
Retrospectiva 2025: National Geographic elege os 9 avanços médicos que devem revolucionar 2026
Acima, uma ilustração que retrata o câncer de pâncreas. A doença é notoriamente difícil de detectar precocemente, mas os cientistas estão começando a identificar pistas biológicas que podem permitir a detecção mais precoce.
Apesar de um ano marcado por cortes orçamentários e equipes de pesquisa reduzidas em alguns importantes países que desenvolvem pesquisa científica no âmbito da saúde, a ciência trouxe conquistas notáveis e enriquecedoras em 2025. Avanços na medicina remodelaram nossa compreensão da saúde humana e, em alguns casos, mudaram a forma como o atendimento é prestado hoje.
Cientistas descobriram novas maneiras surpreendentes de prevenir doenças e aprimorar tratamentos contra o câncer. Criaram um atlas do corpo humano, editaram um gene para uma única criança e melhoraram o tratamento de diversas condições, desde alergias alimentares e menopausa até câncer cervical e HIV. Estas são nove das descobertas mais impressionantes do ano na saúde — veja a seguir.
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1. Uma revolução não hormonal no tratamento da menopausa
Mais de 80% das mulheres sofrem com ondas de calor e suores noturnos durante a transição para a menopausa, e muitas relatam que os sintomas são tão intensos que afetam seu dia a dia. A terapia hormonal continua sendo o tratamento mais eficaz, mas muitas mulheres não podem fazê-la, principalmente se já tiveram câncer de mama ou de útero, trombose venosa profunda ou outras condições.
Dois novos tratamentos não hormonais para ondas de calor moderadas a intensas oferecem alívio para aquelas que antes não tinham opções. O Lynkuet (elinzanetant), aprovado nos Estados Unidos pela Food and Drug Administration (FDA) este ano, junta-se ao Veozah (fezolinetant), que recebeu autorização dois anos antes.
Os comprimidos diários têm como alvo os neurônios que regulam a temperatura no hipotálamo do cérebro, após os cientistas descobrirem que essas células nervosas são suscetíveis às flutuações de estrogênio da menopausa.
2. Uma solução sem agulhas para alergias em crianças
O acesso rápido e fácil à epinefrina pode salvar a vida de crianças com alergias graves. Este ano trouxe uma alternativa sem agulha. O Neffy, um novo spray nasal com receita médica, representa a primeira grande atualização na administração de epinefrina para crianças em mais de três décadas.
Alergias alimentares afetam uma em cada 13 crianças, e uma dose rápida de epinefrina durante uma reação grave interrompe a reação inflamatória em cadeia que pode levar a hospitalizações ou morte por anafilaxia. Mas muitas crianças — e seus cuidadores — hesitam em administrar um autoinjetor como o EpiPen.
O Neffy é aprovado nos Estados Unidos para crianças a partir de quatro anos de idade com peso entre 15 e 30 kg. O medicamento é absorvido pelo corpo graças a uma tecnologia inovadora que afrouxa temporariamente o espaço entre as células nasais, permitindo que o medicamento seja absorvido rapidamente pela corrente sanguínea. Especialistas acreditam que este medicamento de fácil administração ajudará mais crianças durante uma emergência alérgica.
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3. Grandes avanços na medicina regenerativa
O antigo sonho da ficção científica de regenerar partes do corpo humano está cada vez mais perto da realidade.
Cientistas que estudam como salamandras amputadas regeneram seus membros e identificaram uma enzima que regula os níveis de ácido retinoico, uma molécula essencial para a regeneração. Eles também identificaram um gene que controla o tamanho e o desenvolvimento do apêndice.
Como os humanos possuem os mesmos componentes moleculares, as descobertas oferecem um modelo aproximado que poderá, um dia, orientar a regeneração de membros em pessoas que se recuperam de lesões traumáticas.
Outros avanços levaram a medicina regenerativa a um novo patamar. Pesquisadores desenvolveram o primeiro remendo implantável que fortaleceu a parede do coração em macacos. Células-tronco cultivadas em laboratório foram induzidas a se diferenciarem em músculo cardíaco e tecido conjuntivo antes de serem implantadas e integradas ao coração. Essa tecnologia é uma abordagem inicial, porém promissora, para pessoas com insuficiência cardíaca.
Cientistas também utilizaram células-tronco para criar tecido ureteral funcional. Esta é a primeira vez que essa estrutura, que transporta a urina dos rins para a bexiga, foi construída a partir dessas células programáveis, uma peça que faltava na busca pela regeneração do sistema renal.

Uma micrografia eletrônica de transmissão colorizada captura o HPV, o vírus responsável pela maioria dos cânceres de colo do útero. Os novos testes caseiros para ISTs permitem que as pessoas coletem amostras em si mesmas e as enviem para um laboratório, uma mudança que pode ajudar a diagnosticar doenças muito mais cedo.
4. Melhores exames de detecção de infecções sexualmente transmissíveis
Mais de dois milhões de norte-americanos são diagnosticados anualmente com uma infecção sexualmente transmissível (IST) — mas muitos outros têm a doença e não sabem. Essa lacuna é importante: o atraso no diagnóstico e no tratamento pode causar infertilidade ou dor pélvica crônica, além da disseminação contínua da doença.
Este ano trouxe melhorias significativas na forma como várias ISTs comuns são detectadas. O rastreio do papilomavírus humano (HPV), a IST que pode causar câncer do colo do útero, tradicionalmente envolvia a coleta de uma amostra por um profissional de saúde em seu consultório, geralmente juntamente com um exame de Papanicolau.
Uma nova ferramenta, a Teal Wand, permite (por enquanto nos Estados Unidos) que as mulheres coletem essas células vaginais em casa, após uma breve consulta virtual para obter uma prescrição. Em seguida, as mulheres enviam a amostra para um laboratório para análise. Especialistas afirmam que dar às pessoas a possibilidade de coletar amostras por conta própria pode aumentar significativamente as taxas de detecção precoce.
Outra opção para uso doméstico, o teste Visby, também foi lançado este ano e não exige prescrição médica nos Estados Unidos. Ele detecta gonorreia, clamídia e tricomoníase. As usuárias podem coletar uma amostra de células e inseri-las em um pequeno dispositivo de teste, que exibe os resultados em 30 minutos no aplicativo do produto.
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5. Edição genética para combater doenças raras
A ferramenta de edição genética CRISPR-Cas9, que rendeu aos seus inventores o Prêmio Nobel em 2020, transformou o tratamento de doenças como a anemia falciforme. Mas, neste ano, médicos do Hospital Infantil da Filadélfia, nos Estados Unidos, utilizaram a tecnologia de uma forma inédita. Eles desenvolveram um gene personalizado para um único paciente, um bebê que nasceu com uma doença metabólica genética rara e potencialmente fatal.
Logo após o nascimento, o bebê KJ foi diagnosticado com uma mutação genética que danificava uma enzima crucial no sistema urinário, causando o acúmulo perigoso de amônia tóxica em sua corrente sanguínea. Cerca de metade dos bebês com essa condição morre logo após o nascimento; outros sobrevivem apenas após receberem um transplante de fígado.
Neste caso, os médicos identificaram uma única falha genética nos genes do bebê e desenvolveram uma correção personalizada, que foi administrada ao menino aos sete e oito meses de idade.
A ferramenta CRISPR utilizou nanopartículas lipídicas — minúsculas esferas à base de gordura — para transportar as instruções genéticas até o fígado, estimulando as células do órgão a produzirem a enzima necessária para corrigir a mutação. Os primeiros resultados já mostram que o tratamento melhorou drasticamente a saúde da criança e pode eventualmente curá-la.
Outros hospitais já começaram a trabalhar em seus próprios programas personalizados de terapia genética, uma tecnologia que poderá, em última análise, curar milhões de pessoas com doenças raras, uma pessoa de cada vez.
6. Prevenção do HIV simples e eficaz
O vírus da imunodeficiência humana (HIV), o microrganismo causador da AIDS, continua sendo um grande desafio global para a saúde. Nos Estados Unidos, mais de 100 pessoas são diagnosticadas diariamente. Embora os medicamentos para profilaxia pré-exposição (PrEP) — disponíveis em comprimidos diários ou injeções periódicas — sejam altamente eficazes, a adesão permanece baixa.
No Brasil, estes comprimidos são distribuídos gratuitamente pelo SUS (Sistema Único de Saúde) desde 2018. Porém, agora em 2025, foi lançada a PrEP injetável de longa duração, que foi aprovada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e começou a ser comercializada na rede privada no Brasil. Sua incorporação ao SUS ainda está em processo de avaliação.
Mas nos Estados Unidos, apenas 1/3 das pessoas que poderiam se beneficiar da PrEP — pessoas sexualmente ativas com alguém com HIV ou cujo status sorológico é desconhecido — a utilizam atualmente, e um número ainda menor a utiliza em todo o mundo.

Uma nova forma injetável de profilaxia pré-exposição (PrEP) para o HIV oferece uma ferramenta poderosa para a prevenção, com estudos mostrando que ela pode bloquear quase toda a transmissão do vírus quando administrada duas vezes por ano.
7. Vacinas que combatem mais do que infecções
As vacinas provaram ser ferramentas eficazes na proteção contra vírus, incluindo Covid-19, herpes-zóster, gripe e outras doenças. Mas novas pesquisas mostram que essas vacinas podem oferecer benefícios mais amplos, como a prevenção de ataques cardíacos e demência, além de melhorar a resposta dos pacientes a certos tratamentos contra o câncer.
Pessoas que receberam a vacina contra herpes-zóster, usada para prevenir a doença, reduziram o risco de acidente vascular cerebral (AVC) em 16% e de ataque cardíaco em 18%, de acordo com uma revisão de 19 estudos apresentada em um importante congresso de cardiologia neste verão. A mesma vacina também reduz em até 1/3 as chances de desenvolver demência nos três anos seguintes, segundo outros pesquisadores.
Enquanto isso, pessoas com câncer de pulmão e de pele em estágio avançado que receberam uma vacina de mRNA contra a Covid-19 dentro de três meses após o início do tratamento de imunoterapia para a doença apresentaram uma resposta tumoral melhorada e viveram mais tempo do que aquelas que não foram vacinadas.
Os cientistas não podem afirmar com certeza por que a vacinação traz esses benefícios adicionais. Ainda assim, observam que vírus persistentes, como o Epstein-Barr, têm sido associados à demência e outras complicações de saúde a longo prazo, como o lúpus, e que o fortalecimento do sistema imunológico pode potencializar a imunoterapia.
8. Impedir o câncer de pâncreas antes que ele comece
O câncer de pâncreas é uma das neoplasias malignas mais letais, em parte porque muitas vezes só é diagnosticado em estágio avançado. Menos de 13% dos pacientes sobrevivem cinco anos após o diagnóstico.
Em 2025, cientistas avançaram na detecção — e potencial prevenção — da doença em estágios iniciais. Em estudos com camundongos de laboratório e células humanas, descobriram que o bloqueio da proteína FGFR2, que acelera o desenvolvimento de células cancerígenas pancreáticas em estágio inicial, impede que elas se tornem cancerígenas em determinadas situações.
Como já existem medicamentos que inibem essa proteína, os pesquisadores esperam testar essa abordagem em indivíduos de alto risco, incluindo aqueles com histórico familiar da doença. Ensaios clínicos em humanos ainda são necessários, mas o trabalho oferece uma visão inicial de como o câncer de pâncreas poderá, um dia, ser interceptado antes mesmo de se formar.
9. Criando um atlas do corpo humano
Nosso entendimento do corpo humano deu um grande passo adiante este ano, quando pesquisadores britânicos atingiram a meta de completar mais de um bilhão de exames médicos em 100 mil voluntários. O projeto — parte do Biobanco do Reino Unido, um dos bancos de dados de saúde mais abrangentes do mundo — inclui ressonância magnética, ultrassom e outros exames detalhados do cérebro, coração, ossos, articulações, tronco e vasos sanguíneos.
Os pesquisadores também coletaram medidas físicas, amostras de sangue e material genético, além de avaliações de estilo de vida e exposição ambiental. Todos os dados foram anonimizados. O próximo passo é que centenas de milhares de participantes retornem até sete anos depois para exames adicionais, fornecendo evidências de como o corpo muda ao longo do tempo.
O “biobanco” já possibilitou milhares de estudos científicos. Em um exemplo, cientistas descobriram, a partir de mais de 40 mil exames, que quando o coração apresenta sinais de doença, o cérebro frequentemente também apresenta, sugerindo que se a pessoa proteger a saúde cardiovascular pode ajudar a reduzir o risco de demência.