Quer ver cogumelos brilhando no escuro? Visite a Mata Atlântica brasileira

O ecoturismo quer despertar o interesse dos viajantes neste bioma, rico em biodiversidade e que está mais ameaçado do que a Amazônia.

Por Kathleen Rellihan
Publicado 10 de mar. de 2023, 10:06 BRT

Um dos biomas mais biodiversificados do mundo, a Mata Atlântica brasileira dá aos viajantes uma visão de perto da flora e fauna raras.

Foto de Alex Saberi Nat Geo Image Collection

A menos de três horas de carro da cidade de São Paulo está uma das florestas tropicais mais ameaçadas do mundo. Abraçando a costa sudeste do Brasil, a Mata Atlântica é um dos oito lugares mais importantes do mundo para a biodiversidade, abrigando flora e fauna encontradas em nenhum outro lugar do planeta

No entanto, mais de 80% da cobertura arbórea deste patrimônio mundial da Unesco foi perdida devido às mudanças climáticas e outras atividades humanas, como a agricultura e a urbanização, enquanto que a Amazônia perdeu 19%. Hoje restam apenas 7% da Mata Atlântica.

Mas, de acordo com novas pesquisas, a floresta oferece uma oportunidade única para a restauração, que protegeria espécies ameaçadas e valiosos recursos hídricos. Além disso, a restauração da floresta tornaria a área – e o planeta como um todo – mais resistente às mudanças climáticas.

O ecoturismo emergente ajuda neste processo, ao iluminar as muitas maravilhas naturais da floresta, entre elas os cogumelos bioluminescentes e centenas de cavernas. Ao mesmo tempo, estes esforços estão impulsionando a economia rural do país e melhorando a qualidade de vida de mais de 145 milhões de brasileiros, incluindo as comunidades indígenas, que chamam o bioma de lar. Veja como vivenciar os remanescentes desta antiga floresta.

Cogumelos bioluminescentes da Mata Atlântica

A Mata Atlântica já compreendeu 134 milhões de hectares em todo o Brasil e no Paraguai, Argentina e Uruguai. Hoje a maior parte dos fragmentos desconectados pontilham o Brasil, mas os viajantes podem encontrar a biodiversidade rivalizando com a Amazônia no Vale do Ribeira, a maior área intacta da floresta. Um destaque nesta zona exuberante é a maior concentração de cogumelos brilhantes do mundo.

O professor associado da Universidade de São Paulo Cassius Stevani lidera os visitantes na caça noturna de fungos neon na Reserva Betary do IPBio, um trecho de 60 hectares de floresta tropical dedicado à conservação, pesquisa e turismo sustentável.

Mycena lucentipes é uma das seis novas espécies de cogumelos bioluminescentes encontradas na Mata Atlântica do Brasil.

Foto de Henrique Domingos IPBio
À esquerda: No alto:

Durante o dia, os mycena lucentipes aparecem comuns. Mas à noite, eles emitem um brilho luminoso verde neon e florescem na umidade dos troncos e galhos caídos que revestem o solo da floresta.

À direita: Acima:

Estes pequenos fungos encontrados na Mata Atlântica estão entre as 27 de uma centena de espécies conhecidas de cogumelos bioluminescentes em todo o mundo.

fotos de David Liittschwager Nat Geo Image Collection

O principal objetivo destas caminhadas, oferecidas mensalmente, exceto em agosto e setembro, é ensinar aos viajantes sobre as pesquisas do IPBio. Os passeios e o próximo Museu de Bioluminescência do IPBio financiam mais estudos científicos e a conservação na reserva.

De cerca de 100 espécies de cogumelos bioluminescentes identificadas ao redor do mundo, 27 foram encontradas na reserva. "Enquanto os fungos bioluminescentes podem ser encontrados em vários lugares do mundo, o Vale do Ribeira é o único lugar agora onde podemos encontrar tal diversidade de espécies diferentes em uma área relativamente pequena", diz Stevani, o cientista responsável por trazer maior atenção à bioluminescência dos fungos durante décadas. "Além disso, sabemos especificamente quando e onde encontrá-los".

Os organismos menos estudados que emitem luz visível fria, os cogumelos bioluminescentes, já eram um mistério há muito tempo. Isso mudou em 2015, quando Stevani e uma equipe de pesquisadores do IPBio descobriram porque eles brilham: para atrair insetos e aranhas que ajudam a espalhar seus esporos por toda a floresta.

Stevani, que obteve um doutorado sobre o mecanismo de reação quimioluminescente envolvido nos bastões luminosos, diz que o trabalho do IPBio oferece o potencial para descobrir novas ferramentas para aplicações acadêmicas e comerciais, tais como a capacidade de detectar toxinas no solo e engendrar geneticamente plantas para iluminar nossas casas.

Caiaqueiros exploram o rio Juquiá, no Legado das Águas, a maior reserva privada da Mata Atlântica brasileira. Os esforços de ecoturismo estão atraindo viajantes de aventura, que estão ajudando a alimentar a conservação da floresta.

Foto de Josiah Holwick

Caminhar por uma floresta úmida no escuro pode ser uma aventura que abre os olhos para os viajantes. Mas experiências como esta também são uma forma importante de preservar a floresta, que abriga 72% da população do Brasil. Isso inclui comunidades que vivem em quilombos, assentamentos rurais fundados por africanos escravizados. 

"Quando não tínhamos turistas aqui, as pessoas recorriam à caça ou à extração do palmito, e isso é prejudicial ao meio ambiente", diz Marina Santos Cruz, uma guia turística de São Paulo que está entre os que vivem no bioma.

Cinco séculos de intenso corte de madeira, agricultura e crescimento urbano em cidades como São Paulo degradaram uma das áreas naturais mais ricas do planeta. O crescimento do turismo sustentável proporciona uma alternativa econômica no Vale do Ribeira, uma das áreas mais pobres e subdesenvolvidas de São Paulo, o estado mais rico do Brasil.

"O turismo desperta nas pessoas a importância de preservar a Mata Atlântica, sua beleza e riqueza de organismos", acrescenta Stevani. "Quanto mais as pessoas forem conscientizadas, maior será a força na luta para preservar a floresta".

O QUE CONHECER

Como visitar: A cerca de 100 km fora de São Paulo, Legado das Águas é a maior reserva privada do Brasil, com acomodações no coração da Mata Atlântica. Eles oferecem passeios de caiaque e observação de aves, além de caminhadas noturnas na trilha da onça-parda e da onça-pintada.

Planeta Trilha e Maioba Turismo organizam visitas com comunidades que vivem em quilombos no Vale do Ribeira, onde você pode aprender sobre sua cultura e esforços para preservar suas terras.

Mais maneiras de viajar: O Vale do Ribeira tem mais de 350 cavernas que se estendem por dois parques estaduais. O Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira (Petar), reconhecido pela Unesco, tem uma das maiores concentrações de cavernas do mundo, enquanto o Parque Estadual da Caverna do Diabo tem uma das maiores do estado, com quase 6 km de extensão. Apenas 12 cavernas estão abertas aos visitantes.

Franciele Dos Santos Satiro, proprietária da Caverna do Diabo Aventura, e seus guias lideram aventuras de rapel na Caverna do Diabo. Com mais de 600 milhões de anos, suas câmaras em forma de catedral e formações naturais impressionantes estão bem preservadas.

Em 2023, Cassius Stevani treinou os guias da Planeta Trilha, destacando organismos bioluminescentes na floresta ao redor da Caverna de Santana, a caverna mais visitada do Petar.

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