
Conheça os animais que são os "namorados" mais carinhosos da natureza
Para muitos sapos, o melhor gesto romântico é um longo abraço conhecido como amplexus. Na foto, vemos um exemplo desse abraço com um casal de rãs arbóreas de olhos vermelhos, Agalychnis calidryas, na Costa Rica.
O Brasil celebra o seu Dia dos Namorados neste 12 de junho, diferente de boa parte dos demais países. Nessa data, recordamos que nem só os humanos vivenciam o amor, na natureza diversos animais também se relacionam de forma mais duradoura.
Afinal, quando você encontra aquela pessoa especial, é difícil deixá-la ir. O mesmo acontece com os animais que literalmente se apegam a seus parceiros – alguns por pouco tempo, outros por horas, dias ou até mesmo por toda a vida.
No reino animal, esses comportamentos “pegajosos” específicos ajudam a aumentar o sucesso reprodutivo. Desde os românticos abraços dos anfíbios até os habitantes das profundezas do oceano que demonstram adequadamente a frase “dois se tornam um”. Veja a seguir alguns dos amantes mais carinhosos do reino animal em homenagem ao Dia dos Namorados.
(Sobre Animais, leia também: Como um tubarão nadou mais de 6 mil quilômetros? Essa jornada recorde era considerada impossível)
Quando dois se tornam um
Quando se vive nas profundezas escuras do oceano, até 1,6 Km abaixo da superfície, encontrar um parceiro pode ser complicado. É por isso que um peixe tamboril macho tem uma técnica pouco ortodoxa para manter uma amante junto a ele: mordê-la e se agarrar a ela.
Eventualmente, os corpos dos dois tamboris amorosos se fundem, unindo até mesmo os sistemas circulatórios. De acordo com um artigo da National Geographic norte-americana de março de 2018, “o macho perde seus olhos, barbatanas, dentes e a maioria dos órgãos internos, servindo apenas como um banco de esperma para quando a fêmea estiver pronta para desovar”.
Sua recompensa? As gerações futuras carregam seus genes, enquanto sua namorada o suplementa com a nutrição mínima de que ele precisa para sobreviver.
Em algumas espécies de tamboril, as fêmeas podem ter vários machos ligados a elas ao mesmo tempo e podem gerar filhotes com todos eles.
(Você pode se interessar: Dia dos namorados: o que acontece com o corpo quando nos apaixonamos)
Sufocando a parceira com amor
A fêmea da cobra-liga de lado vermelho – uma espécie nativa de Manitoba, no Canadá, e que também pode ser vista na Califórnia, nos Estados Unidos –, não tem escassez de possíveis amantes.
De acordo com Christopher Friesen, da Universidade de Wollongong, na Austrália, de 10 a 30 machos podem persegui-la ao mesmo tempo, literalmente envolvendo-a com seu amor.
Tudo começa quando os machos acordam da hibernação na primavera, prontos para acasalar. Os machos loucos por sexo aguardam ansiosamente uma fêmea que se agita mais lentamente, até mesmo deixando de comer no processo. Depois de duas a quatro semanas esperando que ela surja, esses machos focados isoladamente se envolvem em torno dela e formam o que é conhecido como “bola de acasalamento”.
A coisa toda dura cerca de 15 minutos e termina com um sortudo se reproduzindo e inserindo um tampão de acasalamento gelatinoso para repelir outros machos, explica Friesen. Uma vez que a cobra fêmea tenha sido fecundada, ela sairá de sua bola de pretendentes para procurar alimento nos pântanos próximos.

As cobras-liga de lado vermelho formam uma “bola de acasalamento” na qual vários machos cercam uma fêmea.
Embora esses machos da cobra-liga sejam intensos em sua perseguição, eles sabem quando é hora de seguir em frente. “A intensidade do cortejo e o número de machos diminuem ligeiramente durante a cópula, e os machos detectam que a fêmea acasalou, mas não com eles, e esses machos recomeçam o comportamento de busca”, diz Friesen.
Longos acasalamentos
Os bichos-pau são conhecidos pela duração extrema de seu acasalamento – um casal de bichos-pau-indianos pode permanecer unido por 79 dias, e o acasalamento em si pode durar dias ou semanas.

Dois bichos-pau espinhosos (Aretaon asperrimus) acasalados que foram fotografados no Rolling Hills Wildlife Adventure em Salina, Kansas, nos Estados Unidos.
Cientistas observaram outras espécies de bichos-pau que se uniram por até 136 horas, com até nove eventos de acasalamento durante esse período. Quando o macho do bicho-pau-indiano encontra sua fêmea alvo, ele a monta e a agarra usando os pés. De acordo com um estudo realizado em 1978 pelo entomologista John Sivinski, as fêmeas raramente tentam se desalojar de um pretendente; quando as fêmeas tentam se soltar, nunca obtêm sucesso.
Então, por que o macho “fica” por tanto tempo? Na maioria das vezes, ele está se protegendo contra pretendentes rivais ou, como explica Gwen Pearson, coordenadora de educação e divulgação do Departamento de Entomologia da Universidade de Purdue, em seu blog, o macho provavelmente fica por perto para acasalar repetidamente, mas também para “afastar outros machos que queiram ter sorte” com a fêmea escolhida.
Abraços românticos
Com exceção de algumas espécies, os sapos têm uma maneira especial de formar pares. Na maioria das vezes, o macho fertiliza os ovos da fêmea na parte externa do corpo dela, fazendo o trabalho assim que os ovos emergem.
Para ajudar em seus esforços, o macho se envolve no gesto romântico com um longo abraço conhecido como amplexus (palavra em latim para “abraço”). Para se posicionar, ele coloca as mãos na cintura da fêmea e não a solta por horas ou até dias – a duração varia de acordo com a espécie. Um par de sapos andinos foi observado se abraçando por quatro meses, de acordo com o Museu Americano de História Natural de Nova York, nos Estados Unidos.
Esses anfíbios também pensam fora da caixa quando se trata de amplexus. As rãs apresentam sete posições sexuais conhecidas, que variam de acordo com a espécie.
(Conteúdo relacionado: Quais são as diferenças entre sapo, rã e perereca?)

Os bebês bonobos geralmente ficam perto da mãe, mesmo quando ela está em um momento íntimo.
Nem sempre é o macho que lidera o abraço. De acordo com um artigo publicado em 1986 na revista Herpetologica, com seu parceiro montado em suas costas, a fêmea da rã (Eleutherodactylus coqui) coquí usa um “aperto reverso da perna traseira” durante o amplexus.
A rã coquí, nativa de Porto Rico, é uma das poucas espécies de rã que fertiliza os ovos internamente, e acredita-se que a garra acrobática da perna da fêmea ajude na transferência de esperma. O amplexus não é exclusivo das rãs e sapos – as salamandras e os caranguejos-ferradura também usam essa técnica de acoplamento.
Às vezes, os bebês seguem próximos aos casais
Nem sempre os amantes são tão grudados e carinhosos assim no reino animal. Às vezes, os bebês ficam com os casais durante o acasalamento. As sociedades de primatas bonobos são conhecidas por substituírem a agressão pelo ato sexual (ao contrário de seus parentes próximos, os chimpanzés comuns). Provavelmente é por isso que os pesquisadores observam com frequência bebês bonobos agarrados à mãe durante o sexo.
Embora não seja incomum que os bebês primatas se agarrem à mãe quando são jovens, os bonobos fazem “muito mais sexo não-conceptivo” do que outras espécies de grandes primatas, de acordo com Vanessa Woods, cientista pesquisadora do Departamento de Antropologia Evolutiva da Duke University, nos Estados Unidos, o que significa que, às vezes, eles fazem isso por outros motivos que não a procriação, inclusive para aliviar a tensão ou criar laços.
Os bebês bonobos ficam com suas mães até os cinco anos de idade, afira Woods, e se apegam menos à medida que amadurecem.
Seja esperando pacientemente por uma companheira e envolvendo-a, seja em longos e românticos abraços, todos esses animais amantes carinhosos têm um objetivo final: passar seus genes adiante. Suas técnicas de acasalamento, embora às vezes sejam extremas, são apenas adaptações especiais que ajudam suas espécies a sobreviver.
**Tina Deines é uma jornalista freelancer que vive em Albuquerque, Novo México, nos Estados Unidos.
