As 22 descobertas mais incríveis de 2022

Novas informações sobre o dia da extinção dos dinossauros, um misterioso dente humano primitivo e galáxias primordiais. Veja como este ano ampliou nossos conhecimentos sobre o cosmos e nosso próprio planeta.

Por National Geographic Staff
Publicado 29 de dez. de 2022, 12:08 BRT, Atualizado 12 de jan. de 2024, 09:40 BRT
Pesquisadores da Universidade de Yale recuperaram células cerebrais de porcos a um estado “quase vivo” horas ...

Pesquisadores da Universidade de Yale recuperaram células cerebrais de porcos a um estado “quase vivo” horas após a morte. Membro da equipe de pesquisa segura cérebro de porco ao lado de saco de hemoglobina supersaturada e um saco de uma solução azul, denominada OrganEx, que ajudou a retardar a morte celular.

Foto de Max Alguilera-Hellweg National Geographic

Todos os anos, pesquisadores de todo o mundo contribuem para a obtenção de novos conhecimentos para a humanidade. Paleontólogos e arqueólogos identificam vestígios do passado, revelando ecossistemas e civilizações perdidas no tempo. 

Astrônomos procuram explicar os mistérios de outros planetas, ao passo que biólogos e cientistas desvendam o funcionamento de nosso próprio mundo e a vida na Terra. Pesquisadores médicos estudam as complexidades do organismo humano e as doenças ameaçadoras, desenvolvendo novas ferramentas para proteger nossa espécie.

As revelações resultantes de nossa exploração e experimentação incessantes são, muitas vezes, inesperadas e extraordinárias. Confira algumas das descobertas mais notáveis do ano.

Fósseis espetaculares revelam floresta tropical pré-histórica

Rochas no sítio McGraths Flat, na Austrália, contêm um registro surpreendente da vida em uma antiga floresta tropical.

Foto de Michael Frese

Em janeiro de 2022, pesquisadores revelaram um local no sudeste da Austrália onde as rochas contêm um registro surpreendente da vida em uma antiga floresta tropical. Os fósseis encontrados no sítio McGraths Flat têm entre 11 milhões e 16 milhões de anos, representando alguns dos únicos ecossistemas de floresta tropical conhecidos datados da época do Mioceno. 

Criaturas pequenas e de corpo mole ficaram preservadas com detalhes extraordinários, incluindo aranhas fossilizadas até os pelos das patas e peixes com barrigas repletas de mosquitos. Os pesquisadores puderam discernir até mesmo poros em folhas fossilizadas que no passado absorviam dióxido de carbono. 

“Devido à qualidade da preservação, tivemos acesso a ecossistemas inéditos”, afirma Matthew McCurry, paleontólogo do Instituto de Pesquisa do Museu Australiano em Sydney e coautor principal de um estudo sobre a descoberta.

Sonda Perseverance explora a paisagem marciana

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    Sonda Perseverance, da Nasa, tirou esta selfie sobre uma rocha apelidada de “Rochette” depois de ter perfurado duas amostras de núcleo de rocha do tamanho de um giz. “Percy” está na superfície de Marte há um ano.

    Foto de Photograph composed of 57 images by NASA JPL-Caltech (272389), MSSS (272390)

    Neste ano, a mais nova sonda da Nasa em Marte prosseguiu sua busca por sinais de vida antiga na cratera Jezero – uma bacia de impacto de 45 quilômetros de largura que provavelmente já foi preenchida com água. A sonda detectou algumas características surpreendentes ao percorrer o fundo da cratera, como camadas roxas delgadas em algumas rochas que lembram uma espécie de revestimento de rocha formado na Terra por micróbios. 

    A sonda também vem fazendo progresso constante em sua amostragem de rochas, coletando 14 amostras que ficarão armazenadas em um depósito na superfície de Marte para que sejam coletadas por uma missão futura. Em setembro, a sonda embarcou na tão esperada exploração de um antigo delta de rio na borda da cratera. A Nasa e a Agência Espacial Europeia continuam desenvolvendo planos para buscar as amostras, o que exigirá diversas sondas espaciais, incluindo dois helicópteros.

    Naufrágio espanhol lendário descoberto na costa do Oregon, nos Estados Unidos

    Homens trabalham com os restos do galeão espanhol do século 17.

    Foto de Balazs Gardi, National Geographic

    Restos de um galeão espanhol do século 17 foram identificados na costa norte do Oregon, nos Estados Unidos. Provavelmente pertencem ao Santo Cristo de Burgos, navio que percorria das Filipinas para o México em 1693, quando saiu do curso e desapareceu.

    Conhecido como o “naufrágio da cera de abelha” devido aos blocos de cera transportados pela embarcação que ainda ocasionalmente chegam à costa, o galeão perdido faz parte do folclore da região há séculos. Os restos do casco do navio, entretanto, não haviam sido identificados até que pesquisadores analisaram madeiras encontradas em uma caverna marítima perto de Astoria, e revelaram que foram feitas de um tipo de madeira utilizada para construir navios na Ásia durante o século 17: uma correspondência perfeita com o desaparecido Santo Cristo de Burgos.

    Ressuscitando órgãos que morreriam

    Pela primeira vez na medicina, cientistas da Universidade de Yale preservaram a função de diversos órgãos suínos, incluindo cérebro, coração, fígado e rins, uma hora após a morte dos animais. A pesquisa um dia poderá contribuir para prolongar a viabilidade de órgãos humanos destinados a transplantes que salvam vidas, milhares dos quais são descartados anualmente pela impossibilidade de preservação imediata.

    Normalmente, para que sejam viáveis, os órgãos devem ser retirados logo após o coração parar de bombear sangue. Mas uma solução azul-safira denominada OrganEx, desenvolvida pelo neurocientista Nenad Sestan e sua equipe, permitiu a restauração das funções básicas dos órgãos muito depois que os tecidos receberam sangue fresco pela última vez. 

    Os pesquisadores induziram paradas cardíacas em porcos e deixaram os cadáveres em temperatura ambiente por uma hora antes de aplicar em seu sangue a infusão de OrganEx, que contém aminoácidos, vitaminas, metabólitos e 13 compostos adicionais. Por meio de uma máquina, o fluido foi circulado por seis horas, quando notaram sinais de recuperação nos órgãos que morreriam – as células cardíacas começaram a bater, as células do fígado absorveram a glicose do sangue e a reparação de DNA foi retomada.

    Ainda assim, Sestan pede cautela. “Podemos afirmar que o coração está batendo, mas serão necessários mais estudos para determinar até que ponto está batendo como um coração saudável.” Os próximos passos incluirão o transplante de órgãos tratados com OrganEx em porcos vivos para verificar seu funcionamento.

    Vulcão Tonga entra em erupção com intensidade surpreendente

    Uma erupção no vulcão subaquático Tonga-Hunga Ha'apai, em Tonga. Captura de tela obtida de um vídeo de mídia social. Vídeo gravado em 14 de janeiro de 2022.

    Foto de Tonga Geological Services Reuters (265831)

    Em janeiro, um vulcão submarino no Reino de Tonga, conhecido como Hunga Tonga-Hunga Ha’apai, entrou em erupção de maneira diferente de qualquer outra ocorrida nas últimas décadas. A explosão lançou uma onda de pressão que deu várias voltas ao redor do globo e causou enormes ondas de tsunami em praias próximas e distantes.

    Antes mesmo de a poeira vulcânica assentar, cientistas correram para coletar dados sobre as peculiaridades da erupção, na tentativa de compreender melhor o mecanismo responsável por tal explosão surpreendentemente potente e seus efeitos em cascata. “Até o momento, tudo que se sabe sobre essa erupção é extraordinário”, afirma Janine Krippner, vulcanóloga que atuava no Programa Global de Vulcanismo do Instituto Smithsoniano na ocasião do fenômeno.

    A erupção escavou cerca de 10 quilômetros cúbicos de rocha no fundo do mar, tornando-a a maior explosão vulcânica em um século. A explosão também desencadeou avalanches de cinzas quentes e escombros vulcânicos conhecidos como fluxos piroclásticos que avançaram ao longo do fundo do mar por pelo menos 80 quilômetros.

    Novas espécies de caracóis são as menores do mundo

    Conchas do menor caracol terrestre, Angustopila psammion, ao lado da ponta de uma caneta esferográfica.

    Foto de Barna Páll-Gergely

    Ao buscar animais no solo em duas regiões no sudeste da Ásia, cientistas identificaram novas espécies de caracóis, duas delas menores do que qualquer outra conhecida. Batizaram uma de Angustopila psammion, um nome apropriado, já que “psammion” significa, em grego, “grão de areia”. Essa espécie vive no interior de paredes de cavernas vietnamitas e tem apenas 0,6 milímetro de diâmetro. Centenas poderiam caber em uma única moeda.

    O outro caracol é um pouco maior e foi encontrado no solo de um desfiladeiro de calcário do Laos. Tem uma concha com projeções pontiagudas adornadas com bolinhas de lama, que provavelmente são pelotas fecais, razão pela qual foi batizado como A. coprologos, que significa, em grego, “coletor de esterco”.

    Relatório da ONU revela o impacto das mudanças climáticas sobre nossa saúde

    No deserto do oeste do Paquistão, uma mulher desmaia pelo calor. As mudanças climáticas tornaram as ondas de calor mais frequentes, mas os cientistas dizem que podemos tomar medidas para ajudar as pessoas a se adaptarem ao aquecimento global.

    Foto de Matthieu Paley Nat Geo Image Collection (269113)

    Durante décadas, cientistas alertaram sobre os riscos resultantes das mudanças climáticas. Mas parte dos perigos enfrentados já estão presentes, incluindo um impacto direto sobre a saúde humana, de acordo com um relatório histórico divulgado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU. 

    Até 2100, três quartos de todos os humanos na Terra poderiam ficar regularmente sujeitos a estresse extremo devido ao calor, segundo o relatório. Também há um risco aumentado de danos pulmonares devidos à poluição atmosférica e mais doenças transmitidas por insetos vetores que se alimentam de sangue, como mosquitos e carrapatos, à medida que se proliferam por novas regiões. Os autores do relatório enfatizam a necessidade de reduzir as emissões de forma rápida e acelerada e se adaptar a um mundo mais quente antes que as ameaças à saúde devidas ao clima se agravem ainda mais.

    Lince se alimentando de ovos de píton favorece equilíbrio do Parque Nacional Everglades

    Uma píton birmanesa no Everglades Holiday Park, em Fort Lauderdale, Flórida (EUA), em 25 de abril de 2019. Nativas do sudeste da Ásia, as pítons birmanesas se tornaram uma praga na Flórida. 

    Foto de Rhona Wise AFP (272159),Getty Images (271953)

    As pítons-birmanesas são uma praga no Parque Nacional Everglades, na Flórida, Estados Unidos, há décadas. Esses animais invasores são muito ecologicamente destrutivos, e um dos motivos é a falta de predadores nativos – ou assim pensavam os cientistas.

    Pela primeira vez, biólogos observaram uma espécie nativa, um lince, invadindo um ninho de píton e se alimentando de seus ovos. Mais tarde, quando o lince retornou e encontrou a cobra guardando o ninho, o felino deu o bote no réptil. 

    “Quando ocorrem interações como essa e animais silvestres nativos reagem, é um bom sinal para o planeta”, afirma Ian Bartoszek, ecologista da organização ambiental Conservancy of Southwest Florida. “Após 10 anos monitorando cobras, posso contar nos dedos o número de observações” de animais nativos enfrentando esses répteis. O confronto pode representar um passo para restaurar o equilíbrio ecológico no Parque Everglades, invadido por pítons.

    Novo telescópio espacial obtém a imagem mais distante do universo

    A primeira imagem de campo profundo tratada pelo Telescópio Espacial James Webb mostra galáxias ampliadas.

    Foto de Image by NASA ESA (272113), CSA (272278), STScI (272279)

    O Telescópio Espacial James Webb (JWST, na sigla em inglês) da Nasa, o instrumento infravermelho gigantesco atualmente estacionado a 1,6 milhão de quilômetros da Terra, passou metade de 2022 se preparando para registrar suas primeiras imagens. Em julho, essas imagens foram finalmente apresentadas, revelando uma visão detalhada sem precedentes do cosmos. 

    Uma imagem de galáxias distantes ampliada pela gravidade de outras galáxias à frente representa “a visão mais distante do universo já registrada”, afirma Thomas Zurbuchen, administrador associado da Nasa. Outras imagens impressionantes do JWST incluem uma visão icônica da Nebulosa Carina e uma foto impressionante dos anéis de Netuno. O telescópio deve realizar uma longa lista de observações, explorando tudo, como as galáxias mais antigas e atmosferas de exoplanetas distantes.

    Plataformas de gelo da Antártida se rompem inesperadamente

    A plataforma de gelo Thwaites na Antártida Ocidental é um prolongamento flutuante da geleira homônima, que flui para o mar. Cerca de dois terços da plataforma de gelo já se desfez. Em dezembro de 2021, os sensores viram sinais preocupantes de desintegração na parte restante. As plataformas de gelo retardam o fluxo de gelo da terra para o mar, mantendo o aumento do nível dos oceanos sob controle.

    Foto de Jim Yungel, Observatorio de la Tierra, NASA

    A Antártida Ocidental, a área triangular do continente que fica diretamente ao sul da Argentina, possui gelo suficiente para elevar o nível do mar em 3 metros. Parte desse gelo está fadado a derreter à medida que as mudanças climáticas aquecem o Polo Sul, mas os cientistas do clima ainda não sabem a quantidade que derreterá – nem o ritmo de degelo. 

    Contudo, no início deste ano, pesquisadores identificaram indícios sinistros de que um grande colapso poderia ser iminente. Uma grande plataforma de gelo – uma projeção de gelo flutuante no mar que impede a camada de gelo superior de deslizar para o oceano e derreter – rachou repentina e inesperadamente. A ruptura pode desencadear uma reação em cadeia destrutiva, fazendo com que a plataforma de gelo “se parta em centenas de icebergs, assim como uma janela de carro quebrada”, o primeiro passo para um grande colapso, observa a pesquisadora Erin Pettit.

    Dente antigo acrescenta informações sobre a história de misterioso parente humano

    O dente foi recém-descoberto no Laos, na Caverna da Cobra — uma cavidade estreita, embutida em uma ribanceira. Os cientistas acessam a caverna usando um sistema de cordas.

    Foto de Fabrice Demeter

    Todos os restos confirmados do denisovano, um misterioso parente dos neandertais, caberiam facilmente em um saco de sanduíche: alguns dentes, um osso do dedo mindinho, um fragmento de crânio e parte de uma mandíbula. Até recentemente, todos eram provenientes de apenas dois sítios arqueológicos: um na Sibéria e outro no Tibete. 

    Mas, em maio, cientistas anunciaram a descoberta de um provável molar denisovano em uma caverna no Laos, a milhares de quilômetros de todos os outros achados denisovanos. A descoberta revela o alcance incrivelmente variado do hominíneo e sua capacidade de sobreviver em uma variedade de climas. 

    “Isso me faz pensar em como eram semelhantes a nós”, afirma Laura Shackelford, autora do estudo e paleoantropóloga da Universidade de Illinois Urbana-Champaign, nos Estados Unidos. “Somos incrivelmente adaptáveis – é uma característica dos humanos modernos.”

    Enorme arraia bate recorde de maior peixe de água doce

    Uma arraia de água doce gigante de 300 kg, temporariamente removida da água para ser pesada, é o maior peixe de água doce já registrado. A população local e os pesquisadores trabalharam rapidamente para medi-la, frequentemente espirrando água no peixe antes de devolvê-lo ao rio.

    Foto de S. Ounboundisane FISHBIO

    Desde 2005, o explorador da National Geographic Zeb Hogan busca o maior peixe do mundo. Em meados de junho deste ano, uma equipe liderada por ele no Camboja recebeu uma ligação de um pescador chamado Moul Thun, que pescava no rio Mekong quando acidentalmente capturou uma arraia gigantesca de água doce “muito maior” do que qualquer outra que já havia visto.

    Ao chegar, os pesquisadores verificaram que a arraia fêmea media cerca de quatro metros, do focinho à cauda, e pesava 300 quilos, tornando-se o maior peixe de água doce já registrado, conforme certificado pelo Guinness World Records, em 24 de junho.

    Novas informações do impacto que extinguiu os dinossauros

    Esta ilustração mostra o impacto de um  asteroide semelhante ao evento ocorrido há cerca de 66 milhões de anos, que causou a extinção de três quartos das espécies da Terra. Outra cratera de impacto pode ter sido descoberta na costa da África Ocidental, em uma nova reviravolta dessa extinção.

    Arte de CLAUS LUNAU Science Source

    Há 66 milhões de anos, a trajetória da vida deu uma guinada repentina e violenta quando um asteroide de 10,5 quilômetros de largura caiu nas águas da Península de Yucatán, no México. O choque apocalíptico iniciou uma extinção em massa que exterminou mais de três quartos de todas as espécies, incluindo todos os dinossauros, exceto as aves, e deixou uma gigantesca cratera submarina conhecida como Chicxulub.

    Em fevereiro, pesquisadores que estudavam um conjunto de peixes fósseis mortos na explosão concluíram que o asteroide caiu durante a primavera no Hemisfério Norte. Em março, os cientistas forneceram outro vislumbre da devastação do asteroide: minutos após o impacto, rochas formadas nas temperaturas extremas caíram a mais de 1,6 mil quilômetros do centro da cratera. 

    E em agosto, os pesquisadores anunciaram que haviam encontrado sinais de outra possível cratera submarina na costa da África Ocidental, com aproximadamente a mesma idade de Chicxulub – uma possível evidência de que um fragmento do asteroide se partiu e se chocou com a Terra separadamente.

    Microplásticos encontrados no corpo humano

    Pequenas partículas de plástico como estas – os microplásticos – são adicionadas a alguns géis esfoliantes para a pele. A partir daí, chegam no meio ambiente e podem entrar em nossos corpos.

    Foto de Alexander Stein GETTY IMAGES, ULLSTEIN BILD GETTY IMAGES

    Fragmentos de plástico foram encontrados nas altitudes do Monte Everest e nas maiores profundezas do oceano – e agora, pela primeira vez, dentro do sangue e de pulmões humanos. Em bolsas de doação de sangue, pesquisadores encontraram nanoplásticos, com menos de um micrômetro de diâmetro, que podem ter sido inalados ou ingeridos.

    Também encontraram fibras plásticas de até dois milímetros nos pulmões de pacientes que passavam por cirurgias. Ainda não está claro como ou até mesmo se esses fragmentos plásticos podem prejudicar nossa saúde – mas “sim, é preocupante”, afirma o ecotoxicologista Dick Vethaak. “Não deveria haver plástico no sangue humano.”

    Erupção na Islândia marca o início de décadas de atividade vulcânica

    Após séculos de quietude, a Península de Reykjanes, na Islândia, entrou em erupção duas vezes em menos de um ano. A última erupção, que começou às 13h18, horário local, em 3 de agosto, abriu em uma fissura a apenas algumas centenas de metros de distância do cone criado pela explosão vulcânica do ano passado.

    Foto de Chris Burkard National Geographic

    Por quase 800 anos, os vulcões da península de Reykjanes, na Islândia, ficaram adormecidos. Mas despertaram em 2021, lançando lava durante seis meses – e, neste ano, começaram outras erupções ardentes. O vulcanismo nessa região apresenta ciclos intermitentes, e o segundo derramamento de lava em menos de um ano sugere que haver uma expectativa de décadas de atividade vulcânica na nação insular.

    Cada nova erupção é como um vislumbre do funcionamento do interior de nosso planeta, e cientistas já começaram a explorar as profundezas sob a Islândia, um dos poucos lugares no mundo onde parte da dorsal meso-oceânica fica acima do mar. Ao longo dessa fronteira, as placas tectônicas se afastam, fazendo com que fragmentos de manto quente emerjam e entrem em erupção na superfície. 

    A ilha também fica no topo de uma coluna de rocha escaldante propensa a provocar erupções. Ao estudar esses fenômenos, os pesquisadores esperam compreender melhor as forças que moldaram a paisagem do país.

    Novas evidências sugerem que aranhas podem sonhar

    Aranha-saltadora (Evarcha arcuata) em meio a flores. Aparentemente, esses aracnídeos podem ter sonhos visuais – e talvez até pesadelos.

    Foto de Stephen Dalton Minden Pictures

    Daniela Roessler, ecóloga da Universidade de Konstanz, na Alemanha, normalmente faz pesquisas de campo na Floresta Amazônica. Contudo, durante os bloqueios do coronavírus em 2020, voltou sua atenção para as aranhas-saltadoras presentes em um campo perto de sua casa em Trier, na Alemanha. Ela notou que, algumas vezes, quando os pequenos aracnídeos cochilam dependurados por um fio de seda e com as pernas curvadas, ocasionalmente dão sacudidas como se estivessem sonhando.

    “A maneira como se contraem me lembrou de cachorros e gatos sonhando”, conta Roessler. Então, ela montou um laboratório para observá-las, e o estudo resultante publicado neste ano revela que aranhas-saltadoras passam por um estado semelhante ao sono com movimentos rápidos de olhos,  observados em humanos durante o sono.

    Descoberto fóssil de dinossauro mais antigo da África

    Em um laboratório de paleontologia na Virginia Tech, Christopher Griffin segura um dos pequenos, porém robustos ossos do quadril do Mbiresaurus sobre bandejas contendo o esqueleto do dinossauro.

    Foto de Murphy Allen

    Em agosto, uma equipe de pesquisa financiada pela National Geographic Society revelou um fóssil notável: o mais antigo dinossauro definitivo descoberto na África. A criatura antiga, conhecida como Mbiresaurus raathi, viveu há cerca de 230 milhões de anos durante o período Triássico, e foi encontrada dentro de rochas no Zimbábue conhecidas como Formação Pebbly Arkose. 

    Embora o Mbiresaurus seja um dos primeiros ancestrais conhecidos dos saurópodes, o grupo que inclui os icônicos gigantes de pescoço longo como o Brontosaurus, ele próprio não era gigantesco. Especialistas estimam que o animal teria cerca de meio metro de altura no quadril, revelando o humilde início evolutivo de um grupo de animais que posteriormente incluiria as maiores criaturas terrestres.

    Microbioma humano sintético desenvolvido do zero

    Pesquisadores da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, revelaram um microbioma sintético complexo desenvolvido por eles do zero. Quando transplantadas para camundongos livres de micro-organismos, as 119 espécies de bactérias, todas encontradas no intestino humano, permaneceram estáveis e até resistiram a patógenos.

    O conhecimento dos cientistas sobre a microbiota intestinal resulta principalmente do transplante de toda a comunidade microbiana de fezes humanas para animais ou outros humanos. Mas não há ferramentas para manipular as espécies em amostras de fezes, cada uma contendo centenas, senão milhares de espécies microbianas que variam amplamente entre os indivíduos.

    O novo microbioma sintético é amplamente representativo da microbiota intestinal humana, de acordo com a equipe de Stanford. E os cientistas podem modificar essa comunidade microbiana adicionando ou removendo espécies para entender seus efeitos sobre a saúde humana – um processo complexo que pode resultar em novos tratamentos médicos. Outras versões do microbioma sintético poderão ser desenvolvidas à medida que outros pesquisadores ajustarem essa colônia, adicionando ou eliminando espécies para estudar diferentes distúrbios e desenvolver novas terapias.

    “Planta milagrosa” é possivelmente redescoberta

    O professor Mahmud Miski mostra um punhado de ferula drudeana perto do Monte Hasan, no centro da Turquia. Letrado em medicina vegetal, ele acredita que a espécie seja o sílfio, amada pelos antigos gregos e romanos e considerada extinta.

    Foto de Alice Zoo National Geographic

    A planta valia literalmente seu peso em ouro e era armazenada ao lado de metais preciosos no tesouro imperial da Roma antiga. Sílfio, uma planta cuja flor se acredita ter propriedades medicinais e ter sido utilizada na culinária por seu sabor, era tão popular no antigo mundo mediterrâneo que provavelmente foi consumida até a extinção há quase dois mil anos. Ou será que não foi?

    Mahmut Miski, professor de farmacognosia (o estudo de medicamentos derivados de fontes naturais) na Universidade de Istambul, na Turquia, acredita que redescobriu a planta histórica em um pequeno recinto de pedra no interior da Turquia. E embora sua propagação e aparência sejam condizentes com as descrições antigas da planta, o verdadeiro teste foi quando a planta moderna foi utilizada como ingrediente em receitas antigas que incluíam sílfio, resultando em sabores agradáveis que podem ter de fato encantado os romanos. “Encontrar o sílfio original e experimentar receitas antigas contendo essa planta é incrível”, afirma Sally Grainger, especialista em culinária antiga.

    Três novas espécies de cobras descobertas em cemitérios

    Nova espécie Atractus michaelsabini foi encontrada escondida ao lado de uma igreja na cidade andina de Guanazán, Equador.

    Foto de Amanda Quezada

    Em novembro de 2021, o biólogo Alejandro Arteaga e seus colegas viajaram pelas florestas nubladas do Equador em busca de sapos. Eles pararam em uma pequena cidade e foram recebidos por uma mulher simpática, que lhes contou ter visto cobras incomuns rastejando em um cemitério.

    Os pesquisadores, intrigados com o relato, vasculharam o local e identificaram três novas espécies de cobras coloridas – duas no solo macio do cemitério na encosta e uma terceira nas proximidades. Todas as três espécies, descritas em um artigo científico neste ano, são cobras terrestres do gênero Atractus, um grupo arisco de cobras com hábitos subterrâneos que permanece pouco compreendido. 

    Os biólogos planejam batizar as novas espécies da seguinte forma: A. discovery, que tem olhos bastante pequenos e ventre amarelo com uma linha preta; A. zgap, que tem o ventre amarelo, mas sem linha; e A. michaelsabini, que é “a mais gordinha de todas”, segundo Arteaga.

    Impressionante arte antiga encontrada em sítio arqueológico atacado pelo Estado Islâmico

    Trabalhador iraquiano escava um relevo esculpido em rocha recentemente encontrada no Portão Mashki, um dos portões monumentais da antiga cidade assíria de Nínive, nos arredores do que hoje é a cidade de Mosul, no norte do Iraque, em 19 de outubro de 2022.

    Foto de Zaid Al-Obeidi, AFP, Getty

    Arqueólogos que escavavam ruínas de um antigo portão palaciano destruído pelo Estado Islâmico descobriram obras de arte impressionantes atrás de uma porta lacrada que havia sido aberta pela última vez cerca de 2,6 mil anos atrás. Uma equipe iraquiana-americana encontrou sete painéis de pedra esculpida que datam de aproximadamente 700 a.C. 

    Acredita-se que sejam originalmente do Palácio Sudoeste da antiga cidade de Nínive, perto da atual Mosul, no norte do Iraque. Os painéis provavelmente retratam as campanhas militares do rei assírio Senaqueribe. Painéis semelhantes do palácio são considerados um ponto de virada na história da arte e são um destaque dos acervos do Museu Britânico.

    “O local está repleto de antiguidades”, conta Zainab Bahrani, da Universidade de Columbia. “Está repleto de sítios arqueológicos. E não há como apagar toda essa história.”

    Desvendando a “matéria escura” do universo das proteínas

    Neste ano, grandes empresas de tecnologia fizeram avanços importantes na revelação dos elementos constitutivos da vida. A Meta, empresa do Facebook, e a DeepMind, subsidiária da Alphabet, empresa do Google, lançaram bancos de dados de centenas de milhões de estruturas proteicas – muitas delas desconhecidas pela ciência. As empresas usaram inteligência artificial para prever as formas dessas proteínas, uma ferramenta que pode ajudar cientistas a entenderem suas funções e auxiliar no desenvolvimento de novos medicamentos.

    Os pesquisadores lançaram nos modelos sequências de proteínas conhecidas para que os sistemas de inteligência artificial pudessem aprender padrões e gerar estruturas tridimensionais precisas. A Meta também usou modelos para preencher os espaços em branco nas sequências de proteínas onde faltavam unidades de aminoácidos antes de prever suas estruturas.

    Em apenas duas semanas, o sistema da Meta previu as estruturas de mais de 600 milhões de proteínas de vírus, bactérias e outros micróbios. Os dados das proteínas estão disponíveis ao público por meio do Atlas de Metagenômica ESM da Meta. Além disso, a DeepMind previu uma estrutura de cerca de 220 milhões de proteínas encontradas em cerca de um milhão de espécies diferentes, incluindo plantas, animais, fungos e bactérias.

    Michael Greshko, Maya Wei-Haas, Priyanka Runwal, Kristin Romey, Alejandra Borunda, Douglas Main e Jay Bennett contribuíram com esta matéria.

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