Filmes e séries de ficção científica: será que suas tramas são possíveis na realidade?

A ficção científica geralmente exagera ou distorce a ciência para obter um efeito dramático, mas muitos filmes e programas de TV têm um pouco de realismo em sua essência. Especialistas dão suas respostas.

Por Maddie Stone
Publicado 11 de jan. de 2024, 08:00 BRT
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O robô humanoide Sophia é um dos robôs com IA mais sofisticados até hoje. Robôs, inteligência artificial, viagens espaciais, dinossauros e muito mais têm sido tema de ficção científica há décadas. Muitas dessas histórias são inspiradas na ciência real.

Foto de Giulio Di Sturco CONTRASTO, Redux

ficção científica explodiu em popularidade nas últimas décadas, com os filmes da Marvel encabeçando as listas de lucros de bilheteria e franquias de longa duração, como Star Wars e Star Trek, passando por um renascimento. Mas não é apenas o público em busca de entretenimento que adora ficção científicaos cientistas também, muitos dos quais foram inspirados a entrar em suas áreas por causa da desse gênero e de alguma produção que assistiram quando crianças. 

E, embora a ciência nos programas e filmes que os cientistas também gostam de ver seja muitas vezes exagerada ou completamente inventada, muitos contêm uma pitada de realismo em sua essência ou uma mensagem sobre o papel da ciência na sociedade que ressoa com os pesquisadores até a idade adulta.

"Em muitos desses filmes, há uma coisa abrangente que é real", diz Marshall Shepherd, meteorologista e cientista climático que dirige o Programa de Ciências Atmosféricas da Universidade da Geórgia.

Aqui, especialistas avaliam a ciência real por trás de filmes e programas de televisão que se tornaram conhecidos.

Desastres naturais apocalípticos

Entre os filmes de desastre apocalíptico, Shepherd aponta um filme de que gostou apesar de suas falhas científicas. Trata-se da trama no qual sistema de circulação do oceano Atlântico Norte entra em colapso, mergulhando o mundo em uma nova era glacial

Os impactos – uma onda gigante de tsunami engolfando a cidade de Nova York; tornados em Los Angeles; temperaturas caindo tão rapidamente que os personagens literalmente fogem do gelo que se aproxima – são "extremamente exagerados", diz Marshall. 

Mas a ideia de que essa verdadeira correia transportadora oceânica que transporta calor ao redor do Atlântico Norte possa se fechar, ampliando o clima extremo e empurrando o clima da Terra para além de um ponto de inflexão, é real. Alguns cientistas temem que as mudanças climáticas causadas pelo homem desencadeiem esse colapso neste século.

(Saiba mais: Dia Mundial dos Oceanos: por que se celebra o 8 de junho)

Os dinossauros retornam à Terra

Já a franquia Jurassic Park alimentou o interesse do público pela paleontologia desde que o primeiro filme foi ao ar em 1993. Ainda assim, Jurassic Park e suas sequências têm muitas imprecisões científicas. Mas eles também acertam em algumas coisas importantes sobre os dinossauros, diz Gabriel-Phillips Santos, diretor de educação do Raymond Alf Museum of Paleontology em Los Angeles. 

No início do primeiro filme, diz Santos, o T. Rex caminhava com um andar realista, com a cauda para fora e o corpo paralelo ao chão, apesar das representações anteriores da cultura pop de um tiranossauro mais parecido com o Godzilla, que ficava ereto com a cauda para trás. 

Os braquiossauros, por sua vez, são retratados andando para fora da água e para a terra de uma forma que se alinha com o pensamento dos paleontólogos sobre como seu estilo de vida evoluiu, diz Santos. 

"Costumávamos pensar que eles eram tão pesados que só podiam suportar seu peso na água, mas agora sabemos que isso não é verdade. Eles meio que mostraram [isso] na tela."

Mesmo quando os filmes não são cientificamente precisos – os velociraptors são grandes demais e a franquia não introduziu um dinossauro com penas até 2022, apesar das inúmeras evidências científicas de que muitos dinossauros tinham penas – Santos diz que eles oferecem uma oportunidade de atingir públicos que ele não conseguiria atingir de outra forma. Ele frequentemente dá palestras em convenções de cultura pop, como a San Diego Comic-Con, sobre a ciência real (e falsa) da franquia Jurassic Park.

"Qualquer coisa que envolva dinossauros e que chegue à mídia popular... vai inspirar [as pessoas]", diz Santos. "Pode inspirá-las a ir a um museu de história natural e aprender mais. Se elas decidirem ir para a área, isso é incrível."

É possível fazer viagens espaciais?

A franquia Star Trek, que inspirou várias gerações de crianças a se tornarem astrônomos e exploradores espaciais, também mistura ciência real com uma dose saudável de exagero. A astrofísica e conselheira científica de Star Trek, Erin MacDonald, diz que costuma usar Star Trek: Voyager, que foi ao ar de 1995 a 2001, para explicar conceitos científicos, como a forma como a gravidade distorce o espaço-tempo, para o público de convenções. 

"Surpreendentemente, é um programa realmente pesado em termos de ciência", diz MacDonald.

MacDonald, que obteve seu doutorado estudando ondas gravitacionais antes de se dedicar a uma carreira em comunicação científica, foi contratada pela primeira vez por Star Trek para apresentar uma explicação científica para "The Burn", um evento cataclísmico introduzido na terceira temporada de Star Trek: Discovery, no qual todo o "dilithium" ativo da galáxia se torna inerte, impossibilitando a viagem em dobra. 

A pesquisadora se baseou em campos científicos reais, como a física de partículas e o estudo da matéria escura, para explicar por que o dilítio, um material fictício, de repente deixa de se comportar como sempre se comportou em Star Trek. MacDonald agora dá feedback sobre todas as séries de Jornada nas Estrelas que vão ao ar ou estão em produção, lendo roteiros e sugerindo mudanças de linguagem, escrevendo equações que aparecerão na tela e trabalhando com equipes de pós-produção para ajudar a acertar os visuais científicos.

A possibilidade de pandemias globais

Em 2011 um filme de suspense sobre desastres biológicos, também solicitou a contribuição de cientistas – e isso é visível, diz Tara Smith, epidemiologista da Kent State University. Nessa produção, as autoridades de saúde pública se esforçam para pesquisar e conter um novo vírus que passou de morcegos para porcos e para humanos, alimentando rapidamente uma pandemia global. 

Smith, cuja pesquisa se concentra em infecções zoonóticas - ou infecções que passam de animais para humanos - diz que o vírus mostrado no filme tem uma via de transmissão muito semelhante à do vírus Nipah, que se espalhou de morcegos para porcos e para pessoas.

"A pandemia foi um pouco mais rápida do que seria de se esperar na vida real – de zero a praticamente todo o mundo em apenas alguns dias", diz Smith. "O desenvolvimento da vacina também foi incrivelmente rápido. Mas foi mais razoável no que diz respeito a filmes sobre doenças infecciosas."

Smith também elogia uma outra produção que vincula a mudança climáticasurtos de doenças infecciosas emergentes de uma forma "bastante rigorosa do ponto de vista científico". A série retrata um futuro pós-apocalíptico no qual uma infecção fúngica mundial transformou grande parte da população humana em zumbis, desencadeando o colapso da sociedade

Os zumbis são "onde a biologia para", diz Smith. A abertura do programa apresenta um cientista falando sobre como, à medida que a Terra se aquece e os fungos se adaptam a temperaturas mais altas, os surtos de doenças fúngicas podem se tornar mais generalizados – uma ideia que tem mérito científico

"Usei em minha aula de epidemiologia de doenças infecciosas no ano passado para falar sobre mudanças climáticas e doenças emergentes", diz Smith.

(Saiba mais: Estes são os fungos mais perigosos para os humanos)

A ascensão da inteligência artificial

Alguns cientistas, como a pesquisadora de inteligência artificial Janelle Shane, ainda estão esperando que os roteiristas de Hollywood retratem seu campo de forma realista. Embora a IA desempenhe um papel central em muitos filmes e programas de TV de sucesso de bilheteria, desde O Exterminador do FuturoMatrix, a maioria retrata robôs que alcançaram a consciência e um nível de inteligência semelhante ao humano. 

Isso está muito longe das tecnologias baseadas em IA que vemos em nosso mundo hoje, como a Siri, assistente de voz da Apple, e o software que orienta os carros autônomos. Embora algumas formas de IA generativa, como o ChatGPT, possam escrever ensaios e contar piadas que parecem assustadoramente humanas, na realidade, elas ainda são programas simples otimizados para realizar uma tarefa específica ou um conjunto de tarefas muito bem.

"A IA de ficção científica é como uma pessoa, ou pelo menos tão inteligente quanto uma pessoa, mesmo que tenha visões de mundo e objetivos diferentes", diz Shane. "E a IA do mundo real é algo muito mais limitado." 

Shane viu alguns exemplos de IA realista surgindo em romances recentes de ficção científica, como “Sourdough”, de Robin Sloan. O livro é centrado em Lois Clary, uma engenheira de software de uma empresa de robótica que está lutando para ensinar um braço robótico a realizar tarefas específicas "e que tem um conjunto de problemas muito realistas", diz Shane. De repente, sua vida muda quando seus irmãos lhe dão de presente uma massa (tipo de pão) fermentada senciente (ou seja, com consciência) e pedem que ela a mantenha viva.

"É uma ótima leitura aconchegante", diz Shane. "Especialmente se você conseguir um bom pão de massa fermentada para comer enquanto estiver lendo."

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