e sugeria um governante quando estava com o Sol. Juntas, disse Mathews, as conjunções desses planetas em Áries, que era associado à Judeia, sugeririam o surgimento de um novo governante naquela região.
Um alinhamento planetário pode muito bem ter motivado a viagem especial empreendida pelos magos e, ao contrário de uma supernova, uma conjunção planetária não é especialmente brilhante. Isso pode explicar por que ninguém além dos magos se interessou pela estrela.
(Conteúdo relacionado: Quem foram os apóstolos de Jesus, segundo o cristianismo?)
A Estrela de Belém teria sido um milagre? O que ela simboliza
Por fim, muitos intérpretes cristãos argumentaram que a Estrela de Belém não era um fenômeno natural – mas um milagre. O falecido bispo antigo João Crisóstomo acreditava que a estrela devia ter sido milagrosa, pois agiu de maneira diferente de uma estrela normal, parando sobre uma casa. Da mesma forma, Orígenes comparou a estrela à coluna de fogo sobrenatural que guiou Israel no deserto.
Outros estudiosos acreditam que a história da estrela é um recurso literário. Robyn Walsh, professora associada de “Novo Testamento” na Universidade de Miami (nos Estados Unidos), disse: “A narrativa da estrela de Mateus tem menos a ver com astronomia e mais com simbolismo literário e teológico... Presságios celestiais eram uma característica comum nas biografias de heróis, imperadores e deuses”.
O poeta romano clássico Virgílio escreve que uma estrela brilhante guiou Enéas até o local onde Roma deveria ser fundada. Comentadores antigos observam que os nascimentos de Alexandre, o Grande, e Augusto foram anunciados por presságios astrológicos. Para Mateus e seus leitores antigos, a estrela era um recurso literário familiar que comunicava que o nascimento de Jesus tinha implicações cósmicas: os céus estavam proclamando um novo rei.