O que causa o branqueamento dos corais? Sua extinção em massa já começou – e afeta a vida humana
O branqueamento dos corais não é apenas uma crise oceânica. Um novo relatório mostra que o desaparecimento massivo destes organismos marca o primeiro ponto de não retorno do planeta – colocando humanos e meio ambiente em alto risco.

A água do mar divide o pôr do sol e uma área de corais-fantasma em Nova Irlanda, na Papua Nova Guiné. A acidificação dos oceanos aumentou o branqueamento dos corais em todo o mundo.
A transformação de um recife de corais outrora movimentado em uma terra fantasma branca é visualmente impressionante, mas o branqueamento dos corais também ameaça os ecossistemas e as economias em todo o mundo.
À medida que o aquecimento global continua, o branqueamento dos corais está se tornando um problema cada vez maior em todo o mundo, com 84% dos recifes do mundo afetados pelo estresse térmico entre 2023 e 2025.
O mais recente Relatório Global de Pontos de Inflexão 2025, divulgado no último dia 13 de outubro e assinado por 160 cientistas, comprova o quanto alarmante é o problema. Pela primeira vez na história, o planeta alcançou seu primeiro “ponto de inflexão climático” com o declínio massivo dos corais em decorrência do aumento das temperaturas, como informa o próprio documento.
Os recifes de corais não são apenas pontos importantes de biodiversidade marinha, eles são essenciais para a vida humana. Quando os recifes morrem, o impacto se espalha pelos sistemas alimentares, economias locais e resiliência climática, especialmente nas comunidades costeiras.
Aqui está tudo o que você precisa saber sobre o branqueamento de corais, na maneira como afeta a vida marinha e as comunidades humanas. Será que ainda podemos salvar nossos recifes?
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O que é o branqueamento dos corais?
Os recifes de corais tropicais são conhecidos por sua gama de cores, tal como um arco-íris repleto de de vermelhos, laranjas, rosas e roxos. Elas são produzidas por uma alga microscópica que vive dentro do tecido coralino.
“Os corais têm essa parceria com uma pequena alga chamada zooxantela”, diz Molly Timmers, ecologista marinha do projeto “Pristine Seas”, da National Geographic Society. Nessa relação simbiótica, as algas dentro do coral convertem a luz solar em alimento por meio da fotossíntese e compartilham essa energia com seu hospedeiro. Até 90% da energia de um coral vem das zooxantelas, também conhecidas como simbiontes de algas.
Certas mudanças, especialmente o aumento da temperatura do oceano, podem perturbar esse delicado equilíbrio. O estresse térmico prolongado faz com que os corais expulsem as algas que vivem em seus tecidos e fiquem brancos, tornando-se altamente vulneráveis.

Bailey Thomasson, coordenador de restauração da Coral Restoration Foundation, mergulha acima dos corais branqueados no recife Looe Key. Localizado ao largo de Big Pine Key, na Flórida, Looe Key foi o epicentro de um evento de branqueamento maciço de recifes de corais no verão de 2023, com quase 100% dos corais morrendo.
“Quando os corais ficam estressados, é como se você e eu ficássemos doentes”, diz Timmers. “Nós suamos quando estamos nos recuperando de alguma coisa.” Os corais expelem as algas como resposta ao estresse. Sem elas, os corais perdem sua cor e sua principal fonte de alimento.
Quando o coral branqueia, ele não está morto — ainda. “Eles estão em suporte de vida”, diz Michael Sweet, professor de biologia aquática da Universidade de Derby, no Reino Unido.
O branqueamento afeta a capacidade do coral de se reproduzir e criar muco, tornando-o mais suscetível a doenças. No oceano, “os corais são banhados por essa sopa microbiana”, diz ele. Assim como o muco no nariz humano, o muco ajuda os corais a capturar e eliminar bactérias nocivas. “O muco é a primeira linha de defesa.”
Se as condições ambientais normais retornarem rapidamente, as algas também retornam. Caso contrário, o coral pode morrer rapidamente de fome. “Ele pode desligar e simplesmente desistir, e então morre instantaneamente”, diz Sweet.
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Um cardume de peixes cavala nada acima de corais pétreos branqueados perto da Ilha Heron, na Grande Barreira de Corais da Austrália. Dois terços da Grande Barreira de Corais foram afetados pelo branqueamento de corais, pois ele interrompe a relação mutuamente benéfica entre os corais e as algas que vivem dentro deles.
O que causa o branqueamento dos corais?
O aquecimento dos oceanos — causado pelas mudanças climáticas — é normalmente a causa do branqueamento dos corais. Ele também pode ser desencadeado pela poluição, acidificação, sedimentação e mudanças na salinidade ou na qualidade da água.
“Há muitas coisas que podem alterar um ambiente e causar essa mudança na relação”, diz Timmers. Até mesmo a exposição ao ar durante marés extremamente baixas pode causar o branqueamento.
Eventos de branqueamento em massa de corais — quando ocorre mortalidade em grande escala de várias espécies — estão se tornando mais graves e frequentes. Eventos globais de branqueamento ocorreram em 1998 e 2010, enquanto o mais longo e prejudicial se estendeu de 2014 a 2017. Durante esse evento de branqueamento em massa, dois terços da Grande Barreira de Corais foram afetados e ocorreu mortalidade generalizada de corais.
Mais recentemente, o mundo enfrentou seu quarto evento global de branqueamento entre 2023 e 2024, após ondas de calor marinho sem precedentes. A Grande Barreira de Corais foi novamente afetada — em sua parte sul, 80% das colônias de corais foram branqueadas até abril de 2024. Especialistas estão preocupados com o potencial de recuperação do recife e alertam que a situação pode piorar.
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Como o branqueamento de corais afeta a vida marinha e as comunidades costeiras
Os recifes de corais sustentam 25% da vida marinha do mundo. Suas estruturas fornecem abrigo, alimentação, reprodução e berçário para muitos peixes — uma proteção muito mais eficiente em comparação com o fundo do mar plano. “Você pode abrigar mais pessoas em um prédio de apartamentos de 20 andares do que em um prédio de um andar”, diz Timmers.
Quando os corais morrem e os animais perdem seu lar, as espécies móveis migram e aquelas que não podem se mover acabam perecendo — interrompendo a cadeia alimentar. “As coisas ficam fora de controle”, diz ela.
Além disso, as comunidades costeiras perdem sua principal fonte de alimento, bem como seus meios de subsistência dependentes do turismo e da hospitalidade. A perda dos corais também pode ter um impacto cultural para as comunidades indígenas que valorizam os ecossistemas naturais.
A história havaiana da criação, por exemplo, conta que os pólipos — os organismos individuais que compõem a colônia de corais — foram os primeiros animais criados. Os corais, sendo a primeira coisa a aparecer da escuridão, demonstram sua importância para a comunidade.
O desaparecimento dos corais também coloca em risco a infraestrutura costeira. Os recifes atuam como quebra-mares naturais, capazes de reduzir a energia das ondas em 97%. Sem os recifes protegendo a costa, as ondas que atingem a terra são mais poderosas. “Os marinheiros sabem que, quando há recifes marginais, a energia das ondas é interrompida antes de atingir a comunidade”, diz Timmers.
Ondas mais fortes batendo na costa também aumentam o risco de erosão e danos causados por inundações.

Sedimentos cobrem parte deste coral-cérebro, que está sofrendo branqueamento. Colônias de corais saudáveis têm uma cor verde-acastanhada e mostram claramente as ranhuras do coral.
Como impedir – ou retardar – o branqueamento dos corais
Os cientistas estão desenvolvendo várias maneiras de proteger os corais do branqueamento. Um método envolve proteger os corais do sol quente usando guarda-sóis subaquáticos feitos de tecido.
Alguns especialistas estão preservando espécies em “biobancos” controlados para mantê-las a salvo das condições extremas da natureza. Outros estão apoiando esforços de restauração, criando ou transferindo corais tolerantes ao calor para novas áreas. Áreas marinhas protegidas, gestão da pesca e medidas contra a poluição também são importantes.
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Alguns pesquisadores estão até mesmo experimentando um método conhecido como clareamento de nuvens, ou manipulação das nuvens acima dos recifes para torná-las mais reflexivas e, assim, manter as águas mais frias. No entanto, críticos se preocupam com possíveis consequências indesejadas, como mudanças nos padrões climáticos.
“É melhor prevenir do que remediar”, diz Sweet. “Precisamos combater as mudanças climáticas. Isso deve estar sempre em primeiro plano.”
Especialistas afirmam que, se tomarmos medidas urgentes agora, os recifes em todo o mundo poderão se recuperar e prosperar. “O que está acontecendo é devastador”, diz Timmers, “mas ainda há esperança”.
