A tripulação da Artemis 2 poderá ver partes da Lua que os humanos nunca viram antes; ...

De volta à Lua após mais de 50 anos: astronautas da Nasa irão ao satélite da Terra em 2026

A missão tripulada Artemis 2 da Nasa poderá ocorrer já em fevereiro de 2026. Um astronauta conta à National Geographic mais detalhes sobre o voo que irá levar humanos novamente à Lua.

A tripulação da Artemis 2 poderá ver partes da Lua que os humanos nunca viram antes; até 60% da vista do lado oculto da Lua poderá ser única.

Foto de Babak Tafreshi, Nat Geo Image Collection
Por Swapna Krishna
Publicado 26 de set. de 2025, 14:53 BRT

Estamos a 66.700 km da Lua”, diz o astronauta Reid Wiseman, comandante da Artemis 2, a próxima missão da Nasa de retorno à Lua. Há muita pressão sobre Wiseman e seus colegas astronautas. Eles estão preparando o terreno para uma iniciativa de uma missão que levará astronautas à superfície lunar pela primeira vez em mais de 50 anos.

Mas não há tensão na voz de Wiseman neste momento. Ele está relaxado e confortável, vestindo uma camisa azul de mangas compridas com a palavra “Artemis” estampada na frente. À sua frente, há uma série de telas de vidro, cercadas por interruptores e luzes que mostram o status da espaçonave Orion, que levará Wiseman e outros três astronautas em uma viagem ao redor da Lua.

Há cinco janelas no módulo de comando da cápsula Orion — a Apollo tinha o mesmo número. Olhando através delas, Wiseman não vê o vasto vazio do espaço, nem vislumbres da Terra ou da Lua. Em vez disso, ele vê uma visão simulada de um campo de estrelas. Wiseman está em uma das muitas maquetes da cápsula Orion, praticando uma parte da missão, tentando entender o que enfrentará quando a Artemis 2 for lançada no próximo ano.

Quatro astronautas — o comandante Wiseman, o piloto Victor Glover e os especialistas de missão Christina Koch e Jeremy Hansen, da Agência Espacial Canadense — treinaram todos os aspectos desta missão desde que foram anunciados como tripulantes em maio de 2023

Eles começaram oficialmente o treinamento um mês depois. Desde então, aprenderam a operar os trajes espaciais que poderiam mantê-los vivos por até 144 horas em caso de perda de atmosfera na cápsula.

Eles realizaram inúmeras simulações para entender tudo o que poderia dar errado, desde falhas no motor até um banheiro quebrado. Certa vez, durante uma simulação de 30 horas, Glover optou por dormir no simulador da cápsula Orion em vez de ir para os aposentos da tripulação com os outros três astronautas. “Este veículo, o sistema de suporte de vida, tem um som parecido com batimentos cardíacos”, disse Glover à National Geographic. Ele queria experimentar como era dormir naquele ambiente.

Em 2022, a missão Artemis 1 colocou à prova o Sistema de Lançamento Espacial (SLS) da ...

Em 2022, a missão Artemis 1 colocou à prova o Sistema de Lançamento Espacial (SLS) da Nasa e a cápsula da tripulação Orion. Aqui, ela está no edifício de montagem de veículos no Centro Espacial Kennedy, na Flórida, Estados Unidos.

Foto de Dan Winters, Nat Geo Image Collection

Em 2022, a Artemis 1 testou os sistemas terrestres, o foguete e a espaçonave sem tripulação. E agora, a Artemis 2 está pronta para enviar humanos ao redor da Lua. Essa tripulação viajará mais longe do que qualquer ser humano já viajou antes.

E agora, está quase chegando. A data oficial de lançamento é abril de 2026 (ainda não foi escolhido um dia específico), embora a Nasa esteja trabalhando discretamente para que seja já em 5 de fevereiro. A missão será lançada no Space Launch System (SLS), um megafoguete da Nasa projetado especificamente para o programa Artemis, que levará os astronautas à órbita da Terra. 

Após a separação do foguete, o motor principal da Orion colocará a espaçonave em uma longa trajetória ao redor da Lua. Com duração prevista de quase 10 dias, a Artemis 2 não pousará na Lua. Essa façanha está reservada para a Artemis 3, atualmente prevista para meados de 2027.

A cada dia que passa, tudo parece mais real, com mais chances de realizarmos a missão com as pessoas com quem estaremos”, afirma Koch em uma coletiva de imprensa no início de agosto.

À medida que a data de lançamento se aproxima, Glover diz à National Geographic que está totalmente focado na missão Artemis. “Para mim, os sentimentos podem ser uma distração”, comenta Glover quando questionado sobre o quanto está animado. “Faça-me essa pergunta novamente quando terminarmos a missão e eu lhe darei todas as respostas emocionantes.”

Mas por que a Artemis 2 é tão importante, apesar de não incluir um pouso lunar? Simples: ela dará início a uma era totalmente nova de exploração humana do Cosmos.

O objetivo do programa Apollo era levar humanos à superfície lunar. Ele não foi projetado para nos manter lá. “Diferentemente do Apollo, desta vez, quando formos à Lua, queremos ficar”, revela Lori Glaze, administradora associada interina da Diretoria de Missões de Desenvolvimento de Sistemas de Exploração da Nasa. 

Queremos ter uma presença sustentável na Lua. Queremos poder voltar várias vezes ao longo dos anos, para realmente aprender a viver e trabalhar nesse ambiente que está um pouco mais distante da Terra.” A Artemis 2 é o próximo passo.

(Você pode se interessar: Descoberta pela Nasa a melhor evidência da existência de vida antiga em Marte – até agora)

Artemis 1 e 2 são voos de teste para um novo capítulo da exploração humana no Espaço


A missão Artemis irmã de Apolo na mitologia grega – levou décadas para ser desenvolvida. Suas sementes foram plantadas em 2004 com o que era então chamado de programa Constellation. Foi quando começou o desenvolvimento do Orion e do SLS, em um esforço para retornar à Lua

Constellation acabou sendo cancelado em 2011. Mas o trabalho no SLS e no Orion não foi totalmente descartado. Quando Artemis foi anunciado em 2017 como parte do programa Moon to Mars (“da Lua a Marte”, em português) da Nasa, eles foram reaproveitados.

primeira missão do programaArtemis 1, decolou em 16 de novembro de 2022. O voo não tripulado para testar o equipamento foi, no geral, um sucesso. Desde os primeiros momentos estrondosos da decolagem até a separação de seu segundo estágio da cápsula Orion na órbita da Terra, o SLS atendeu ou superou todas as expectativas da Nasa.

O Orion foi uma história diferente; surgiu um problema inesperado com o escudo térmico da cápsula.

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    A cápsula Orion da missão Artemis 1 segue em direção ao porta-aviões USS Portland após ter sido recuperada com sucesso pelas equipes da Nasa e da Marinha dos Estados Unidos na costa da Baja Califórnia, no México, em 11 de dezembro de 2022.

    Foto de Caroline Brehman, Pool, AFP, Getty Images

    Orion é uma cápsula em forma de cone que vira sua extremidade romba para a atmosfera terrestre durante a reentrada. Lá está o escudo térmico, feito de um material chamado Avcoat. Ele foi projetado para se separar da espaçonave. Ele literalmente leva consigo o calor da reentrada na Terra à medida que derrete, protegendo a nave e a tripulação dentro dela de temperaturas extremas.

    Pelo menos, é assim que um escudo térmico ablativo deve funcionar. Mas, após a Artemis 1, os engenheiros perceberam que, em vez de sofrer uma ablação suave, o escudo térmico estava carbonizado e tinha se desprendido em pedaços. Havia até alguns buracos nele.

    Essa descoberta levou diretamente ao adiamento do lançamento da Artemis 2, que antes estava previsto para setembro de 2025. “Sempre que se fala em fogo, ou se fala em entrada e escudos térmicosfala-se em paraquedas, são coisas de alto risco que não têm tolerância a falhas”, disse Glover em uma coletiva de imprensa em agosto. “Eles têm que funcionar.”

    Para ter certeza: se os astronautas estivessem a bordo da Orion na Artemis 1, eles estariam absolutamente bem. Eles nem teriam notado um aumento na temperatura da cabine. Mas, devido ao histórico da Nasa com os desastres do Challenger e do Columbia, a cultura de segurança da agência exigiu que os pesquisadores entendessem a causa raiz.

    Nasa finalmente resolveu o problema após vários meses de testes práticos com o material Avcoat, estudando-o em túneis de vento hipersônicos e instalações de aquecimento.

    Em resumo, o material ablativo do escudo térmico era muito impermeável, o que levou ao aumento da pressão interna durante a trajetória de reentrada única da Artemis 1. A “reentrada por salto” é um processo que envolve entrar na atmosferasair dela e depois reentrar, como uma pedra saltando na superfície de um lago. 

    Artemis 1 foi a primeira missão que tentou essa manobra; seu principal benefício é a capacidade de reduzir a enorme velocidade envolvida no retorno da Lua à Terra. Ela também permite que a Orion viaje mais longe depois de entrar na atmosfera terrestre, o que facilita atingir um alvo preciso de amerissagem. Entre os saltos atmosféricos, os gases se acumularam dentro do material Avcoat, o que levou à rachadura do escudo térmico.

    O comandante da Artemis 2, Reid Wiseman, senta-se dentro de uma maquete da nave espacial durante ...
    A especialista de missão Christina Koch sai da maquete da nave espacial Orion durante um treinamento.
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    O comandante da Artemis 2, Reid Wiseman, senta-se dentro de uma maquete da nave espacial durante um treinamento em Houston, Texas.

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    A especialista de missão Christina Koch sai da maquete da nave espacial Orion durante um treinamento.

    fotos de Mark Sowa, NASA, JSC
    O especialista de missão Jeremy Hansen, da Agência Espacial Canadense, senta-se em um barco após praticar ...
    O piloto da Artemis 2, Victor Glover, senta-se dentro de uma maquete da nave espacial Orion ...
    À esquerda: No alto:

    O especialista de missão Jeremy Hansen, da Agência Espacial Canadense, senta-se em um barco após praticar procedimentos de recuperação.

    Foto de Isaac Watson, NASA
    À direita: Acima:

    O piloto da Artemis 2, Victor Glover, senta-se dentro de uma maquete da nave espacial Orion durante o treinamento de pós-inserção e preparação para a saída de órbita.

    Foto de Mark Sowa, NASA, JSC

    Após todos os testes, a Nasa determinou que a Artemis 2 estava segura para voar com seu escudo térmico atual, mas decidiu usar uma trajetória “loft” modificada em vez de pular a entrada. O gerente do programa Orion, Howard Hu, diz que agora está “absolutamente” confiante de que o escudo térmico da Artemis 2 funcionará como esperado devido à redução do estresse e do calor da reentrada.

    Mas os engenheiros também tiveram que resolver outros problemas. Os testes da Artemis 2 revelaram que algumas das baterias da cápsula Orion não seriam capazes de lidar com um cenário de abortagem. E houve falhas em alguns dos circuitos das válvulas da cápsula, que precisaram ser substituídos.

    Essas questões destacam por que as missões Artemis 1 e 2 são tão importantes: elas existem para resolver problemas que possam surgir durante um futuro pouso na Lua.

    São voos de teste”, afirma Glaze. “Acho que é muito importante que as pessoas entendam que nossos primeiros voos estão realmente testando e comprovando os sistemas de que precisamos para pousar nossa tripulação na Lua e, finalmente, em Marte.

    Entender o impacto das viagens espaciais nos astronautas da Artemis será fundamental para uma futura missão a Marte


    Não sabemos exatamente quando a Artemis 2 será lançada, mas seguramente em 2026. Um voo como esse depende muito de tudo correr exatamente como esperado — desde a saúde da tripulação da Artemis 2 até o desempenho do hardware e software, passando pelas condições meteorológicas. Ela pode decolar durante as horas claras da manhã ou, talvez como a Artemis 1, rasgar os céus durante a escuridão da noite.

    Mas o que acontecerá depois já está definido: após a decolagem bem-sucedida da plataforma 39B no Centro Espacial Kennedy, na Flórida (Estados Unidos), o primeiro estágio do enorme foguete SLS se separará da espaçonave. A Orion orbitará a Terra duas vezes, primeiro em uma órbita mais baixa de 90 minutos e, em seguida, passará para uma órbita mais alta, momento em que descartará o segundo estágio do foguete SLS.

    Por quase 24 horas, o Controle da Missão e a tripulação verificarão os sistemas da Orion e garantirão que tudo esteja funcionando conforme o esperado — desde o suporte de vida até os testes de comunicação. Depois que isso for concluído, os astronautas realizarão uma queima do motor principal no módulo de serviço da Orion para colocar a espaçonave em uma trajetória de slingshot ao redor da Lua.

    Artemis 2 levará aproximadamente quatro dias para chegar à Lua e outros quatro dias para retornar à Terra. Durante esse tempo, os astronautas continuarão avaliando os sistemas da espaçonave e praticando procedimentos de emergência.

    Seus corpos também serão testados para entender melhor os impactos da exploração espacial sobre eles. “Consideramos o ser humano um dos sistemas do veículo”, explica Steven Platts, cientista-chefe do Programa de Pesquisa Humana, que visa proteger a saúde dos astronautas no Espaço

    “A máquina mais complexa que participa da missão é o ser humano. E precisamos entender esse sistema tão bem quanto entendemos qualquer outro sistema.”

    Os voos espaciais podem afetar a saúde humana de inúmeras maneiras. A coordenação motora, a orientação espacial, a visão, a densidade óssea e a massa muscular podem diminuir. Os ritmos circadianos podem ser interrompidos, e os efeitos psicológicos de viver em um ambiente pequeno e isolado cobram seu preço.

    Exterior da cápsula de treinamento fotografado no Edifício 9 do Centro Espacial Johnson, em Houston, Texas, ...
    A cápsula de treinamento Artemis no Centro Espacial Johnson, em Houston, Texas, vista de dentro (esquerda).
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    Exterior da cápsula de treinamento fotografado no Edifício 9 do Centro Espacial Johnson, em Houston, Texas, 2023.

    À direita: Acima:

    A cápsula de treinamento Artemis no Centro Espacial Johnson, em Houston, Texas, vista de dentro (esquerda).

    fotos de Dan Winters, Nat Geo Image Collection

    cápsula Orion tem apenas cerca de 9,34 m³ de espaço habitável. É muito pequeno: aproximadamente o espaço de carga de uma van sprinter, e vai abrigar quatro astronautas que terão que viver, trabalhar e dormir lá por quase 10 dias. Isso por si só já é um experimento científico: como esses astronautas vão lidar com esse espaço tão reduzido?

    “Temos três experimentos diferentes a bordo dos quais os astronautas participarão”, comenta Platts. “Todos os quatro astronautas se inscreveram para fazer os três experimentos”, continua Platts. “Todas as pesquisas com seres humanos são totalmente voluntárias.”

    Um deles é uma série de pesquisas para determinar o bem-estar psicológico e os padrões de sono nesse ambiente confinado. É uma preocupação constante nas viagens espaciais, mas como a Artemis 2 é a primeira viagem que os astronautas farão fora da órbita da Terra desde 1972, esses dados de referência são extremamente importantes. 

    A Nasa vem realizando simulações em ambientes fechados aqui na Terra há anos, pois há muito se interessa pelas implicações psicológicas das viagens espaciais de longa distância, mas a Artemis 2 é uma oportunidade de ouro para obter esses dados no espaço.

    Dois outros experimentos avaliarão como o espaço altera a fisiologia dos astronautas. Os cientistas coletarão amostras de sangue e saliva úmida antes e depois da missão para examinar biomarcadores e hormônios. Durante o voo, os astronautas coletarão amostras de saliva seca, o que envolve o uso de um papel absorvente especial armazenado em um pequeno livreto. Os cientistas podem reidratar as amostras da missão e compará-las com as amostras pré e pós-missão.

    A tripulação também realizará uma pista de obstáculos antes e depois do voo para avaliar as perturbações no controle de equilíbrio dos astronautas após um período prolongado em um ambiente de microgravidade, testando tudo, desde a coordenação motora até a perda de estabilidade. Platts está especialmente animado com isso; será a primeira vez que o experimento será realizado com astronautas que viajaram para fora da órbita da Terra.

    “A pista de obstáculos ajudará a simular como seria quando a tripulação tivesse que sair de um veículo”, explica ele. “Isso é uma antecipação das futuras missões lunares e até mesmo das missões a Marte, quando eles terão que sair do veículo por conta própria, sem a ajuda de toda essa equipe de solo que temos aqui na Terra.” 

    Uma das questões que Platts está analisando especificamente são as mudanças físicas à medida que os astronautas passam da gravidade da Terra para a microgravidade no Espaço e, em seguida, para a Lua, que tem um sexto da gravidade da Terra. A Nasa sabe o que acontece durante essa primeira transição, graças à sua vasta experiência em órbita baixa da Terra. Mas essas pistas de obstáculos fornecerão uma base para o que virá a seguir.

    No máximo, os astronautas da Artemis 2 viajarão entre 5 mil e 9 mil milhas náuticas além do lado oculto da Lua (o número real depende da data de lançamento), circundando-a em uma trajetória em forma de oito em um retorno livre.

    Essa distância é importante — lá fora, os astronautas não estão tão protegidos da radiação pelo campo magnético da Terra. A exposição à radiação pode aumentar o risco de câncer e outras doenças degenerativas. Isso pode não ser um problema para voos curtos, como o Artemis 2, mas os riscos aumentarão no futuro, à medida que as missões à Lua, ou mesmo a Marte, se tornarem mais longas. 

    Um técnico trabalha no hardware de aviónica de um SLS no Centro Espacial Marshall, em Huntsville, ...

    Um técnico trabalha no hardware de aviónica de um SLS no Centro Espacial Marshall, em Huntsville, Alabama, Estados Unidos.

    Foto de Dan Winters, Nat Geo Image Collection

    “A Artemis 2 nos permitirá obter alguns dos primeiros dados biológicos humanos sobre a radiação do Espaço profundo”, explica Lisa Carnell, diretora da Divisão de Ciências Biológicas e Físicas da Nasa. “É a primeira vez que é possível obter dados sobre indivíduos saudáveis e realmente compreender o que acontece em um ambiente de radiação.”

    Além dos astronautas, a Nasa também está equipando a Artemis 2 com Avatars (A Virtual Astronaut Tissue Analog Response, ou Resposta Analógica de Tecido Astronáutico Virtual), chips de tecido humano 3D especialmente fabricados do tamanho de um pen drive. “É uma mini réplica de um órgão humano”, diz Carnell.

    Esses chips de tecido humano contêm culturas celulares que são cultivadas especialmente para modelar a estrutura e a função de partes específicas dos órgãos humanos. Eles podem bater como um coração ou respirar como pulmões. “E vamos enviá-los com a tripulação para ver o que acontece no ambiente de radiação”, explica Carnell. Especificamente, a Artemis 2 voará com Avatars de medula óssea, que é extremamente sensível à exposição à radiação.

    Depois de entender como um astronauta individual responderá aos rigores das viagens espaciais, no futuro Carnell e sua equipe poderão criar o que ela chama de “kit médico personalizado” para cada astronauta, a fim de ajudá-los a neutralizar os efeitos da radiação.

    Essa é apenas uma das maneiras pelas quais a Artemis 2 abrirá caminho para a exploração de Marte.

    O que os seres humanos podem fazer que as câmeras não conseguem? O olho para a cor lunar


    Mas qual é o grande destaque da Artemis 2Observar a superfície lunar, é claro. A tripulação poderá ver partes da Lua que os humanos nunca viram antes; até 60% da vista do lado oculto pode ser única, afirma Wiseman. Em comparação com as missões Apollo, esta tripulação também terá uma visão mais ampla da Lua, pois sua órbita será muito mais alta.

    No entanto, eles também terão apenas três horas para fazer observações lunares. Mas a líder científica lunar da Artemis 2Kelsey Evans Young, e seu colega cientista Noah Petro estão reunindo o máximo possível de observações científicas nesse breve período.

    Petro trabalhou no Lunar Reconnaissance Orbiter (LRO), além de sua função na equipe científica da Artemis. Lançado em 2009, o LRO vem captando imagens da superfície da Lua há mais de uma década, mapeando toda a sua superfície. Mas, mesmo assim, ele diz que ter olhos humanos observando a Lua de perto pode nos dar importantes insights científicos

    O olho humano consegue perceber variações sutis de cor e textura que não são necessariamente visíveis na câmera, e é exatamente isso que Petro espera que os astronautas observem. “Cada astronauta percebe a Lua de maneira diferente. Cada olho humano é diferente”, diz Petro. “Temos quatro tripulantes na Artemis 2. Cada um deles pode detectar as cores de maneira diferente.”

    Os cientistas não esperam que os astronautas da Artemis 2 façam grandes descobertas. Em vez disso, eles esperam usar os insights sobre como os astronautas percebem as cores na Lua para ajudar a orientar futuros exploradores

    “Ao levar olhos humanos bem treinados à Lua... Temos a oportunidade de ver coisas que não percebemos”, afirma Petro. “Nenhum cientista planetário deve pensar que temos uma compreensão completa e robusta de qualquer superfície planetária só porque a mapeamos [roboticamente]. Temos os dados, mas cabe aos humanos interpretá-los.”

    A Artemis 1 na plataforma de lançamento do Centro Espacial Kennedy em setembro de 2022. Os ...

    A Artemis 1 na plataforma de lançamento do Centro Espacial Kennedy em setembro de 2022. Os astronautas da Artemis 2 voarão em um foguete semelhante.
     

    Foto de Dan Winters, Nat Geo Image Collection

    Por que estamos voltando à Lua? Para compreender a nós mesmos e ao universo


    Em 1968, a Apollo 8 teve uma finalidade semelhante à da Artemis 2. Foi um voo de teste para a eventual aterrissagem da Apollo 11. Os seus astronautas foram os primeiros seres humanos a orbitar a Lua. Jim Lovell, o piloto dessa missão e último membro sobrevivente da tripulação, faleceu recentemente em agosto. 

    À medida que a data de lançamento da Artemis 2 se aproxima, Petro tem refletido sobre o legado dessa missão e sobre o quanto aprendemos desde então.

    Apollo 8 nos ensinou como enviar humanos à Lua e trazê-los de volta em segurança. Lovell, Frank Borman e William Anders foram os primeiros humanos a ver o lado oculto da Lua. Ao descrever o que viram, esses astronautas prepararam o terreno para os pousos lunares que viriam. Essa missão também nos trouxe a famosa imagem do nascer da Terra, com o planeta azul surgindo acima da superfície lunar cinzenta e sem vida, dando-nos uma perspectiva totalmente nova de nosso lugar no Universo.

    Ainda há muitas perguntas sem resposta sobre a Lua. As mais profundas são aquelas relacionadas à nossa história cósmica. A superfície da Lua é imutável, o que significa que, ao explorá-la, os cientistas podem começar a entender como era o nosso planeta bilhões de anos atrás.

    Mas não se trata apenas de história. Os cientistas querem saber se as crateras polares sombreadas da Lua realmente contêm água gelada. Ou se os tubos de lava lunares são bons locais para construir assentamentos subterrâneos, protegidos da radiação. Há inúmeras perguntas sobre o solo lunar, chamado regolito: é possível extrair recursos vitais dele? Ele pode ser usado para construir um posto avançado sustentável? A Nasa quer, em última análise, aprender como os seres humanos podem sobreviver e até mesmo prosperar no Espaço Sideral. E a Lua é uma professora.

    “À medida que sabemos mais, nossas perguntas aumentam, mas nossa ignorância também aumenta”, comenta Petro. “Temos tantas suposições que sabemos que serão provadas erradas. E é por isso que vamos, certo? Se soubéssemos tudo sobre a Lua, não teríamos interesse em voltar.”

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