O telescópio Gemini South, que fica no Chile e é parcialmente financiado pela Fundação Nacional de Ciência ...

O cometa interestelar 3I/Atlas é estranho, mas definitivamente não se trata de alienígenas

Veja aqui o que os cientistas da Nasa sabem — e o que ainda não sabem — sobre o curioso visitante interestelar.

O telescópio Gemini South, que fica no Chile e é parcialmente financiado pela Fundação Nacional de Ciência norte-americana, capturou esta imagem profunda do cometa 3I/Atlas. Ela mostra a ampla coma e cauda do cometa.

Foto de International Gemini Observatory, NOIRLab, NSF, AURA, Shadow the Scientist
Por Robin George Andrews
Publicado 17 de nov. de 2025, 07:02 BRT

Em julho de 2025, cientistas que operavam uma instalação de defesa planetária projetada para detectar asteróides potencialmente perigosos avistaram um visitante de outra estrela: um objeto interestelar, o terceiro desse tipo já descoberto. O viajante, que ficou conhecido como 3I/Atlas, era visível apenas como uma mancha pixelizada branca a 420 milhões de milhas da Terra. Na época, muito pouco se sabia sobre o objeto, exceto que era algum tipo de cometa.

Mas nos últimos meses, o 3I/ATLAS mergulhou em direção ao Sistema Solar interno — e o show de fogos de artifício começou para valer. Quando os cometas se aproximam do Sol, eles desenvolvem uma cauda brilhante e uma coma florida – o halo ao redor do núcleo gelado do cometa que aparece quando ele começa a se vaporizar. 

Por volta de 30 de outubro, o 3I/ATLAS chegou o mais perto possível do Sol e, há poucos dias, em 10 de novembro, emergiu do outro lado da nossa estrela maior. “Até agora tem sido espetacular”, diz Cristina Thomas, astrônoma planetária da Northern Arizona University, dos Estados Unidos, e uma das observadoras do cometa.

Entre os desenvolvimentos previstos, o 3I/ATLAS também proporcionou algumas surpresas aos observadores do céu, principalmente na composição de sua coma brilhante. Por enquanto, os cientistas só conseguem explicar parcialmente essas observações peculiares. “Ainda há muito que não sabemos”, afirma Martin Cordiner, astroquímico da Universidade Católica da América e outro observador do 3I/ATLAS.

Aqui estão as últimas notícias sobre o 3I/ATLAS — as descobertas que foram feitas e os enigmas que permanecem.

(Sobre Espaço, leia também: Chuvas de meteoros incandescentes e até uma superlua do Castor: confira os fenômenos astronômicos de novembro)

O cometa 31/Atlas está liberando uma grande quantidade de dióxido de carbono


No final de agosto de 2025, os astrônomos utilizaram o poderoso telescópio Gemini South, localizado no cume da montanha Cerro Pachón, no Chile, para observar de perto o 3I/Atlas. As imagens revelaram uma coma expansiva e uma cauda empoeirada emergente — com pelo mais de 56 mil Km de comprimento.

Essas observações ajudaram a identificar alguns dos produtos químicos presentes na coma — um dos quais era o cianeto. Para a maioria das pessoas, o cianeto é conhecido como um veneno de ação rápida. Mas “essa é normalmente a primeira molécula observada nos cometas quando eles se aproximam do Sol”, diz Karen Meech, astrônoma do Instituto de Astronomia da Universidade do Havaí, nos Estados Unidos, que liderou as observações do Gemini South

Os astrônomos esperavam que o cianeto saísse do 3I/Atlas aproximadamente na distância em que foi observado pelo Gemini South. “Portanto, não há nada de incomum nisso”, comenta Meech.

Mas quando dois telescópios espaciais observaram o 3I/Atlas — o observatório Spherex da Nasa e o Telescópio Espacial James Webb — eles descobriram algo bizarro: ele está expelindo uma grande quantidade de dióxido de carbono, tornando-o um pouco parecido com um refrigerante espacial.

O Telescópio Espacial Hubble capturou esta imagem do cometa 3I/Atlas, apenas o terceiro objeto interestelar já ...

O Telescópio Espacial Hubble capturou esta imagem do cometa 3I/Atlas, apenas o terceiro objeto interestelar já observado em nosso sistema solar. Os cientistas também utilizaram dados do Hubble para estimar seu tamanho e velocidade. 

Foto de NASA, ESA, David Jewitt (UCLA), Joseph DePasquale (STScI)

Quando pensamos em gelo, naturalmente imaginamos água congelada. Os cometas geralmente são feitos dessa substância, mas, longe do sol, eles também podem conter gelos mais exóticos, como monóxido de carbono e dióxido de carbono. Isso não é incomum. Mas o que é estranho é que o 3I/Atlas parece estar envolto por uma grande quantidade de dióxido de carbono.

“Normalmente, a água é a substância dominante nos cometas”, comenta Cordiner, um dos observadores do Webb. “Neste caso, não é. É bastante raro observar um cometa que tenha mais CO2 do que água em sua coma.”

Na verdade, a proporção de dióxido de carbono em relação à água na coma é tão extrema que os cientistas não sabem ao certo como explicá-la. “Quando vimos as observações pela primeira vez, ficamos impressionados. O fluxo [de dióxido de carbono] é incrivelmente alto”, diz Thomas, um dos observadores do Webb.

Uma ideia é que o núcleo do cometa pode muito bem conter muita água gelada, mas uma crosta dominada por outros tipos de gelo, como dióxido de carbono, se formou em sua superfície. Talvez, por enquanto, essa crosta esteja impedindo que grande parte da água gelada aprisionada no 3I/Atlas entre em erupção na coma.

(Você pode se interessar também: Descoberta no Sistema Solar: astrônomos detectam um novo objeto interestelar)

A coma do 3I/Atlas também está repleta de metais estranhos


Um dos observatórios ópticos mais precisos do mundo — como o Very Large Telescope (VLT) europeu, localizado na montanha Cerro Paranal, no Chile — também observou atentamente o 3I/Atlas. E detectou indícios de níquel na coma, um metal normalmente associado a asteróides, bem como a planetas rochosos como a Terra e Marte.

Os cometas são frequentemente considerados bolas de gelo, mas são mais parecidos com bolas de neve lamacentas, pois também contêm alguma matéria rochosa. Encontrar níquel não é necessariamente estranho por si só. Mas o que é difícil de compreender é que o cometa está lançando níquel a quase 482 milhões de Km de distância do Sol.

Ao contrário do gelo, metais como o níquel e o ferro têm pontos de fusão e ebulição muito mais altos, o que significa que é necessário muito calor para transformá-los de sólidos em gases. Qualquer cometa que contenha esses metais, portanto, só deveria ter comas impregnadas de metal quando estivesse extremamente perto do Sol.

No entanto, em 2021, usando o VLT, os astrônomos encontraram níquel (e ferro) em várias comas cometárias, incluindo várias em nosso próprio sistema solar e 2I/Borisov, o segundo objeto interestelar já descoberto. Alguns desses cometas envoltos em metal estavam muito distantes do Sol.

Foi uma grande surpresa”, afirma Emmanuel Jehin, astrônomo da Universidade de Liège, na Bélgica, que ajudou a fazer a descoberta de 2021 e participou das observações do VLT do 3I/Atlas. “Ninguém acreditaria que você encontraria esses átomos metálicos na coma de um cometa.” Além de uma grande quantidade de níquel aparentemente prematuro, a coma do 3I/ATLAS também contém ferro, diz ele.

Então, por que esses cometas distantes estão expelindo metais? “Ainda não sabemos ao certo”, comenta Cyrielle Opitom, astrônoma da Universidade de Edimburgo e uma das cientistas de observação do VLT (e do JWST). “Uma hipótese é que o níquel possa estar contido em compostos químicos chamados carbonilos.” Essas moléculas são altamente voláteis, o que significa que podem explodir em gases e, talvez, levar alguns dos metais resistentes com elas para a coma. 

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    O cometa interestelar, originalmente chamado de A11pl3Z e agora conhecido como 3I/Atlas, foi relatado pela primeira vez pelo telescópio de pesquisa Asteroid Terrestrial-impact Last Alert System (Atlas) no Observatório El Sauce em Río Hurtado, Chile.

    Foto de Matt Dieterich

    As origens do 3I/ATLAS ainda não estão claras


    Os cometas tendem a ser antigos; os do nosso Sistema Solar são os restos gelados dos blocos de construção que outrora criaram (e hidrataram) os planetas há 4,6 bilhões de anos

    Mas, com base na trajetória do 3I/Atlas, alguns astrônomos suspeitam que ele tenha vindo de um aglomerado de estrelas com talvez 8 bilhões de anos de idade. “Pode ser um dos objetos mais antigos da galáxia”, explica Cordiner.

    Seu ferro e níquel também são produtos de supernovas, as mortes cataclísmicas de estrelas gigantes. Isso significa que o cometa contém indícios não apenas de seu território natal — o sistema planetário do qual ele escapou para chegar até nós —, mas também marcas das estrelas há muito perdidas que morreram para criar a estrela hospedeira no centro desse sistema distante.

    E ainda não podemos ter certeza do tamanho exato do cometa


    núcleo gelado do cometa está atualmente obscurecido por sua coma extravagante, então estimar seu tamanho ainda é complicado. O Telescópio Espacial Hubble fez uma tentativa, porém, e quando combinado com outras observações, os cientistas suspeitam que o núcleo não tenha mais de 5,6 Km de comprimento. Ele também pode ter apenas 440 metros de diâmetro.

    Seja qual for o seu tamanho, ele viajava a cerca de 220 mil km/h quando o Hubble o observou. Isso é rápido o suficiente para ir de Nova York a Pequim em três minutos. E ele continuará acelerando à medida que se aproxima do sol.

    (Conteúdo relacionado: A Terra pode ter sido criada mais rápido do que se pensava, diz nova pesquisa)

    Uma coisa é certa: não é uma nave espacial alienígena


    Tem havido alguns rumores (irresponsáveis) online especulando se o 3I/Atlas pode ser uma nave espacial alienígena explorando nosso Sistema Solar. A maioria deles foi gerada pelo controverso astrofísico Avi Loeb, da Universidade de Harvard, Estados Unidos, embora a discussão também tenha se espalhado pela cultura popular.

    “Ainda há muitas questões em aberto”, diz Thomas. “Mas posso afirmar com segurança que não, não é isso.” Não há nenhuma evidência que sugira que seja outra coisa além de uma bola de gelo em vaporização. “Se for uma nave alienígena, ela fez um ótimo trabalho se disfarçando como um cometa”, afirma Cordiner.

    Em determinado momento, sua cauda estava apontando para uma direção estranha. Por quê?


    cauda de um cometa se forma quando o Sol aquece e vaporiza seu gelo, lançando pedaços de poeira presa no Espaço. A luz solar pode empurrar suavemente estas minúsculas partículas de poeira para trás do cometa, e é por isso que normalmente se vê uma cauda de poeira apontando na direção oposta ao Sol. Mas, recentemente, o 3I/Atlas apresentou uma anti-cauda, apontando em direção ao Sol.

    Anti-caudas são rarasmas não inexplicáveis. Às vezes, os detritos lançados por um cometa voltado para o Sol são pesados demais para serem empurrados pela pressão da radiação solar e, em vez disso, caem em direção ao Sol. O fato de a cauda de um cometa poder mudar de direção não é, como alguns sugeriram, evidência da existência de propulsores de uma espaçonave.

    Houve alguma alteração incomum no objeto quando o comenta passou atrás do Sol?


    Durante a aproximação máxima do 3I/Atlas ao Sol, ele ficou oculto da nossa visão na Terra. Embora alguns tenham se perguntado se isso significava que se tratava de uma nave alienígena tentando se esconder dos astrônomos, vale ressaltar que era possível ver o objeto antes disso acontecer, assim como podemos vê-lo agora, após seu reaparecimento. 

    E é muito improvável que alienígenas estejam “brincando de esconde-esconde” com a humanidade.

    Os astrônomos estão ansiosos para ver como a aproximação do cometa à nossa estrela local o alterou. Pouco antes de sua aproximação máxima, o cometa ficou mais brilhante. Isso em si não é estranho, pois a exposição a mais luz solar vaporizaria mais de sua matéria gelada. 

    Então, depois que ele surgiu atrás do Sol, os astrônomos avistaram vários jatos de matéria saindo do 3I/Atlas. Eles são muito legais, mas ainda são apenas bolsões de gelo (neste caso, talvez monóxido de carbono) sendo vaporizados em pequenas explosões dramáticas.

    Este diagrama da Nasa mostra a trajetória do cometa interestelar 3I/ATLAS enquanto ele atravessa o Sistema ...

    Este diagrama da Nasa mostra a trajetória do cometa interestelar 3I/ATLAS enquanto ele atravessa o Sistema Solar. Ele fez sua maior aproximação do Sol em outubro de 2025.

    Foto de Nasa/JPL-Caltech

    Os cientistas verificaram se o 3I/ATLAS está emitindo algum sinal de rádio?


    Todos os tipos de objetos celestes emitem sinais de rádio, desde buracos negros e estrelas convulsas até auroras planetárias. Essas ondas de rádio viajam por uma ampla gama de frequências, o que as torna claramente naturais. Transmissões artificiais — como o rádio do seu carro — apareceriam como um conjunto coerente de ondas de rádio em uma faixa de frequência muito estreita.

    Notoriamente meticulosos, os astrônomos monitoram objetos curiosos que se movem pelo Espaço, caso eles emitam ondas de rádio semelhantes às tecnológicas. Nenhum dos dois objetos interestelares anteriores era. Nem o 3I/Atlas, como se descobriu.

    No final de outubro, os astrônomos apontaram o MeerKAT — um supertelescópio com 64 antenas na África do Sul que escuta ondas de rádio — para o 3I/Atlas. Como era de se esperar, eles captaram um sinal de rádio — embora fosse inteiramente produzido por processos naturais

    As ondas de rádio vinham essencialmente de um tipo de molécula que se forma comumente quando a água é decomposta pela luz solar e pela radiação cósmica. Elas não vinham da trilha sonora de uma viagem espacial de uma nave alienígena.

    Quando saberemos mais sobre o 3I/ATLAS?


    Muito sobre o 3I/Atlas permanece incerto. Embora não seja tão estranho quanto era o primeiro cometa interestelar conhecido, o 'Oumuamua — um veloz cometa gelado, furtivo e em forma de charuto —, só o tempo dirá se ele é comparável ao menos peculiar 2I/Borisov.

    “É importante ficar de olho nele e ver o que acontece a seguir”, comenta Cordiner. “Os cometas são cheios de surpresas.”

    Os cientistas continuarão a reunir mais pistas sobre o 3I/Atlas à medida que ele continua sua jornada pelo nosso Sistema Solar nas próximas semanas. Sua aproximação máxima da Terra ocorrerá em dezembro — quando ainda estará a 270 milhões de Km de distância.

    Após o encontro do cometa com o Sol, os astrônomos também estão observando atentamente para ver se ele se torna extremamente efervescente, revelando a química não apenas de sua coma, mas também de seu núcleo. Com base em dados telescópicos limitados e algumas estimativas rápidas sobre a perda de massa do 3I/Atlas, Loeb sugeriu que o cometa havia explodido

    Mas a comunidade astronômica afirma que essa conclusão é prematura — mesmo que alguns ainda esperem por alguma autodestruição espacial. “Precisamos que o cometa exploda”, afirma Jehin. “Dessa forma, poderemos obter mais coisas interessantes que irão emergir desse cometa.”

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